Operação Blasfêmia: seguidora do ‘Profeta Santini’ fez 80 doações após promessa de cura de câncer, diz delegado


Operação mira ‘estelionato religioso’ via telemarketing
Uma das seguidoras de Luiz Henrique dos Santos Ferreira, que se apresenta como Pastor Henrique Santini ou Profeta Santini, fez mais de 80 doações após a promessa de um “milagre” — a cura do câncer do pai dela.
Santini foi alvo nesta quarta-feira (24) da Operação Blasfêmia, apontado pela Polícia Civil do RJ e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) como chefe de um esquema de estelionato religioso. Ele e outras 22 pessoas viraram réus por uma série de crimes, como charlatanismo.
O grupo cobrava até R$ 1.500 por “promessas de cura” e “milagres” e movimentou pelo menos R$ 3 milhões em 2 anos.
“Foi prometida a ela a cura do câncer, e ela fez diversos pagamentos, alegando que estava recebendo a bênção do religioso”, afirmou o delegado Luiz Henrique Marques, da 76ª DP (Centro de Niterói).
Mas, segundo as investigações, quem ligava ou mandava mensagem para o número indicado nos vídeos postados nas redes de Santini ouvia uma gravação — quando imaginava conversar com o próprio “profeta”.
‘Oração pela prosperidade’
Com 9 milhões de seguidores nas redes sociais, Santini divulgava vídeos de mensagens religiosas com números de telefone e links para grupos no WhatsApp. Um dos clipes pedia por engajamento.
“Esse vídeo é só para você, que está com a carteira vazia e a conta zerada: Deus mandou fazer uma oração para você, que vai repreender o devorador e liberar a abundância. Crê nisso. Precisa da oração? Curta e mande seu nome nos comentários”, disse Santini.
Os fiéis, de acordo com a investigação, eram induzidos a fazer pagamentos.
“Você vai fazer um sacrifício no altar de R$ 24, representando as 24 horas que vou ficar no Monte. Você vai me pedir a chave PIX, esse dinheiro será para a gasolina do Monte, para eu conseguir estar lá”, falou Santini, em outro vídeo.
Os investigadores identificaram vítimas que, mesmo na miséria, prometiam doações.
“Não tenho nada na minha casa, a não ser água e sal, mas se Deus me abençoar, mais tarde eu faço o PIX, em nome do Senhor Jesus! No momento estou sem nada, sem nada”, justifica uma seguidora.
Luiz Henrique dos Santos Ferreira, que se apresenta como Pastor Henrique Santini ou Profeta Santini
Reprodução
A operação
Nesta quarta, policiais cumpriram 3 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Santini — como a casa dele, em um condomínio de luxo na Barra Olímpica, na Zona Sudoeste do Rio. A Justiça determinou que o “profeta” coloque tornozeleira eletrônica e bloqueou contas bancárias e bens.
Santini resistiu a abrir a porta para a polícia. A equipe ameaçou arrombá-la e conseguiu entrar. Dentro do imóvel, os agentes apreenderam R$ 32 mil em espécie, moedas estrangeiras em dólar e euro, 7 celulares, cartões de bancos em nome de outras pessoas e um simulacro de pistola. O passaporte de Santini também foi recolhido.
“Essa organização criminosa em nada tem a ver com um culto religioso. A intenção era arrecadar dinheiro e enganar os fiéis”, afirmou o delegado.
“A atuação de líderes religiosos na arrecadação de dízimos e ofertas é permitida dentro do princípio da liberdade religiosa, garantida pela Constituição Federal. No entanto, quando essa arrecadação ocorre por meio de fraude, ultrapassa o campo da fé, sendo considerada conduta criminosa”, explicou.
Ao todo, 23 pessoas foram denunciadas e se tornaram rés pelos crimes de estelionato, charlatanismo, curandeirismo, associação criminosa, falsa identidade, crime contra a economia popular, corrupção de menores e lavagem de dinheiro. As penas podem chegar a 29 anos de prisão.
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Luiz Henrique dos Santos Ferreira, que se apresenta como Pastor Henrique Santini ou Profeta Santini
Reprodução/TV Globo
‘Perseguição’
À TV Globo, ao sair para prestar depoimento, Santini declarou estar vítima de perseguição religiosa. Ele afirmou ter formação em teologia e trabalhar há mais de 10 anos como pastor, pregando em 2 igrejas.
“Sou surpreendido com um mandado de busca e apreensão, e até agora não encontraram nada que pudesse me incriminar. Colaborei, dei todas as coisas possíveis. Eu entendo isso como uma perseguição religiosa.”
Como era o esquema
“Santini fazia gravações previamente editadas, e quando o fiel entrava em contato achando que estava falando com ele e pedia orações para uma enfermidade específica, entrava esse áudio. Ao final, era sempre pedida uma contribuição”, descreveu o delegado.
Essas “doações espirituais” eram via PIX e variavam entre R$ 20 e R$ 1.500, conforme o tipo de oração oferecida.
O grupo operava a partir de escritórios de telemarketing em Niterói e São Gonçalo, onde pelo menos 70 atendentes simulavam ser Santini. “O profeta Santini, visando a aumentar a arrecadação, contratou pessoas sem nenhuma experiência religiosa para se passar por ele pelo WhatsApp”, disse o delegado.
Esses funcionários eram contratados em plataformas on-line e recebiam comissões conforme o volume arrecadado. Documentos apreendidos revelam metas rígidas de desempenho e até dispensas por baixa arrecadação.
Ainda segundo Luiz Henrique Marques, o dinheiro dessas contribuições não ia para conta da igreja, mas para a de terceiros.
A investigação começou em fevereiro, quando a polícia descobriu um call-center onde foram flagradas 42 pessoas realizando atendimentos virtuais. Na ocasião, 52 telefones celulares, 6 notebooks e 149 cartões pré-pagos de telefonia móvel foram apreendidos. A análise desse material confirmou a atuação coordenada do grupo e permitiu identificar milhares de vítimas em todo o território nacional.
As investigações continuam para identificar novas vítimas e possíveis integrantes da organização criminosa.
Policiais apreenderam dinheiro em espécie e cartões de crédito na casa de Santini
Reprodução/TV Globo
Santini tem um simulacro de pistola dourada
Reprodução/TV Globo
Agentes cumprem mandado na Casa dos Milagres, em Niterói, na Operação Blasfêmia
Reprodução/TV Globo

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