Empresária do PR investigada por áudios com declarações homofóbicas reconhece mensagens
A empresária Rosangela Silva Pinto, que está sendo investigada pela Polícia Civil (PC-PR) por enviar áudios em que diz se recusar a contratar homossexuais, prestou depoimento nesta segunda-feira (18), na delegacia de Marialva, no norte do Paraná.
Segundo o delegado Aldair de Oliveira, ela confirmou que enviou as mensagens, mas alegou que a exigência tinha sido feita por um cliente. O advogado dela, Augusto Braga, afirma que os áudios foram enviados em conversas privadas.
“Ela reconhece os áudios que ela encaminhou em uma conversa privada, para uma colega também técnica em enfermagem. Contudo, ela respondeu ao delegado que não é responsável por realizar contratação”, disse o advogado.
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A denúncia feita contra Rosângela traz áudios que, segundo a vítima, foram enviados enquanto a empresária tentava recrutar funcionários para uma clínica geriátrica que estava sendo inaugurada na cidade. Nas mensagens, a mulher diz não contratar e nem considerar indicações de profissionais que sejam homossexuais. Ouça a gravação mais abaixo.
O delegado informou que Rosângela não negou a autoria dos áudios, e admitiu que as mensagens foram enviadas por ela. No entanto, ela negou que o conteúdo fosse um posicionamento pessoal dela.
No depoimento, segundo o delegado, Rosângela alegou que trabalha sob demanda e que, geralmente, os clientes estabelecem regras para a prestação do serviço. Por isso, a exigência de não contratar homossexuais partiu de um suposto cliente e que ela repassou para a candidata ao emprego.
Contudo, o delegado afirma que durante os áudios, Rosângela usa termos em primeira pessoa por diversas vezes.
“Fica claro que em dado momento ela fala ‘Eu’, ‘Minha Equipe’, ‘Não admito”, sempre em primeira pessoa. Apesar disso, ela continuou negando, que não é um posicionamento pessoal dela e sim uma exigência desses supostos cliente que ela tem”, disse o Aldair.
O delegado informou que, diante do depoimento de Rosângela, as diligências estão encerradas e ela será indiciada pelo crime de racismo. Isso porque, No Brasil ainda não existe uma legislação específica que englobe crimes contra a população LGBTQIAPN+ e, com isso, os casos são tratados com base na lei 7.716/89, conhecida como “Lei do Racismo”.
Segundo o delegado, Rosângela já tinha sido chamada para prestar esclarecimentos na sexta-feira (15), mas apresentou um atestado médico e não compareceu. O depoimento foi remarcado para esta segunda-feira e a empresária esteve na delegacia acompanhada do advogado.
Em entrevista, o advogado de Rosângela disse que vai tomar conhecimento de todas as provas do processo, mas confirmou a versão dada pela cliente ao delegado.
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O que dizem os áudios
Dona de clínica é suspeita de gravar áudio dizendo que não contrata homossexuais
Dois áudios atribuídos à empresária foram entregues à polícia depois que uma enfermeira, que é lésbica, registrou boletim de ocorrência pelo crime de injúria, na terça-feira (12). Ouça acima.
A denunciante foi ouvida no inquérito que apura o caso.
Conforme a denúncia, a primeira gravação foi encaminhada por Rosangela à vítima. A segunda foi enviada para a pessoa que a indicou para o serviço.
Na mensagem enviada à vítima, são pedidas indicações de outras pessoas para preencher a vaga, mas é feita uma ressalva: “Se você quiser me indicar técnicos de enfermagem homens, que não ‘seje’ homossexual. Porque homossexual eu não admito na minha equipe, tá? Então, assim, é somente homens, tá? E lésbica também não, tá? Mulheres e homens profissionais da enfermagem, entende?”.
No segundo áudio, enviado à pessoa que indicou a enfermeira, é afirmado: “O problema é quando [a homossexualidade] sai das quatro paredes para a sociedade. E quer que a gente engula, quer que a gente aceita [sic]”.
A enfermeira relatou no boletim de ocorrência que, antes, estava tudo certo para que ela trabalhasse com Rosangela, mas que na terça-feira (12) ela foi comunicada pela empresária de que não seria contratada e recebeu as mensagens com a justificativa e o pedido de indicações.
Bandeira LGBT
JL Rosa/SVM
Conselho regional de Enfermagem manifestou repúdio a atos de discriminação
O Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren-PR) publicou uma nota de repúdio sobre o caso.
“O Conselho Regional de Enfermagem do Paraná repudia veementemente qualquer ato de discriminação por homofobia contra profissionais de Enfermagem, seja no exercício da profissão ou nos demais espaços da sociedade. Informamos que tomamos conhecimento da situação e que o caso já está sendo apurado para que as medidas cabíveis ao Coren PR sejam tomadas. A Enfermagem, maior força da saúde do Paraná e do Brasil, é uma profissão plural, formada por pessoas que se dedicam ao cuidado e à promoção da vida. Enfermeiros, técnicos, auxiliares e obstetrizes devem ter sua identidade, orientação e dignidade respeitadas, sendo inaceitável que questões individuais sejam utilizadas como critério para contratação. Nos solidarizamos com a profissional vítima e reafirmamos nosso compromisso com a construção de ambientes seguros, inclusivos e livres de qualquer forma de preconceito”, informou o Coren.
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