Doação de pulmão é feita pela primeira vez em 2025 em Presidente Prudente
Na tentativa de ressignificar o luto e transformá-lo em um ato de amor, uma família de Rancharia (SP) autorizou a captação de múltiplos órgãos, entre eles o pulmão, de um paciente de 29 anos na madrugada de domingo (14) na Santa Casa de Presidente Prudente (SP).
No Brasil, entre janeiro e junho deste ano, apenas 54 pulmões foram transplantados, segundo a Associação Brasileira De Transplante De Órgãos (ABTO).
A captação do pulmão foi a primeira vez realizada em 2025 na Santa Casa do município. Ao g1, Anderson Milhorança, enfermeiro da Captação e Transplante de Órgãos, destacou que, para o procedimento dar certo, é uma “corrida” contra o tempo.
“O tempo cirúrgico tem uma média de duração de até oito horas. Já o tempo que cada órgão precisa ser transplantado vária. No caso do pulmão, de quatro a seis horas para ser transplantado”, afirmou.
Doação de pulmão é feita pela primeira vez em 2025 em Presidente Prudente (SP)
Reprodução/Santa Casa de Prudente
No caso do coração, o órgão precisa ser transplantado em até cinco horas, enquanto o fígado gira em torno de 12 a 24 horas. Os rins só podem ser transplantados em até 48 horas, e as córneas em até 14 dias, segundo o especialista.
“A gente tem isso como tempo limite, sabidamente, no menor tempo que for transplantado, obedecendo ainda essas regras, é benéfico para o órgão e para o paciente que recebe”.
Conforme o hospital, o doador estava internado há três dias em estado grave e não resistiu aos ferimentos após ser vítima de um acidente de moto, na madrugada de quinta-feira (11).
‘Transformar a dor em esperança’
Durante a cirurgia, a família permitiu que outros órgãos também fossem doados, como fígado, rins, ossos, córneas, além do pulmão. O procedimento contou com a participação de equipes do InCor São Paulo, do Hospital de Amor de Barretos e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Marília.
A equipe multidisciplinar avalia qual o estado de cada órgão com base nos critérios médicos. “O pulmão é um órgão que dificilmente a gente consegue viabilizar a doação porque em questões técnicas e específicas na área”, destacou o enfermeiro técnico.
“Geralmente, o paciente que evolui em morte cerebral e está apto para a doação de pulmão é um paciente cuja evolução é muito rápida, que foi o caso deste paciente”, continuou.
Este gesto da família vai beneficiar mais de sete pessoas que aguardam na fila de espera para receber um órgão. “A fila do transplante cresce de uma maneira exponencial e em aumento é sempre de maneira que a doação de órgãos não consegue acompanhar”, reforçou Anderson.
Até junho de 2025, a Associação Brasileira de Transplante de órgãos (ABTO) publicou a quantidade de pacientes que aguardavam na fila do transplante, sendo: 71.745 adultos e 1.111 crianças, somando 72.856 pacientes.
A partir da doação, mais de sete pacientes serão beneficiados
Reprodução/Santa Casa de Prudente
Dificuldades na doação
Um dos principais pontos que dificulta a doação é a família não saber sobre a decisão do paciente. “Nós enfatizamos essa questão de que a morte cerebral é um diagnóstico irreversível, ela não tem o que fazer quando ela chega e quando a gente menos espera”, disse.
Outro fator seria a idade de cada paciente que determina o período que cada órgão ainda pode ser doado, conforme o enfermeiro da Captação e Transplante de Órgãos da Santa Casa de Presidente Prudente. Confira abaixo:
coração: pode ser doado somente até 55 anos completos;
pulmão: somente até 65 anos completos;
rins: até 74 anos completos;
córneas: até 70 anos completos;
fígado: até 80 anos completos.
“Esse critério de idade já é um fator limitante. Então, por exemplo, a gente entende que uma pessoa mais jovem consegue ser doadora de mais órgãos do que aquela pessoa que tem um pouco mais de idade”, continuou Anderson.
E critério avaliado influência na quantidade de equipes durante a captação dos órgãos. Em média, cada órgão tem de dois a três profissionais envolvidos.
“Essa doação só foi possível graças à decisão da família, que optou por transformar a dor em esperança para outras vidas. Por isso, é importante falarmos sobre o assunto e deixar claro o nosso desejo de ser um doador”, destacou o enfermeiro.
Mais informações sobre como ser um doador de órgãos está disponível no site do Ministério da Saúde. O doador também pode manifestar o interesse pelo AEDO, considerado uma forma eletrônica de autorizar a doação de órgãos, tecidos e partes do corpo humano.
Doação de pulmão é feita pela primeira vez em 2025 em Presidente Prudente
Reprodução/Santa Casa de Prudente
78 mil pessoas aguardam transplante de órgãos no Brasil; recusa familiar é barreira
Veja mais notícias no g1 Presidente Prudente e Região
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM