Campinas volta atrás e prefeito promete repor aulas perdidas por 800 alunos no trânsito: ‘Inadmissível’


Alunos são transferidos para escola 27 km de distância por conta de reformas
EPTV/Reprodução
Os problemas apresentados no primeiro dia de rotina alterada para 800 alunos da EMEF Padre Leão Vallerié, com viagem de mais de 50 km (ida e volta) de ônibus e perda de aulas por conta da reforma da unidade, fizeram com que a prefeitura de Campinas recuasse sobre a reposição de aulas e anunciasse novas medidas para diminuir os impactos para os estudantes – veja mais abaixo.
O prefeito Dário Saadi classificou como “inadmissível” a perda das aulas, e afirmou que determinou a reposição, em cronograma que será trabalhado pela secretaria, escola e pais.
“É inadmissível que esses alunos fiquem perdendo duas horas de aula por dia. Nós já determinamos, junto com a Secretaria de Educação, a programação, o cronograma dessa reposição. Será discutido pela equipe pedagógica da escola e da secretaria com os pais. Mas que será reposto, será reposto, sim”, disse.
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A fala do prefeito, nesta segunda-feira (8), é contrária a do representante da Secretaria de Educação, que ao g1, na última sexta (5), afirmou que não havia qualquer plano de reposição, e que via o tempo dos estudantes no trânsito “como pedagógico”.
“Eles não vão perder. Eu acho que nós temos que sair desse patamar, desse paradinho, que escola é só dentro da sala de aula e aprendendo conteúdo. Escola é movimento. Está certo? Já tem o conteúdo preparado para eles fazerem em casa também. Só que eles vão ter uma vivência em cima disso. Uma vivência de fazer o percurso. Isso também é aprender. Isso também é conhecimento. As pessoas imaginam a escola lá do século passado, conteudista, onde só tinha giz e lousa verde. Hoje não é mais isso”, argumentou Niraldo José da Silva, representante regional do NAED (Núcleos de Ação Educativa Descentralizada) Noroeste.
EMEF Padre Leão Vallerie, no Pq. Valença, em Campinas (SP): promessa é de entrega de uma escola “praticamente nova” após reforma, incluindo acessibilidade
Estevão Mamédio/g1
Impacto para os alunos
A perda das aulas por estudantes do 1º ao 9º ano do ensino fundamental da EMEF Padre Leão Vallerié durante o trajeto de ônibus para a nova escola é classificada como significativa pela professora Cristiane Machado, da Faculdade de Educação da Unicamp.
A professora do Departamento de Políticas e Administração de Sistemas Educativos (Depase) destaca que o período que o aluno passa na escola é importante, com grande impacto no ensino fundamental, e que a reposição, que é possível, deve ser bem articulada, inclusive com os pais.
“Eu parto do princípio de que a escola é importante. As quatro horas que os estudantes passam são importantes. Então, o que a gente tira dessas quatro horas, ainda mais com essa frequência, com essa constância, vai fazer falta, sim. É possível compensar? É. De uma forma mais organizada, orquestrada, articulada com os pais, inclusive”, diz.
Cristiane reforça a importância das aulas para os estudantes do ensino fundamental, e que eventual perdas podem trazer grandes prejuízos educacionais.
“Estamos falando de educação básica. Educação básica é a educação infantil, o fundamental e o médio pela nossa legislação. Nós estamos falando que do básico, essa parte é fundamental. Então, se é fundamental, os fundamentos de toda educação básica estão lá”, reforça.
Ao falar sobre articular com os pais, a professora da Unicamp reconhece o papel das famílias em todo o processo, mas diz que não é possível transferir aos pais a responsabilidade pedagógica, como a reposição do conteúdo perdido em atividades para serem feitas em casa.
“Qualquer atividade que você manda para casa, você precisa da ajuda dos pais para os estudantes fazerem. Mas também nós temos que pensar assim: os pais precisam trabalhar. Você não pode transferir para os pais essa responsabilidade que é da escola. Essa responsabilidade da escola de cuidar do pedagógico, dessas quatro horas diárias, no mínimo”, completa.
Obras em escola fazem alunos viajarem 50 km por dia para nova unidade em Campinas
Corretor BRT, Terminal, prazo da obra…
Durante a manhã, o trajeto de ida levou cerca de 1 hora e o de volta durou aproximadamente 40 minutos. Para acelerar o deslocamento dos alunos, a partir desta terça (9) os ônibus contratados pela prefeitura para o transporte dos estudantes poderá utilizar o Corredor BRT.
Além disso, agentes da Emdec irão acompanhar o embarque e desembarque dos alunos no terminal Campo Grande, reativado para a operação logística de transporte dos alunos.
Há a promessa de instalação de bebedouros para os estudantes, além de uma revisão no espaço do terminal, que tinha pedaços de vidro, sujeira e ainda dependia de melhoria nos banheiros.
Já o tempo da obra, embora a previsão seja de 9 meses, o prefeito disse que irá trabalhar para entregar a escola ainda no início de 2026.
“Foi o primeiro dia, realmente aconteceram alguns problemas. Mas nós não tínhamos outra alternativa. Muita gente me pergunta: ‘porque não foi feito na época de férias?’ A obra é grande, começa agora em setembro, e vai terminar no final do ano, quando terminam as férias”, afirmou o prefeito.
Segundo Dário, são quase 3 mil metros quadrados de telhados para serem trocados, estruturas hoje que deixam os alunos sofrendo com goteiras e calor, além de reforma na parte elétrica e alvenaria da unidade.
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