‘Bênção de Deus, né minha fia?’ vira bordão de vovó influencer que soma mais de 3 milhões de seguidores na internet


Neta compartilha rotina da avó que tem Alzheimer e viraliza na internet
“Uma bênção de Deus, né minha fia?”, a frase dita na maioria dos vídeos que ultrapassam facilmente 100 mil visualizações é da Valdeci Valdecir Laurinda dos Santos, de 88 anos, conhecida como Vovó Valdeci, que mora com os netos em Taciba, no interior de São Paulo. Assista acima.
Em celebração ao Dia Internacional do Idoso, nesta quarta-feira (1º), o g1 conversou com Patrícia Amaral, de 42 anos, esposa do neto da vovó Valdeci. Ela é quem administra os perfis das redes sociais e grava os vídeos que divertem e emocionam os internautas.
“A ideia de gravar foi da minha filha Giovana, que viu como a vovó se transformou devido aos nossos cuidados e ela [a idosa] é super engraçada. Costumávamos deixar gravado pra nós e a Giovana começou a pegar no meu pé pra abrir um Instagram e poder mostrar as pessoas que é possível tornar os cuidados com leveza”, relembra.
Vídeos da Vovó Valdeci chegam em mais de 100 mil visualizações cada. Alguns ultrapassam Meio milhão de visualizações
Reprodução/redes sociais
Vovó influencer
Os conteúdos dos vídeos são trechos da rotina da idosa, com frases espontâneas ditas por ela, desde elogios até sermões, acompanhadas do sorriso que cativa e se tornou marca registrada da vovó, segundo a neta.
“Para nós, foi surpreendente e, para falar a verdade, está sendo até hoje, pois não imaginávamos que iríamos ajudar tantas pessoas e famílias mostrando nossa rotina”.
Atualmente, os seguidores da vovó Valdeci somam mais de 3 milhões, entre os perfis no Instagram e TikTok, sem contar as páginas de fã-clubes criadas no Facebook. “No dia 23 de janeiro de 2024, publicamos nosso primeiro vídeo e com três meses já estávamos com mais de 350 mil seguidores”, afirma Patrícia.
Vovó Valdeci conquistou o público de mais 3 milhões de seguidores na internet
Reprodução/redes sociais
Convívio com o Alzheimer
Vovó Valdeci convive com o Alzheimer há 10 anos e, devido à doença, o cuidado precisa ser ainda mais empático, já que há momentos em que ela lembra mais do passado do que do presente.
“Sempre falo pra vovó que ela é famosa, leio os comentários, mas ela esquece por conta da doença. Quando pego o celular é impressionante, ela já solta um sorrisão aqui e não edito nada, quando vejo que vai sair alguma pérola já pego o celular e ainda perco muita coisa, pois não tem como filmar 24 horas”, continua.
Segundo o Ministério da Saúde, a Doença de Alzheimer (DA) é um transtorno neurodegenerativo progressivo e pode ser fatal, que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória.
Um Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras, divulgado pelo Ministério da Saúde em 2024, estimou que 8,5% da população com 60 anos ou mais convivem com a doença, representando aproximadamente 1,8 milhão de casos.
Até 2050, conforme projeção do relatório, 5,7 milhões de pessoas deverão ser diagnosticadas com demência no país, sendo o Alzheimer a forma mais comum.
A causa da doença ainda é desconhecida, mas há possibilidade de ser genético. “Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas de idade, sendo responsável por mais da metade dos casos de demência nessa população”, conforme o Ministério da Saúde.
A partir do diagnóstico, pacientes com a doença vivem, em média, entre 8 e 10 anos, dependendo do quadro clínico, dividido em quatro estágios:
Estágio 1 (inicial): alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais;
Estágio 2 (moderado): dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos, além de agitação e insônia;
Estágio 3 (grave): resistência à execução de tarefas diárias, incontinência urinária e fecal, dificuldade para comer e deficiência motora progressiva;
Estágio 4 (terminal): incapacidade de sair da cama (restrição ao leito), redução da fala, dor ao engolir e infecções intercorrentes.
Neta Patrícia compartilha rotina da vovó Valdeci, que tem Alzheimer, e viraliza na internet
Patrícia Amaral/Arquivo pessoal
“O maior cuidado que temos que ter com a vovó é não deixar ela sozinha e ter paciência em escutar… Vovó conta que trabalhou colhendo algodão quando era solteira e, depois que casou, só cuidou da casa e dos filhos”, reforça Patrícia. Ao todo vovó Valdeci tem 12 filhos vivos, 29 netos e 22 bisnetos.
Giovana Amaral, 26 anos, bisneta da vovó Valdeci e psicóloga, relembra que, antes de se mudar para a casa dos netos, a idosa apresentava comportamentos mais hostis e agressivos em razão do Alzheimer.
“Isso era fruto do sentimento de abandono que carregava. Por mais que esquecesse, digo que, no Alzheimer, as memórias afetivas permanecem vivas. Quando ela passou a viver com meus pais, esse quadro mudou de forma significativa”, conta.
Uma das melhoras observadas foi o bom humor, segundo Giovana. “Ela se sentiu mais segura, menos agressiva e com espaço para que sua essência pudesse se revelar nos detalhes, nas falas e nos gestos”.
“Apesar dos esquecimentos imediatos, é no jeito carismático, bem-humorado e cheio de fé que ela mostra quem realmente é”, continua.
A transformação trouxe uma nova perspectiva para a família, que passou a observá-la com alguém vulnerável, afirma a bisneta. “Compreendendo que os comportamentos não eram culpa dela, mas sintomas da doença, conseguimos responder com mais cuidado, paciência e carinho, algo que nunca havia acontecido antes de forma tão consciente”.
Vovó Valdeci com a bisneta Giovana
Giovana Amaral/Arquivo pessoal
Cuidado da família
O apoio da família está sendo essencial para a velhice saudável da vovó Valdeci, que mora na chácara com os netos, Patrícia e o esposo Edson, de 43 anos, e o bisneto Matheus, 18 anos.
Este apoio é reforçado pelo Estatuto da Pessoa Idosa, criado em 2003, que considera idoso a partir dos 60 anos. Confira alguns trechos da lei a partir dos seguintes artigos:
Art. 3º – É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar à pessoa idosa, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária;
Art. 4º – Nenhuma pessoa idosa será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei;
Art. 8º – O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente.
Conforme a neta, a família decidiu cuidar da vovó Valdeci após ela já ter passado pela casa de outros parentes que não conseguiram se adaptar com a rotina. “Quando decidimos cuidar da vovó foi isso que sentei com meu esposo e conversamos, nós sabíamos das queixas que tem da vó, sabíamos as dificuldades que iríamos passar”.
“Eu falei: se quiser deixar a vovó aqui em casa, por mim, não tem problema nenhum, só tem uma condição, vamos cuidar dela até o fim da sua vida, pois chega dela ficar ‘pra lá e pra cá’ e foi a mulher decisão que tivemos”, afirma.
Vovó Valdeci passou a morar com os netos há quatro anos e a Patrícia decidiu sair do emprego em que estava há 13 anos para poder cuidar de forma integral. “Me arrependo de não ter saído antes. A vovó teve uma melhora surpreendente que se eu não tivesse gravando ninguém acreditaria”.
“A sensação dos vídeos serem viralizado é de dever cumprido, sabe que agora a vovó é reconhecida, amada por muitos. O sentimento maior é poder mostrar para às pessoas que é possível cuidar com amor, paciência, atenção, pois os momentos tornam mais leve”, completa.
Família da vovó Valdeci
Giovana Amaral/Arquivo pessoal
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