Marcelo Lombardi tinha 45 anos e morava na região do Sacomã, na Zona Sul de SP, divisa com o ABC Paulista.
Reprodução/TV Globo
Dono de um imobiliária familiar havia 16 anos na região do Sacomã, na Zona Sul de São Paulo, divisa com o ABC Paulista, o advogado Marcelo Lombardi, de 45 anos, é uma das três mortes confirmadas de contaminação por metanol em bebidas alcóolicas na Grande SP.
Lombardi foi velado na noite desta segunda-feira (29), em São Caetano do Sul, e deve ser enterrado em Santo André na manhã desta terça-feira (30). O sepultamento está marcado para as 10h.
O advogado morreu em decorrência de uma parada cardiorrespiratória e falência de múltiplos órgãos. No atestado de óbito, os médicos colocaram que o metanol foi a causa da intoxicação.
A irmã e sócia do advogado, Fernanda Lombardi, diz que a família está muito abalada com a morte dele e não teve condições de saber onde Marcelo consumiu a bebida batizada para entender como se deu a contaminação.
“Quando foi diagnosticada a intoxicação por metanol, ele já estava desorientado. E não tivemos como saber nenhuma informação dele. Logo cedo, no sábado, ele acordou e estava sem a visão. Ele só estava vendo um clarão. Foi levado para o hospital com a esposa e a minha mãe. Só que o quadro foi se agravando gradativamente. Ele tava desorientado e a gente não teve como perguntar nada pra ele, onde tinha ido. A gente não conseguiu saber de nada”, contou Fernanda ao Bom Dia SP, da TV Globo.
A família de Marcelo mora no Sacomã há mais de 30 anos e era composta de três irmãs. Eles tinham perdido o pai a menos de dois anos e se diz consternada com a morte do advogado.
“A gente espera que não aconteça com mais nenhuma família. Perder uma pessoa assim, de uma hora pra outra, é muito surreal. É muito surreal. A gente perdeu uma pessoa inexplicável. A nossa base. Realmente a nossa base”, disse a irmã.
Marcelo Lombardi tinha 45 anos e morava na região do Sacomã, na Zona Sul de SP, divisa com o ABC Paulista.
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Marcelo era casado e morava com a esposa e uma cachorrinha. A irmã contou que ele já acordou desorientado e sem visão e que não tinha participado de nenhuma festa nos dias anteriores à intoxicação.
“A esposa ligou logo cedo e disse que ele não tava enxergando. Então, minha mãe correu e levou eles para o hospital. No dia anterior ele não saiu para nenhuma festa ou comemoração. Em algum lugar ele pode ter passado e batido papo com algum amigo e tomado alguma coisa. Mas a gente não sabe onde. Sabemos que pode ser na nossa região. Ele não foi longe. Trabalha comigo todos os dias e a gente sabe que longe ele não foi. Próximo ao ABC, em São Paulo. Perto do Sacomã. Por ali foi que aconteceu”, contou Fernanda Lombardi.
A família do advogado diz que vai entregar para a polícia a garrafa de vodka que Marcelo Lombardi tinha em casa e os extratos bancários dele, para tentarem identificar algum lugar que ele tenha passado para comprar a bebida.
“Nós vamos entregar a garrafa e os extratos bancários que tem lá pra ver se eles conseguem descobrir alguma coisa. Ou que ele comprou a garrafa que tá lá à disposição da polícia, ou pode ter passado em algum lugar e ter tomado a vodka. Ele só tomava vodka. Não tomava nenhuma outra bebida. De repente, em algum lugar a polícia pode encontrar algum vestígio de alguma coisa.”, disse a irmã.
“A gente não teve cabeça pra nada. Infelizmente a nossa vida estava perfeita e, de um minuto para o outro, tudo mudou. Mas vamos fazer isso para que nenhuma outra família passe o que nós estamos passando”, afirmou.
Três mortes confirmadas
SP confirma 3ª morte por intoxicação por metanol em bebidas adulteradas
O governo de São Paulo confirmou nesta segunda-feira (29) a terceira morte por consumo de bebidas alcoólicas “batizadas” com metanol na Grande São Paulo. Um quarto óbito por intoxicação de metanol é investigado, mas não se sabe a causa da contaminação.
Segundo o comunicado, desde junho deste ano, foram confirmados seis casos de intoxicação por metanol com suspeita de intoxicação por consumo de bebida adulterada.
Atualmente, dez casos estão sob investigação, dos quais três resultaram em óbitos confirmados – um homem de 58 anos em São Bernardo do Campo, um homem de 54 anos na capital e o terceiro de 45 anos em investigação do local de residência. Outro, de um homem com histórico de etilismo crônico, está em investigação, pois não se sabe como ocorreu a intoxicação. Um caso foi descartado.
Segundo a Prefeitura de São Bernardo, o homem de 58 anos morreu em 24 de setembro após atendimento no Hospital de Urgência.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde da capital paulista informou que a vítima em São Paulo é um homem de 54 anos, morador da Zona Leste da capital. Ele apresentou sintomas em 9 de setembro e morreu no dia 15.
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Na sexta-feira (26), o Ministério da Justiça e de Segurança Pública divulgou que a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos recebeu, por meio do Sistema de Alerta Rápido, “notificação que reporta nove casos de intoxicação por metanol no estado de São Paulo, num período de 25 dias, todos a partir da ingestão de bebida alcoólica adulterada”.
O ministério apontou que os casos são “considerados fora do padrão para o curto período de tempo e também por desviar dos casos até hoje notificados de intoxicação por metanol” (leia a nota na íntegra abaixo).
O metanol não se destina ao consumo humano — e é altamente tóxico
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O que é metanol?
O metanol (CH₃OH) é uma substância altamente inflamável, tóxica e de difícil identificação. O produto é um tipo de álcool simples, incolor e inflamável, com cheiro semelhante ao da bebida alcoólica comum.
Ele já foi chamado de “álcool da madeira”, porque antigamente era obtido pela destilação de toras. Hoje, sua produção industrial é feita principalmente a partir do gás natural.
Porém, embora seja usado em pequenas quantidades na natureza, podendo ser encontrado em frutas, vegetais e até produzido pelo corpo humano em baixíssimas doses, o metanol é altamente tóxico em concentrações elevadas.
O que diz o governo federal?
“Nesta sexta-feira (26), a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad/MJSP) recebeu, por meio do Sistema de Alerta Rápido (SAR), notificação que reporta nove casos de intoxicação por metanol, no estado de São Paulo, num período de 25 dias, todos a partir da ingestão de bebida alcóolica adulterada.
O número de casos registrado, inicialmente, pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox), de Campinas (SP), e encaminhado ao Comitê Técnico do SAR é considerado fora do padrão para o curto período de tempo e também por desviar dos casos até hoje notificados de intoxicação por metanol.
O Ciatox recebeu, nos últimos dois anos, casos de intoxicação por metanol a partir de consumo de combustíveis por ingestão deliberada em contextos de abuso de substâncias, frequentemente associada à população de rua. Contudo, de acordo com a notificação de hoje, a ingestão se deu em cenas sociais de consumo alcóolico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, whisky, vodka, entre outros. São registros inéditos no referido centro toxicológico. É possível haver outros casos não notificados, uma vez que nem todos os casos de intoxicação chegam aos órgãos de vigilância e controle.
A ingestão acidental ou intencional de metanol leva a intoxicações graves e potencialmente fatais. O cenário de adulteração é particularmente relevante do ponto de vista de saúde pública, pois episódios dessa natureza frequentemente resultam em surtos epidêmicos com múltiplos casos graves e elevada taxa de letalidade, afetando grupos populacionais vulneráveis e exigindo resposta rápida das autoridades sanitárias. Nesse sentido, requer alerta à população, considerando, inclusive, o início do fim de semana, quando há maior frequência a bares e consumo de bebidas alcóolicas.
SAR – O Sistema de Alerta Rápido sobre drogas do Brasil (SAR) é um subsistema do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas – Sisnad, gerenciado pela Secretaria da Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), vinculado ao Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid)”.
Sintomas e atendimento
A recomendação do Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo é que bares, empresas e demais estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos.
Os sintomas podem incluir ataxia, sedação, desinibição, dor abdominal, náuseas, vômitos, cefaleia, taquicardia, convulsões e visão turva, principalmente após ingestão de bebidas de procedência desconhecida.
Em caso de suspeita, é fundamental buscar atendimento médico de emergência. A população pode localizar o serviço mais próximo pela plataforma.
Impactos do metanol
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