Pressão de 12×8 é reclassificada como pré-hipertensão em nova diretriz
O sabor adocicado do alcaçuz, presente em balas, chás e até suplementos, pode esconder um risco pouco conhecido: a elevação da pressão arterial. Estudos recentes e especialistas brasileiros apontam que o consumo frequente da raiz — de nome científico Glycyrrhiza glabra — está associado a alterações na pressão, mesmo em pessoas jovens e saudáveis.
Como age no organismo
O composto responsável pelo efeito é a glicirrizina, substância natural do alcaçuz. Quando metabolizada, ela interfere em uma enzima dos rins que normalmente desativa o cortisol, hormônio ligado ao estresse. Sem essa “barreira”, o cortisol passa a agir como se fosse outro hormônio, a aldosterona, produzida pelas glândulas suprarrenais e cuja função é reter sal e água no corpo.
Esse processo faz o organismo acumular líquidos e eliminar potássio, mineral essencial para o funcionamento dos músculos, inclusive do coração. O resultado é aumento do volume de sangue circulante e, consequentemente, da pressão arterial.
“Mesmo indivíduos sem hipertensão podem apresentar elevação da pressão após consumo contínuo de alcaçuz”, explica Maria Fernanda Naufel, nutricionista, PhD e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Alcaçuz pode estar presente em balas, gomas de mascar, licores, xaropes fitoterápicos e suplementos naturais.
AdobeStock
O que mostram os estudos
A relação já era descrita em relatos médicos, mas ganhou novas evidências em 2024. Um ensaio clínico publicado no American Journal of Clinical Nutrition acompanhou 28 voluntários saudáveis que ingeriram balas de alcaçuz com 100 mg de glicirrizina por dia durante duas semanas.
O resultado foi um aumento médio de 3 mmHg na pressão sistólica — o número mais alto da medida, que indica a força com que o coração bombeia o sangue — além de alterações hormonais que reforçam a sobrecarga cardiovascular.
“Esse aumento pode parecer pequeno, mas em larga escala tem impacto relevante sobre risco de infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC)”, afirma Bruno Sthefan, cardiologista, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Uma revisão de oito ensaios clínicos com 541 participantes mostrou resultados semelhantes: elevação de 3,5 mmHg na pressão sistólica e 1,2 mmHg na diastólica — o número mais baixo da medida, relacionado à fase de repouso do coração.
Quem deve evitar
O risco é maior para pessoas com hipertensão, doenças cardíacas ou renais, idosos e pacientes em uso de anti-hipertensivos ou diuréticos — medicamentos que controlam a pressão e aumentam a eliminação de líquidos.
Na prática clínica, já foram observados pacientes com picos de pressão, dor de cabeça, tontura e palpitações após o uso frequente de balas ou chás de alcaçuz.
Não existe uma dose universalmente segura, porque a sensibilidade individual varia de pessoa para pessoa”, ressalta Ana Melillo, nutricionista especialista em Nutrição Funcional Genética.
Onde aparece o alcaçuz
A raiz pode estar presente em balas, gomas de mascar, licores, xaropes fitoterápicos e suplementos naturais. Nos rótulos, costuma aparecer como alcaçuz, glicirrizina ou Glycyrrhiza glabra.
Na União Europeia, quando a concentração é alta, há exigência de alerta nos rótulos. No Brasil, ainda não existem estudos que indiquem o teor da substância nos produtos industrializados.
Consumo eventual
Para pessoas saudáveis, pequenas quantidades ocasionais tendem a não causar alterações relevantes. O problema surge com o uso diário e cumulativo, quando os efeitos se somam.
“Quem gosta do sabor pode consumir de vez em quando, mas sempre com moderação. Para hipertensos e pessoas de risco, a recomendação é evitar”, conclui Sthefan.