Entenda o que se sabe sobre a execução do delegado Ruy Ferraz Fontes
A Polícia Civil cumpre novos mandados de busca e apreensão relacionados à execução do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes na manhã desta segunda-feira (29). As equipes atuam em Praia Grande e São Vicente, no litoral de São Paulo.
Ruy foi morto no dia 15 de setembro, após cumprir expediente como secretário de Administração na Prefeitura de Praia Grande, no litoral de São Paulo. Até o momento, Dahesly Oliveira Pires, Luiz Henrique Santos Batista (Fofão), Rafael Marcell Dias Simões (Jaguar) e Willian Silva Marques foram presos sob suspeita de participação no homicídio.
Outros quatro investigados já foram identificados e estão foragidos: Felipe Avelino da Silva, Flávio Henrique Ferreira de Souza, Luiz Antonio Rodrigues de Miranda e Umberto Alberto Gomes (saiba quem são adiante).
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A operação, realizada por equipes do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) da capital, tem como alvo ao menos oito endereços relacionados aos suspeitos do crime. Cinco deles são em Praia Grande, onde ocorreu o assassinato, e três ficam em São Vicente, cidade vizinha.
Ruy Ferraz Fontes durante evento da cúpula da Segurança Pública de SP em 30/11/2018
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO
Casas investigadas
Uma casa em Praia Grande foi o primeiro imóvel a ser investigado por ter ligação com a quadrilha. A polícia chegou até o local após o depoimento de Dahesly — a única mulher suspeita de participação no crime até a última atualização desta reportagem.
De acordo com o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Dahesly saiu de Diadema, no ABC Paulista, para buscar um dos fuzis usados no assassinato de Ruy dentro da residência. A ordem teria sido dada por Luiz Antonio, mas os fuzis não foram encontrados.
A casa está localizada na Rua Campos de Jordão, no bairro Jardim Imperador, e fica a aproximadamente dez minutos do local do crime. A fachada da residência foi pichada com a frase ‘Justiça tarda + não falha’.
Vídeo e fotos obtidos pelo g1 mostram o momento em que um homem picha o imóvel. Ele marcou o portão da casa com diversos símbolos e palavras como ‘D+S’, ‘É Noix’ e ’25’ (veja abaixo).
Casa usada como base de grupo que matou ex-delegado é pichada no litoral de SP
Outra casa em Mongaguá, cidade vizinha de onde ocorreu o crime, é o segundo imóvel investigado por servir de base à quadrilha. Segundo a apuração, o local foi alugado por Flávio Henrique pela primeira vez duas semanas antes do crime. Ele pagou R$ 1 mil e buscou a chave com o proprietário na capital, no dia 29 de agosto, para passar aquele fim de semana na casa.
No entanto, Flávio não devolveu a chave e voltou a entrar em contato com o dono do imóvel em setembro. Na ocasião, ele pagou mais R$ 1 mil, afirmando que ficaria na casa durante o fim de semana dos dias 12 a 14.
O imóvel também foi alvo de pichação. Ambas residências passaram por perícia, que identificou diversas impressões digitais.
Segunda casa usada como base de grupo que matou ex-delegado é pichada no litoral de SP
Quem são os suspeitos
Na parte de cima, os foragidos Luis Antonio Rodrigues de Miranda, Felipe Avelino da Silva e Flávio Henrique Ferreira de Souza. Na parte de baixo, os presos Rafael Marcell Dias Simões, Dahesly Oliveira Pires e Luiz Henrique Santos Batista
Polícia Civil/Divulgação
Felipe Avelino da Silva (foragido), conhecido no Primeiro Comando da Capital (PCC) como Mascherano, de 33 anos, teve o DNA encontrado em um dos carros usados no crime.
Luiz Antonio Rodrigues de Miranda (foragido), de 43 anos, é procurado por suspeita de ter ordenado que uma mulher fosse buscar um dos fuzis usados no crime.
Flávio Henrique Ferreira de Souza (foragido), de 24 anos, também teve o DNA encontrado em um dos carros.
Willian Silva Marques (preso), de 36 anos, é proprietário da casa apontada como base dos criminosos em Praia Grande.
Dahesly Oliveira Pires (presa), de 25 anos, foi detida na quinta-feira (18) por suspeita de ser a mulher que foi buscar o fuzil usado no crime na Baixada Santista.
Luiz Henrique Santos Batista (preso), conhecido como Fofão, de 38 anos, foi preso na sexta-feira (19) em São Vicente (SP), por ser suspeito de participar da logística da execução de Ruy Ferraz Fontes.
Rafael Marcell Dias Simões (preso), conhecido como Jaguar, de 42 anos, foi preso na madrugada de sábado (20) após se entregar no DP Sede de São Vicente, por ser suspeito de participar do assassinato.
Umberto Alberto Gomes (foragido), 39 anos, teve o DNA encontrado na casa que teria sido usada pelos criminosos em Mongaguá.
Crime
Cronologia da execução: ação contra ex-delegado durou menos de 40 segundos
O assassinato de Ruy Ferraz Fontes ocorreu momentos após ele cumprir expediente na Prefeitura de Praia Grande como secretário de Administração. Ele estava aposentado da Polícia Civil.
Câmeras flagraram o momento em que três criminosos portando fuzis desembarcam de uma caminhonete, que estava logo atrás do carro de Ruy Ferraz, e atiram contra o ex-delegado (veja abaixo a cronologia do crime).
Infográfico: criminosos fazem tocaia antes de iniciar ataque e perseguição ao delegado
Arte/g1
Quem era Ruy Ferraz Fontes
Ruy Fontes foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022 e atuou por mais de 40 anos na Polícia Civil. Teve papel central no combate ao crime organizado e foi pioneiro nas investigações sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Formado em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, com pós-graduação em Direito Civil, Fontes comandou divisões como Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc), além de dirigir o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
Foi justamente no Deic, no início dos anos 2000, como chefe da 5ª Delegacia de Roubo a Bancos, que ele iniciou investigações sobre o PCC, sendo responsável por prender lideranças da facção e mapear sua estrutura criminosa.
Entenda o que se sabe sobre a execução do delegado Ruy Ferraz Fontes
Sua atuação foi decisiva durante os ataques de maio de 2006, quando o PCC promoveu uma série de ações violentas contra forças de segurança em São Paulo.
Entre 2019 e 2022, comandou a Delegacia Geral de Polícia do Estado de São Paulo. Nesse período, liderou a transferência de chefes do PCC de presídios paulistas para unidades federais em outros estados, medida considerada estratégica para enfraquecer o poder da facção dentro das cadeias.
Ruy Fontes participou de cursos no Brasil, na França e no Canadá, e também foi professor de Criminologia e Direito Processual Penal.
Ele estava aposentado da Polícia Civil. Em janeiro de 2023, assumiu a Secretaria de Administração de Praia Grande, cargo que ocupava até agora, quando foi assassinado.
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