Rogério Andrade distribuiu mais de R$ 500 mil em propina a PMs e policiais civis em 2 dias, aponta MP


Presidente da Mocidade é preso em operação do MPRJ contra a nova cúpula do jogo do bicho
Documentos do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) revelam que o bicheiro Rogério Andrade distribuiu R$ 502 mil em propina a batalhões da Polícia Militar e delegacias da Polícia Civil em apenas dois dias — 6 e 9 de maio de 2023.
O objetivo dos repasses, segundo os investigadores, era garantir a continuidade da exploração ilegal do jogo do bicho e de máquinas caça-níquel em diversos pontos do estado.
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A investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) apontou que os pagamentos foram supervisionados por Rogério Andrade e seu braço direito, Flávio da Silva Santos, conhecido como Flávio da Mocidade. Ele é presidente da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel e foi preso nesta sexta-feira.
Os valores constam em uma tabela de contabilidade apreendida pelos investigadores, chamada “Botafogo”.
Rogério Andrade e Flávio da Silva Santos, o Flávio da Mocidade
Reprodução/TV Globo
Propina detalhada
Os repasses de propina aos batalhões da Polícia Militar seguiam uma lógica de distribuição territorial, com valores direcionados a unidades que atuam em áreas estratégicas para a exploração de jogos de azar.
Em apenas dois dias, o grupo liderado por Rogério Andrade destinou centenas de milhares de reais a diferentes batalhões, com o objetivo de garantir a omissão de ações policiais e permitir o funcionamento de bingos e máquinas caça-níquel em plena luz do dia.
A contabilidade detalhada dos pagamentos revela um esquema sistemático e organizado, com valores fixos e datas específicas para os repasses. Segundo o MPRJ, os pagamentos foram distribuídos da seguinte forma:
Polícia Militar (PM):
2º BPM (Botafogo): R$ 25 mil
4º BPM (São Cristóvão): R$ 11 mil
5º BPM (Centro): R$ 22 mil
19º BPM (Copacabana): R$ 48 mil
P2 do 19º BPM: R$ 6 mil
23º BPM (Leblon): R$ 30 mil
Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPtur): R$ 45 mil
Comando de Polícia Pacificadora (CPP): R$ 5 mil
UPPs (Prazeres, Macacos, Turano, Babilônia/Chapéu Mangueira, Pavão-Pavãozinho-Cantagalo, Vidigal): valores não especificados
Vídeos flagram presidente da Mocidade se escondendo na escada de prédio, diz MP
Além dos policiais militares, agentes da Polícia Civil também recebiam propina do esquema controlado por Rogério Andrade, segundo o MP.
A investigação apontou que os valores eram divididos entre delegacias distritais — chamadas de “grandes distritais” — e delegacias especializadas, totalizando R$ 281 mil em apenas dois dias.
As delegacias distritais receberam R$ 146 mil, enquanto as especializadas foram contempladas com R$ 135 mil. O objetivo era assegurar que agentes públicos omitissem ou retardassem ações de fiscalização, permitindo o funcionamento de bingos e máquinas caça-níquel em áreas comerciais.
Polícia Civil:
Delegacias distritais: R$ 146 mil
Delegacias especializadas: R$ 135 mil
Também há menções a DELFAZ, DELECON, ICCE e outras estruturas da Polícia Civil.
Presidente da Mocidade é preso
Na sexta-feira (3), o presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel, Flávio da Silva Santos, conhecido como Pepé ou Flávio da Mocidade, foi preso em operação do Ministério Público.
Flávio tentou fugir pela porta de serviço de seu apartamento, mas acabou se entregando e foi levado para a Cidade da Polícia.
Flávio da Silva Santos, o Pepé ou Flávio da Mocidade
Reprodução/TV Globo
Segundo o MP, Flávio é o braço direito de Rogério Andrade e integra a nova cúpula do jogo do bicho no estado. Em mensagens encontradas em seu celular, há indícios de que ele gerenciava o pagamento de propina a agentes públicos. A submissão ao chefe era tamanha que Flávio tatuou o rosto de Rogério Andrade no próprio corpo.
A operação também teve como alvo Vinícius Drumond, filho de Luizinho Drumond, ex-presidente da Imperatriz Leopoldinense. Vinícius é apontado como aliado do grupo criminoso.
Em seus endereços, foram apreendidos carros, cerca de R$ 120 mil em espécie e uma máquina de contar dinheiro.
Rogério Andrade segue preso
Já Rogério Andrade, apontado como chefe do grupo criminoso, segue preso há um ano no Presídio Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
Ele é acusado de ser o mandante do assassinato do rival Fernando Iggnácio e responde por organização criminosa e corrupção ativa.
Rogério de Andrade, maior bicheiro do Rio, é preso na manhã desta terça-feira, 29, no Rio de Janeiro
JOSE LUCENA/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO
A Justiça determinou que Flávio da Mocidade seja transferido para uma penitenciária de segurança máxima fora do Rio, seguindo o mesmo destino de seu chefe.
O que dizem os citados
Em nota, a Polícia Militar informou que, segundo a Corregedoria interna da Corporação, um policial militar foi identificado no momento da operação do Ministério Público.
“Ele foi conduzido para a sede da 2ª DPJM na manhã desta sexta-feira (03) para prestar esclarecimentos e um procedimento apuratório será instaurado”.
A corporação disse ainda que “não compactua com possíveis desvios de conduta ou cometimento de crimes praticados por seus entes, punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos”.
Já os gestores da Polícia Civil informaram, em nota, que a corporação “não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta e atividade ilícita, reiterando seu compromisso de combate ao crime em defesa da sociedade”.
O advogado Marcio Castellões, responsável pela defesa de Vinícius Drumond, informou que “não foi possível ter acesso ao inteiro teor do procedimento judicial e que vai aguardar para manifestação em momento futuro”.
A defesa de Rogério Andrade preferiu não se manifestar.

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