Após reportagem do g1, Caixa adia fechamento de agência em região de SP com pouco transporte público e internet


Agência da Caixa vai fechar em região de SP com pouca internet e transporte irregular
A Caixa Econômica Federal adiou o fechamento da agência em Cipó-Guaçu, no extremo sul da Grande São Paulo.
O fechamento estava marcado para 6 de outubro, mas uma reportagem do g1 mostrou que a agência está localizada em uma região entre São Paulo e Embu-Guaçu, a cerca de 50 km da Praça da Sé. O local tem pouca ou nenhuma conexão à internet e conta com transporte público irregular, o que dificulta tanto o uso dos aplicativos do banco quanto o deslocamento até outras agências.
A notícia tinha abalado os moradores de Cipó-Guaçu e arredores, que dependem da agência para sacar os benefícios do governo federal, como o Bolsa Família, auxílio-gás e FGTS.
Em nota enviada ao g1 nesta quarta-feira (1º), a Caixa afirmou que a agência atual permanecerá atendendo a população até a inauguração de um canal de atendimento em Cipó-Guaçu. Ainda não há data para a mudança.
A instituição bancária informou ainda que um caminhão-agência foi para Cipó-Guaçu e passará a funcionar nos próximos dias (veja nota completa da Caixa abaixo).
Onde fica Cipó-Guaçu
🗺️Cipó-Guaçu é um distrito de Embu-Guaçu que recebeu esse nome porque, no passado, os moradores usavam cipós para atravessar um rio. Hoje, os cipós já não fazem parte da paisagem, mas algumas ruas de terra ainda resistem. Embora faça parte da Grande São Paulo, o distrito funciona como um enclave urbano, bastante frequentado por quem vive nas áreas de mata da capital, como Marsilac e Parelheiros, e até de Itanhaém. Sim, apesar de estar longe do mar, aplicativos de geolocalização às vezes indicam áreas de mata como parte da cidade litorânea.
A agência da Caixa fica na Rua Sesefredo Klein Doll, bem no centrinho do Cipó.
O motivo inicial para o fechamento, segundo a Caixa, é o redimensionamento da rede de atendimento, “avaliado continuamente considerando aspectos estratégicos, mercadológicos e operacionais, com foco em eficiência, conveniência e qualidade do serviço prestado à população”.
“Como parte desse processo, o banco tem ampliado sua rede de canais digitais, oferecendo soluções modernas e eficientes, o que permite maior agilidade, comodidade e personalização nos serviços prestados”, diz a assessoria de imprensa.
E terminava o e-mail lembrando dos canais remotos e digitais que dispõe: Internet Banking CAIXA e os aplicativos CAIXA Tem, Cartões CAIXA, Habitação CAIXA, FGTS, dentre outros. Por telefone, os clientes podem contatar o Alô CAIXA (4004 0104, capitais e regiões metropolitanas; 0800 104 0104, demais regiões).
Mas muitas pessoas da região não têm internet, sequer celular. O g1 esteve nos bairros e conversou com algumas delas. E também ficou sem sinal de internet.
José Miguel Pinhal, 65 anos, que já trabalhou como motorista e balconista, sempre no Cipó, não faz PIX, nem transferências. Vai a pé, uma vez por mês, sacar dinheiro, dentre outros serviços.
“Prejudica não só para mim, prejudica para todos. Se fecha aqui, temos que ir lá para Embu-Guaçu”.
A agência de Embu fica a aproximadamente 8 km do centro do Cipó, o que representa cerca de 25 minutos de ônibus. Para os moradores da zona rural — onde vive boa parte da população que depende do banco — é preciso acrescentar pelo menos mais 8 km ao trajeto. Outra agência “próxima”, é a Caixa de Parelheiros, a 17 km dali, e já bem movimentada.
José Miguel Pinhal, que não tem celular e internet, e usa a agência da Caixa de Cipó
Cíntia Acayaba/g1
Agência da Caixa em Cipó-Guaçu
Cíntia Acayaba/g1
Transporte
Do Centro do Cipó, há transporte regular de ônibus. Mas para chegar até ali, é preciso improvisar. A pé, a cavalo, carona ou em um ônibus que passa de manhã, à tarde e à noite.
Pouco tempo atrás, nem isso. O “ônibus dos três horários” ficou sem passar por meses. No dia em que o g1 estava lá, o ônibus quebrou e o óleo derramou na terra. O motorista disse que teria que arcar tanto com o guincho, como com o conserto, sem apoio da prefeitura. O g1 procurou a administração municipal e aguarda posicionamento.
Outra opção na região é um “táxi-amigo”, um motorista disposto a ajudar. Ele pega os passageiros, leva botijão de gás, nos serviços de saúde, dentre outras funções. O pagamento? Só em dinheiro vivo.
“O PIX não chegou por aqui. Muitas vezes fico sem receber e dou um voto de confiança nas pessoas”, disse o taxista-amigo Alessandro Dutra.
Ônibus quebrado em Cipó-Guaçu
Cíntia Acayaba/g1
Caixa para os pobres
A Caixa Económica foi criada em 1861, por Dom Pedro II, com o propósito de incentivar a poupança para os mais pobres, incluindo pessoas escravizadas, que a usavam para juntar dinheiro e comprar a própria alforria. A instituição permitiu depósitos para escravos antes mesmo da abolição, sendo uma alternativa mais segura do que guardar o dinheiro em casas ou com os senhores.
Em frente à agência da Caixa do Cipó, a pasteleira se desesperou com o fechamento do que chama de “única riqueza da cidade”.
“A única coisa que tem aqui é esse banco. Tanto lugar para fechar, querem fechar logo aqui. Vem de longe, vem do mato, vem sem perna, que até tenho que ajudar para colocar lá dentro da agência”, diz Rose Aparecida, 63 anos.
“Eu não sei ler, tenho que entrar no banco, não sei passar a maquininha. Tiro o dinheiro para pagar tudo. Eu não sei fazer PIX, não sei fazer nada, não tem que tirar, porque esse homem quer tirar esse banco. Tem que pôr mais banco, não tirar o que tem”, disse Rose Aparecida, 63 anos.
O que diz a Caixa
“A CAIXA informa que realiza avaliações contínuas da sua rede de atendimento, sempre para oferecer conveniência, qualidade e eficiência para a população.
Quando há necessidade de reposicionamento de uma unidade, os clientes passam a contar com agências próximas, preparadas para absorver a demanda e manter a qualidade do atendimento. Esse processo é planejado para não haver prejuízo aos serviços oferecidos. Nestes casos, os empregados das unidades são realocados para agências da região, considerando critérios de proximidade e alinhamento com os interesses da CAIXA e dos empregados, assegurando a continuidade profissional.
O banco vem consolidando um movimento estratégico que combina capilaridade, inovação e eficiência no uso de recursos públicos. Essa estratégia prevê a expansão de unidades em municípios desassistidos, além de reforço nas estruturas digitais e fusão de unidades próximas em grandes centros.
A CAIXA está presente em 98% dos municípios brasileiros, com uma rede ampla de unidades físicas composta por mais de 25 mil pontos de atendimento. São cerca de 4 mil agências e postos de atendimento, 13 mil lotéricos e 8 mil correspondentes CAIXA Aqui, 11 agências-caminhão, uma unidade de atendimento móvel e duas agências-barco. Ainda, disponibilizamos à população 23,6 mil caixas eletrônicos, além de 24,9 mil terminais da Rede Banco 24 horas.
Além disso, parcerias estratégicas com os Correios e o INSS ampliam e complementam a capacidade de atendimento em regiões de difícil acesso.
Sobre Embu-Guaçu, o município conta com a presença de duas agências da Caixa e três lotéricas.
A alteração que ocorrerá no município será a transformação de um canal de atendimento em Cipó-Guaçu com mudança de endereço, que oportunamente será divulgada para os clientes e cidadãos do município.
Reforçamos que a agência atual permanecerá atendendo a população até a inauguração no novo endereço, além do caminhão-agência que já está na localidade e passará a funcionar nos próximos dias.”
Mapa de Cipó-Guaçu
Arte/g1

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