O avanço da PEC da Blindagem e a aprovação da urgência para analisar o PL da Anistia expuseram uma aliança entre boa parte do Centrão e o bolsonarismo. É o que explicou o professor Fernando Abrucio em conversa com Natuza Nery no podcast O Assunto da sexta-feira (19). Abrucio é cientista político, professor da FGV-SP e comentarista da GloboNews.
No Assunto, Abrucio explica que esta aliança com o Centrão terá efeitos negativos para aliados fieis de Jair Bolsonaro, principalmente por criar uma contradição fundamental no discurso político bolsonarista. OUÇA NO PLAYER A PARTIR DO MINUTO 21:56.
Na conversa com Natuza, Abrucio usou o discurso do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) como exemplo. Na semana passada, durante sessão que discutia a PEC da Blindagem, Nikolas afirmou: “queremos ser blindados mesmo”.
“[Essa declaração] é o contrário do discurso do Nikolas Ferreira nos últimos anos. Ele fez [no passado] um discurso tentando mostrar: ‘eu defendo o povo contra as castas e elites'”, diz Abrucio. O professor explica que votos a favor da PEC “constroem uma casta”. “Portanto, essa aliança entre o bolsonarismo e o Centrão também vai ter efeitos negativos no bolsonarismo”, conclui.
“Quem está assistindo tudo isso de camarote é o presidente Lula”, diz Abrucio. O professor afirma que, por um lado, Lula perde governabilidade com a crise e tensão constante entre Congresso e Supremo. “Por outro lado, a rejeição ao Centrão, a candidatos apoiados pelo Centrão e pelo bolsonarismo só vai aumentar. Lula, eleitoralmente, estará fora dessa história [se beneficiando]”, conclui.
Em resumo, para Fernando Abrucio, ao se unir ao Centrão em pautas impopulares e que visam a autoproteção da classe política, o bolsonarismo corrói sua principal bandeira (o combate ao sistema) e se expõe a um grande desgaste eleitoral, pois passa a ser cúmplice na criação de privilégios que sempre afirmou combater.
A PEC da Blindagem foi aprovada em votação rápida e amplia proteções para deputados e senadores em processos cíveis e criminais. O texto é visto por entidades da sociedade civil e especialistas como um retrocesso para a democracia, ao dificultar a responsabilização de políticos e reforçar a criação de uma “casta” de parlamentares acima da lei.
Abrucio avaliou ainda que a aproximação entre Centrão e bolsonarismo, exemplificada pela nomeação de Eduardo Bolsonaro como líder da minoria, é sustentada pelo medo de investigações e pela tentativa de manter impunidade em casos que vão de irregularidades no uso de emendas parlamentares a crimes mais graves.
A proposta agora segue para o Senado, onde precisará de 49 votos em dois turnos de votação. A expectativa é que a resistência seja maior, já que a renovação de dois terços das cadeiras em 2026 torna a aprovação de medidas impopulares mais arriscada para os senadores.
O que você precisa saber:
BLOG DO VALDO CRUZ: Governo Lula foi derrotado, mas oposição teve ‘vitória pela metade’ na urgência da anistia
TIRE DÚVIDAS: Qual a diferença entre anistia e indulto? O que prevê o projeto?
DO PL AO PT: Com resistência, PEC da Blindagem não deve avançar no Senado
VOTO SECRETO DA PEC DA BLINDAGEM: Veja como votaram deputados e partidos
O podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Sarah Resende, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski e Carlos Catelan. Apresentação: Natuza Nery. Neste episódio colaborou também: Bervelin Albuquerque.
O significado do avanço da anistia
O Assunto é o podcast diário produzido pelo g1, disponível em todas as plataformas de áudio e no YouTube. Desde a estreia, em agosto de 2019, o podcast O Assunto soma mais de 168 milhões de downloads em todas as plataformas de áudio. No YouTube, o podcast diário do g1 soma mais de 14,2 milhões de visualizações.
Câmara aprova urgência em projeto da anistia
Bruno Spada / Câmara dos Deputados