‘Hematomas nos braços, pescoço e colo’, relata mulher sobre professor de Direito suspeito de crimes sexuais no RS


Professor de direito é investigado por crimes sexuais
Uma das mulheres que acusa o professor de Direito e advogado Conrado Paulino da Rosa de crimes sexuais, em Porto Alegre, compartilhou um relato detalhado sobre o relacionamento que teve com ele.
“Ele me machucava real. Lembro que, por vezes, fui trabalhar no verão com manga comprida porque eu tinha hematomas nos braços pescoço e na região do colo”, relata a mulher, que vai ter a identidade preservada pela reportagem.
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O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, que já ouviu pelo menos seis mulheres que afirmam terem sido vítimas de Conrado e apura denúncias que vão de estupro à violência psicológica, que aconteceram entre 2013 e 2025.
Por meio de seu perfil no Instagram, o professor afirmou que “a verdade dos fatos se sobressairá” e que “repudia violência contra a mulher” (leia a íntegra abaixo). Em nota, seu advogado, Paulo Fayet, disse ter “convicção da inexistência de fatos penalmente relevantes”.
O que diz a mulher
A mulher conta que conheceu Conrado em outubro de 2016, após uma palestra ministrada por ele em uma universidade. O contato inicial, feito por meio das redes sociais, teria evoluído para um relacionamento de cerca de dois meses que, segundo ela, começou com encanto, mas teria se transformado em um ciclo de violência e manipulação.
No primeiro encontro, na Capital, a vítima relata ter sido surpreendida por atitudes invasivas e agressivas. Após um jantar com vinho, ela afirma ter sido forçada a ter relações sexuais contra sua vontade e sem preservativo.
“Disse por três vezes que não queria. Eu disse ‘para, eu não quero, por favor’. E ele: ‘não, vamos’, tentando insistir”, relembra. Segundo ela, a violência física durante o ato teria causado ferimentos, incluindo machucados.
Apesar do episódio, o relacionamento continuou. A vítima descreve um padrão de comportamento em que Conrado alternava entre gestos carinhosos e agressões durante a relação sexual.
“Ele batia como se fosse bater em um homem”, relata.
Em uma das ocasiões, ela conta que descobriu que sua mandíbula estava deslocada ao ir no médico por conta de uma dor no ouvido. Segundo a mulher, o ferimento teria sido causado por um tapa recebido durante uma relação.
“Sempre pedi para ele parar, para ele diminuir a mão, mas isso nunca acontecia, porque quando tu manda ele parar, isso é um combustível para ele querer demonstrar mais ainda”, ressalta.
Ela conta que continuou no relacionamento mesmo após os episódios de violência por uma combinação de fatores emocionais e psicológicos. No relato, a entrevistada menciona que estava fragilizada com o recente fim de um noivado de seis anos e que Conrado se apresentava como alguém encantador, carinhoso e atencioso, o que a fez desenvolver sentimentos por ele. Relata ainda que chegou a criar uma certa paixão pelo suspeito.
Ela também descreve o impacto psicológico do relacionamento. Após o término, em dezembro de 2016, comenta que desenvolveu um quadro de depressão e ansiedade.
Segundo o relato, Conrado usava frases possessivas para exercer controle emocional: “Você é minha e de mais ninguém”, teria dito.
A entrevistada diz ter tentado alertar outras mulheres sobre o comportamento do professor, mas muitas já estariam envolvidas emocionalmente. “Hoje, pelo menos uma delas veio me agradecer por tentar”, conta.
Investigações
Por se tratarem de supostos crimes sexuais, a Polícia Civil não informa detalhes da investigação, mas diz que a apuração conta com relatos semelhantes entre si e que as possíveis vítimas passarão, também, por perícia psicológica.
Conrado Paulino da Rosa lecionava para alunos de graduação e mestrado em direito na FMP, onde também coordenava a pós-graduação em Direito de família e sucessão. Além disso, foi presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família, Seção RS (IBDFAM-RS). Em sua biografia, diz ser autor de 18 obras sobre o assunto.
A delegada Fernanda Campos Hablich investiga o caso, e apura também se a posição de poder do professor pode ter gerado medo e vergonha nas mulheres.
Conrado foi demitido da Fundação Escola Superior do Ministério Público (FMP) após o início das investigações. A instituição afirma que o desligamento foi administrativo, sem juízo antecipado sobre os fatos.
A Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio Grande do Sul (OAB/RS), anunciou a abertura de um processo ético-disciplinar contra o advogado.
A advogada das supostas vítimas, Gabriela Souza, disse, em nota, que “todas as medidas judiciais cabíveis já foram tomadas, inclusive em razão de Medida Protetiva de Urgência vigente” (leia a íntegra da nota abaixo).
Polícia investiga professor de Direito suspeito de crimes sexuais no RS
Outros relatos
“Estuprada pela pessoa que eu mais confiava”
Uma das vítimas conta que os dois tinham uma relação próxima, até que ele começou a ter “comportamentos sexualizados” e a fazer “comentários inadequados”. Ela relata que teria sofrido um estupro após ir a uma festa com o advogado.
Ele teria comprado uma bebida alcoólica e dado para ela, que passou mal em seguida. A partir desse momento, ela conta não lembrar mais do que aconteceu. No dia seguinte, afirma ter acordado ferida, ao lado dele. Ela estava ensanguentada e precisou ser hospitalizada, disse.
“Estuprada pela pessoa que eu mais confiava, admirava e tinha certeza de que eu estaria protegida. Eu achei que isso jamais iria acontecer, que eu seria vítima de algo tão grave. Com alguém da minha confiança, do meu respeito, do meu carinho”, diz.
“Eu era maravilhosa no início, depois não servia mais para nada”
Outra mulher conta que namorou com ele e que, no início, o relacionamento era um sonho, mas, “do nada”, o comportamento dele mudou “da água pro vinho, do sonho para o inferno”.
“Em situações de frustração, de desagrado, [ele tinha] um olhar estranho, de ameaça, de [por] medo”, relata.
Ela diz que acreditava que os dois tinham uma admiração recíproca um pelo outro, mas que episódios em que ela se destacava levavam ao comportamento aparentemente contrário ao que ele costumava ter com ela no começo do relacionamento: em que ele era “um príncipe, talvez o homem que eu tenha sonhado para minha vida. Educado, gentil, inteligente, amoroso. Me colocava em pedestal”.
O estupro teria acontecido quando os dois se relacionavam sexualmente, afirma a mulher.
“Eu fiquei machucada, com roxos pelo corpo. Eu fui sufocada. Me assustei. Fiquei sem ar. E a violência continuou. Violência física. Eu levei um tapa muito forte no rosto. Quando eu me olhei no espelho no outro dia, estava toda machucada”, relembra.
Violência psicológica
Outra mulher conta que sofreu o mesmo tipo de violência. No começo, o suspeito era uma pessoa apaixonante: encantou ela, os amigos e a família dela.
“É um príncipe. Uma pessoa maravilhosa. E tu passa a acreditar que de fato tu foi a escolhida. Que sorte a minha. Até que o dia a dia começa a mudar o perfil”, conta.
Ela diz que, se ela frustrava o advogado de alguma forma por não corresponder exatamente às expectativas dele, “ele passava a mudar”.
“Porque ele vem muito sedutor e carinhoso e, na hora do sexo, ele vira o olhar, vira uma chave e vira um monstro. E aí vem uma manipulação. E é muito difícil de identificar o que acontece”, diz.
Ela conta que não usava mais camisetas de manga curta por conta dos hematomas nos braços. Além disso, que sofreu violência psicológica, pois ele teria feito com que ela se sentisse culpada pelo que acontecia.
“A minha vida durante muito tempo após o término ficou acabada”, fala.
O caso começou com uma denúncia anônima. Depois disso, a polícia passou a chamar mulheres da relação de Conrado a depor.
Mulheres contam terem sofrido violência sexual de professor de direito e advogado no RS
RBS TV/Reprodução
Como denunciar casos de violência
A vítima deve ir à Delegacia da Mulher ou a qualquer Delegacia de Polícia para registrar um boletim de ocorrência. O serviço também está disponível pela Delegacia Online para relatar agressões sem precisar ir presencialmente à delegacia.
Lista de centros de referência e delegacias para mulheres
Como solicitar uma medida protetiva online
Nota de Conrado Paulino da Rosa
“Quem conhece minha trajetória de décadas, sabe do respeito que possuo pela minha profissão e como conduzo minha vida pessoal.
Confio que, com a apuração completa, após a minha oitiva e de minhas testemunhas, e a análise da documentação que será apresentada, a verdade dos fatos se sobressairá. Confio no trabalho das Autoridades, pessoas técnicas e idôneas, mas ao menos por ora respeitarei o sigilo da investigação e evitarei qualquer outra forma de exposição desnecessária. O Dr. Paulo Fayet, profissional em quem confio e agradeço, já foi constituído e está adotando todas as providências necessárias.
Por fim, não se pode esquecer que investigação não equivale à condenação. Muito menos enquanto ainda não formalizado o contraditório e ampla defesa, de sorte a ferir também a ampla presunção 0 inocência. Repudio qualquer forma de violência contra a mulher e indispensável que haja responsabilidade na divulgação de informações sigilosas sem autorização”.
Nota do advogado dele
“A defesa teve acesso recentemente ao inquérito e tem convicção da inexistência de fatos penalmente relevantes, respeitando sempre o sigilo do expediente e o trabalho da Delegacia Especializada”.
Nota da advogada das vítimas
“A defesa das vítimas de Conrado Paulino da Rosa comunica através dessa nota à imprensa que todas as medidas judiciais cabíveis já foram tomadas e que, neste momento, se manifestarão apenas perante as autoridades policiais e judiciais, inclusive em razão de Medida Protetiva de Urgência vigente.
Unidas, incentivam a proteção de todos os direitos das mulheres e incentivam àquelas que possam estar vivendo relacionamentos abusivos a buscarem ajuda, denunciarem, entendendo que o silêncio protege apenas os agressores. Desde já, repudiam o uso de qualquer estereótipo de gênero, comuns nas defesas de homens denunciados, e reafirmam aquilo que foi dito por Maria da Penha: a vida começa quando a violência termina.
As mulheres estão vivas na união, na voz e na força. A coragem de cada uma e de todas juntas é para que não existam próximas vítimas”.
Nota da FMP
“A Fundação Escola Superior do Ministério Público – FMP informa que o professor Conrado Paulino da Rosa não integra mais o corpo docente da Instituição.
O desligamento foi decidido em caráter administrativo, conforme previsto no regimento interno da FMP, sem a realização de juízo antecipado sobre eventuais responsabilidades relacionadas a fatos externos à Instituição.
A FMP reitera seu compromisso inegociável com a ética, a transparência e, sobretudo, com a promoção de um ambiente acadêmico seguro, inclusivo e respeitoso para todas as pessoas.
Reafirmamos, de forma categórica, nossa posição contrária a qualquer forma de violência, em especial a violência contra as mulheres, e nosso apoio a todas as iniciativas que promovam a equidade de gênero e os direitos humanos.
Com 41 anos de atuação na formação de profissionais comprometidos com a justiça e a cidadania, a FMP seguirá fiel aos seus princípios institucionais e ao respeito à dignidade humana.”
Nota da OAB/RS
“A OAB/RS tomou conhecimento pela imprensa na manhã desta sexta-feira, dia 19/9, de fatos gravíssimos envolvendo advogado gaúcho acusado da prática de crimes contra mulheres.
A Diretoria da Entidade decidiu abrir, de ofício, processo ético-disciplinar no Tribunal de Ética e Disciplina para apuração dos fatos e responsabilização, se comprovadas as alegações, assim como análise de eventual suspensão preventiva, garantido o contraditório, a ampla defesa e o devido processo legal.
A OAB remeteu ofício à delegacia responsável pela investigação solicitando cópia do inquérito policial a fim de instruir o processo instaurado no âmbito da Entidade e também para que seja avaliada a possibilidade de serem tomadas outras medidas após a análise do material constante do inquérito.
A Ordem manifesta profunda preocupação com os fatos, reitera seu compromisso de atuar contra qualquer espécie de violência e reafirma a garantia, a qualquer acusado, do devido processo legal.
Diretoria da OAB/RS”
Advogado Conrado Paulino da Rosa
Reprodução/Redes sociais
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