Mercado pet brasileiro é impulsionado por mudança em perfil familiar
Gerhard Waller
Nos últimos anos, o perfil das famílias brasileiras vem passando por uma mudança significativa: menos filhos e mais animais de estimação dentro de casa. E essa transformação tem impacto direto no crescimento acelerado do mercado pet no país.
É o que aponta uma pesquisa desenvolvida no programa de pós-graduação em economia aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
O estudo tem autoria da economista Clécia Ivânia Rosa Satel, orientação do professor Rodolfo Hoffmann e apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Nele, Clécia se baseou em informações do Censo de 2022, do IBGE, que mostram que o número médio de pessoas por domicílio caiu de 3,6, no início dos anos 2000, para 2,8.
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Paralelamente, segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) e do Instituto Pet Brasil, de 2024, o país já abriga aproximadamente 160 milhões de pets, o que corresponde a uma média de 2,2 animais por residência.
“Esse cenário ajuda a explicar por que o Brasil ocupa hoje a terceira posição mundial em população de pets e se tornou um dos mercados mais promissores do setor. Com famílias menores e a maternidade/paternidade sendo adiada ou até mesmo substituída, cresce o espaço destinado aos animais, que assumem o papel de ‘filhos de quatro patas”, analisa a pesquisadora.
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Aumento dos gastos
Em meio ao aumento da população pet dos domicílios, os gastos com eles também aumentaram. O valor médio mensal por domicílio passou de R$ 8,31, no período entre 2002 e 2003, para R$ 20,42 no biênio 2017-2018, segundo Clécia.
Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, e consideram tanto os lares que gastaram com pets quanto aqueles que não tiveram nenhuma despesa do tipo, por não possuírem animais.
Quando considerados apenas os lares que gastaram com pets, em 2017-2018, a média mensal foi de R$ 67,47. Em lares compostos por casais sem filhos, por exemplo, esse valor sobe para R$ 85,55.
Pesquisa desenvolvida na Esalq/USP aponta aumento da diversificação de produtos e serviços pets
Gerhard Waller
Diversificação de produtos
Além disso, aumentou a diversificação nos produtos e serviços oferecidos e adquiridos.
No início dos anos 2000, quase todo o orçamento destinado aos animais era gasto em ração (71,7%) e saúde (24,5%). Já em 2017-2018, esses dois itens representavam 70,5% do total, enquanto despesas com higiene, hospedagem, certificação de raças e planos de saúde ganharam espaço.
“O setor pet conseguiu se reinventar para acompanhar a nova relação das famílias com os animais de estimação […] Se antes a oferta se limitava basicamente a ração e alguns acessórios, hoje o leque de opções é muito mais amplo: alimentos diferenciados, planos de saúde veterinária, hotéis, serviços de estética, adestramento e até produtos de moda e lazer exclusivos para os pets”, elenca a economista.
Para a autora do estudo, o crescimento do setor trouxe vantagens ligadas à profissionalização e à qualidade.
Gastos aumentam conforme a renda
Outro aspecto constatado foi a relação direta dessas novas despesas com o nível de renda e de escolaridade dos tutores.
Gastos mais sofisticados, como planos de saúde, hospedagem, certificação de raça e adestramento, são mais comuns entre famílias de maior poder aquisitivo. Veja no gráfico a variação de gastos conforme a renda familiar:
O nível de instrução também pesa: quando a pessoa de referência do domicílio tem mestrado, o valor médio mensal gasto com pets alcança R$ 88,41.
“Esses números reforçam que o setor não apenas percebeu o aumento da população de animais nos lares brasileiros, mas também compreendeu a mudança no perfil dos tutores, que passaram a tratar os pets como membros da família e, em muitos casos, têm condições financeiras de investir nesse cuidado”, analisa Clécia.
Reflexo nos preços finais
A pesquisadora aponta que a concorrência mais acirrada entre as empresas do setor já reflete nos preços finais.
“O aumento de empresas no segmento pressiona a oferta de preços mais competitivos e de condições diferenciadas para atrair clientes. Em alguns casos, já é possível observar alternativas de menor custo, como consultas populares, embalagens econômicas de ração ou serviços oferecidos em formatos mais flexíveis”, explica.
Concorrência no setor pet reflete em preços para o consumidor, diz economista
Reprodução/TV TEM
Já em mercados mais exclusivos, a busca por produtos premium pode permitir a prática de valores elevados, pela promessa de qualidade diferenciada, informou a economista.
Exportações
Além do consumo interno, o setor se destaca no comércio exterior. As exportações de produtos e rações para pets saltaram de US$ 320,5 milhões em 2020 para US$ 502,7 milhões em 2024, acompanhando o crescimento expressivo do faturamento nacional, que chegou a R$ 74,4 bilhões em 2024.
A projeção para 2025 é de alta moderada, com expectativa de R$ 77,9 bilhões.
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