Fotografia científica recupera traços invisíveis em obras de arte
Uma tecnologia avançada usada por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está permitindo que obras de arte que estavam desaparecendo do papel voltem a ser visíveis.
Por meio de uma técnica chamada fotografia multiespectral (entenda abaixo), foram fotografados em laboratório desenhos da década de 1950 do pintor modernista mineiro Alberto da Veiga Guignard que estavam se apagando.
Dedicatórias, assinaturas e elementos arquitetônicos presentes em dois desenhos do pintor começaram a ser revelados. Com o trabalho da restauradora Larissa Oliveira, responsável pela aplicação da técnica, foi descoberto que os desenhos foram feitos para duas mulheres. As obras representam paisagens de Ouro Preto.
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Larissa fez uma comparação da obra original, de 1956, com a espectral, gerada com a técnica. Veja ponto a ponto destacado por ela no vídeo acima.
“No espectral [imagem gerada após aplicação da técnica] dá pra ver alguns detalhes que estão desaparecidos no original [de 1956], como a dedicatória para Mania Helibhovsk, que não dá pra ler aqui. […] A assinatura dele, também aqui tá no meio, tá totalmente desaparecida. E dá pra gente identificar, por exemplo, o Museu da Inconfidência, aqui no canto esquerdo”, explica.
“Esse [outro desenho] é o original de 1958. A dedicatória, ela tá um pouco mais visível do que a outra. Mas fica bem melhor nas técnicas que a gente usou”, mostra (veja no vídeo).
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Desenho do artista mineiro Alberto da Veiga Guignard
Reprodução/TV Globo
O que é a técnica multiespectral
A técnica multiespectral reúne diversos tipos de fotografias, usando diferentes fontes de luz, como ultravioleta e infravermelho, para capturar detalhes imperceptíveis ao olho humano, segundo Alexandre Leão, coordenador do iLab e do PrismaLab da UFMG.
“A gente trabalha com luzes técnicas de ultravioleta, passando pela faixa visível que o ser humano consegue perceber, e indo também pra uma faixa não visível ao ser humano, que é o infravermelho”,
“E a conexão de várias imagens, reunidas em software específico, especializado pra isso, permite com que essa imagem final seja então ali percebida, e essas nuances não visíveis se tornam visíveis em alguns casos, como aconteceu no caso das obras de Guignard”, afirma.
Impressões fiéis preservam as obras
Para que mais pessoas possam conhecer os desenhos e apreciar o resultado revelado pela tecnologia, os pesquisadores decidiram imprimir as imagens em papel de alta qualidade com tinta mineral de longa duração.
“Reproduzir uma obra desse calibre, do Guindard, é como se estivesse reproduzindo uma ‘9ª Sinfonia do Beethoven’, então você tem que ser um maestro ali na reprodução, para não adulterar nenhum aspecto da obra”, explica Luiz Rodrigo Cerqueira, impressor responsável pelo trabalho.
O resultado do trabalho com a fotografia multiespectral e os desenhos originais de Guignard estão expostos no Museu Casa Guignard, em Ouro Preto. A visitação é gratuita.
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