Área externa do Centro Administrativo do DF, em Taguatinga
Andre Borges/Agência Brasília
Prestes a completar sete anos de mandato, o governo de Ibaneis Rocha (MDB) ainda não conseguiu destravar um dos maiores elefantes brancos da história recente do Distrito Federal: a ocupação dos prédios do Centro Administrativo (Centrad), em Taguatinga.
O complexo, que deveria ser a sede dos órgãos públicos distritais, está fechado há 12 anos e nunca teve suas obras concluídas.
A ocupação efetiva do Centrad foi uma das promessas de governo de Ibaneis, nos dois mandatos. Faltando pouco mais de um ano para o fim do governo, o destino do local ainda é incerto.
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O Centrad foi idealizado pelo ex-governador José Roberto Arruda, com dois objetivos anunciados:
diminuir os gastos do GDF com aluguel;
promover um contrafluxo de trânsito entre o Plano Piloto e as regiões administrativas.
Com 182 mil metros quadrados e 16 prédios, o Centrad nunca recebeu um único escritório ou órgão do GDF.
(Veja, ao longo deste texto, reportagens que a TV Globo fez nesse período de abandono dos prédios.)
2022: governo queria negociar ocupação dos prédios com construtoras
Novos prazos
No fim de agosto, em entrevista ao Jornal de Brasília, Ibaneis anunciou um “edital de concessão” para o complexo. Sem dar detalhes, o governador afirmou que o edital estava sendo produzido pela Terracap e seria publicado ainda em setembro.
Procurado pelo g1 no dia 29 de agosto, a Terracap não deu detalhes do edital e declarou ainda que a pasta estava “estudando a melhor forma de ocupação do local”.
“A Terracap informa que os estudos para a melhor forma de ocupação do CENTRAD estão na fase final e em breve serão entregues para publicação”, disse a Terracap ao g1 no dia 29 de agosto.
O mês termina na próxima terça-feira (31) e, até agora, não há sinal de publicação desse documento. Em novo posicionamento da Terracap, a pasta informou que ele “continua em produção”.
Indicado pelo GDF para tratar do tema, o assessor especial do gabinete do governador, Marcelo Galvão, já havia afirmado em entrevista ao g1 que a ocupação do complexo estava em “fase de estudos” pelo governo.
Procurado novamente pela reportagem após o anúncio de Ibaneis, o assessor não soube detalhar o edital citado pelo governador do GDF.
Enquanto os planos de ocupação ainda são incertos, membros do governo apontam obstáculos que impossibilitam a ocupação do Centrad. Entre eles, as obras viárias e de urbanismo que ainda são necessárias no entorno do complexo.
2020: Centrad não tinha qualquer previsão de ser ocupado pelo governo
12 anos de imbróglio
O Centrad foi construído por meio de uma Parceria Público Privada (PPP) entre o GDF e o consórcio privado formado pela Via Engenharia e Odebrecht. O contrato, contudo, foi alvo de investigações da Operação Lava Jato devido a irregularidades e, em 2022, ele foi anulado.
Ainda em entrevista ao g1, Marcelo Galvão destacou o imbróglio judicial superado na gestão de Ibaneis Rocha, mas apontou outro problema:
“Ficamos anos em uma discussão jurídica sobre o Centrad. Conseguimos anular a Parceria Público Privada (PPP) e agora estamos discutindo um projeto de ocupação. Mas, antes, é preciso resolver a questão viária, ela tem de ser feita antes de retomarmos os projetos de ocupação do espaço”, disse.
Desde 2014, quando foi “inaugurado” sem móveis, sem internet e sem ter sido finalizado, as obras ao redor do Centro Administrativo são apontadas como um obstáculo para a ocupação do complexo.
Centrad: veja as cinco etapas necessárias para ocupar prédio do Centro Administrativo
Com as obras incompletas, em 2015, o Ministério Público (MPDFT) se manifestou contra a ocupação do Centrad, que alegou irregularidades na sua inauguração e não forneceu a Carta de Habite-se ao complexo.
Segundo o órgão, faltavam documentos essenciais — como laudo de conformidade e Relatório de Impacto de Trânsito (RIT) — para concessão do Habite-se. Sem o documento, a ocupação foi embargada.
Quando assumiu o governo do Distrito Federal, Ibaneis fez promessas e anunciou que realizaria as obras para tornar a ocupação do complexo possível. Essas obras, contudo, nunca saíram do papel.
Veja no vídeo abaixo, de 2022, o que ex-governadores falaram sobre o abandono do espaço:
2022: ex-governadores falam sobre os anos de abandono do Centrad
Prazos não cumpridos
Em fevereiro deste ano, o GDF anunciou por nota publicada no site da Novacap que, até abril, seriam lançadas as obras para viabilizar a futura ocupação do Centrad.
Segundo o texto, seriam R$ 300 milhões investidos na construção de viadutos e vias ao redor do complexo. A nota elenca as seguintes obras:
Um viaduto principal na QNL;
Uma alça de acesso para o Centro Administrativo;
Um viaduto nas proximidades do campus Ceilândia da Universidade de Brasília (UnB), para ligar Taguatinga a Samambaia;
Vias adjacentes de acesso;
Projeto de urbanização.
Ainda segundo o texto, as obras externas seriam feitas pela Terracap e as adequações internas do prédio ficariam a cargo da Novacap, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital.
Seis meses depois, quando questionada pelo g1 sobre essas obras, a Terracap direcionou a reportagem a Marcelo Galvão, que falou sobre os “estudos de ocupação”.
Governador Agnelo Queiroz durante inauguração do Centro Administrativo do DF, em 2014
Isabella Formiga/G1
Já a Novacap, em notas enviadas à reportagem nos dias 27 de agosto e 26 de setembro, declarou que não tinha obras sendo realizadas no Centrad:
“A Novacap informa que, até o momento, não foi acionada para execução de obras referentes ao Centrad. Portanto, não há informações para colaborar com esta demanda”, disse a Novacap.
Em entrevista ao g1 no dia 21 de agosto, o secretário de Obras, Valter Casimiro, afirmou que os estudos para as obras já existem e também seus projetos, mas negou que qualquer execução ou até licitação para viabilizar essas obras.
“Há muito interesse do governador em realizar essas obras [no entorno do Centrad], mas nossa prioridade é terminar aquilo que já começamos”, afirmou Casimiro ao g1.
12 anos fechado
Ainda de acordo com membros do GDF, não houve dinheiro público investido na construção do Centrad. O acordo para construção do espaço feito por PPP tinha valor previsto de R$ 6 bilhões e duração de 22 anos.
Além de erguer o prédio, o consórcio formado pela Via Engenharia e Odebrecht ficaria responsável por serviços como manutenção, segurança, limpeza do espaço. Pelos serviços após a inauguração, as empresas receberiam R$ 17 milhões mensais.
Como o projeto nunca foi inaugurado, esses valores nunca foram pagos. Por outro lado, as duas empresas alegam que gastaram cerca de R$ 1,5 bilhão na construção do Centrad e também tentam reaver o valor investido na negociação.
Em 2020, contudo, uma decisão da 4ª Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal, proibiu o Governo do DF de repassar recursos ao consórcio.
O GDF, no entanto, tem outros gastos complexo. Desde que a PPP foi anulada em 2022, é o governo do DF responsável pela segurança do local, que abandonado é alvo de invasão, vandalismo e depredação.
2021: Centro Administrativo do DF está se deteriorando com o tempo
Linha do tempo sobre o Centrad
2009: Obras do Centrad têm início a partir de uma parceria público privada (PPP) entre o GDF e o consórcio privado formado pela Via Engenharia e Odebrecht.
2014: O então governador Agnelo Queiroz faz a inauguração do espaço no último dia de seu mandato com as obras inacabadas.
2015: Ministério Público (MPDFT) se manifesta contra ocupação do Centrad e não fornece Carta de Habite-se para o prédio.
2015: Governador Rodrigo Rollemberg “desiste” de mudar Executivo para local devido às irregularidades.
2017: Em delação no âmbito da Operação Lava Jato, ex-executivo da Odebrecht João Antônio Pacífico Ferreira, revela que negociações do Centrad foram marcadas por “acordos de mercado” e repasses para caixa dois de campanhas eleitorais.
2017: GDF instaura uma comissão para discutir a possibilidade de anular o contrato de PPP.
2019: Ibaneis Rocha (MDB) assume e afirma que Centrad será ocupado “de um jeito ou de outro” ainda nos primeiros meses de sua gestão.
2019: Ministério Público de Contas (MPC) pede para que Tribunal de Contas (TCDF) barre transferência para Centrad, alegando que mudança não teria vantagem econômica.
2020: Em meio aos impasses do acordo de PPP, Justiça proíbe que o GDF faça qualquer repasse às empresas que construíram o Centrad.
2022: O GDF consegue anulação do contrato com as empresas e PPP é desfeita.
2024: Marcelo Galvão, assessor especial de Ibaneis Rocha, diz em entrevista ao Poder360 que obras para ocupação do Centrad serão iniciadas ainda em abril.
2025: GDF anuncia que até abril o governo vai lançar as obras de ocupação do Centrad.
2025: Em agosto, o secretário de Obras, Valter Casimiro, disse em entrevista ao Correio de Manhã que obras para as vias do entorno do Centrad seriam iniciadas “nos próximos dias”.
2025: Ibaneis diz em entrevista ao Jornal de Brasília, no dia 29 de agosto, que um edital de concessão para ocupar o Centrad seria divulgado pela Terracap “nos próximos dias”.
2025: Questionado pelo g1 no dia 26 de setembro, quase um mês após a declaração de Ibaneis, a Terrapac informou que tais documentos para edital ainda estavam “em produção”.
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