Pernambuco investiga casos suspeitos de intoxicação por metanol no estado
TV Globo/Reprodução
Depois de São Paulo, Pernambuco foi o segundo estado do país a notificar casos suspeitos de intoxicação por metanol. A substância, semelhante ao álcool, causa danos severos ao corpo após ser metabolizada, como perda de visão, falência múltipla dos órgãos, podendo chegar à morte.
A principal suspeita é que a substância foi misturada em bebidas alcoólicas adulteradas, especialmente em destilados como uísque, vodca, conhaque e cachaça.
✅ Receba no WhatsApp as notícias do g1 PE
Ao todo, oito casos estão sendo investigados no estado: cinco no Agreste, dois no Grande Recife e um no Sertão. As ocorrências levaram à abertura de ao menos um inquérito policial e ao reforço da fiscalização em depósitos e lojas de bebidas.
Confira o que se sabe sobre os casos suspeitos de intoxicação por metanol em Pernambuco:
Quais são os casos notificados oficialmente?
Existem outros casos em investigação?
Quem são as vítimas já identificadas?
Algum caso já foi descartado?
Como os casos podem ter acontecido?
O que diz a vigilância sanitária?
Como é feita a investigação pericial?
O que as autoridades estão fazendo?
Quais são os riscos do metanol?
O que falta saber?
Quais são os casos notificados oficialmente?
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), até sexta-feira (3), foram oficialmente seis casos suspeitos notificados:
uma morte em Lajedo;
um homem que perdeu a visão, também em Lajedo;
uma morte em João Alfredo;
uma mulher de Olinda, internada após beber vodca, com sintomas como náusea, vômito, dor de cabeça e visão turva;
uma mulher de São Paulo, internada em Ipojuca após beber gin, com dormência nas mãos, pés e formigamento na boca;
uma mulher do Cedro, internada após beber cachaça e apresentar taquicardia, visão turva e dor de cabeça.
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
Existem outros casos em investigação?
Sim, outros dois casos ainda não foram notificados à SES. Um deles foi registrado pelo Hospital Mestre Vitalino (HMV), em Caruaru, na sexta, enquanto o outro foi informado pela Polícia Civil em entrevista coletiva na quarta (1º):
Jonas da Silva Filho, de idade não informada e morador de Lajedo, que morreu na madrugada do dia 29 de agosto, antes de ser transferido para o HMV;
Um homem de 33 anos, de nome não divulgado, que mora em Lagoa do Ouro e está internado na unidade hospitalar de Caruaru.
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
Quem são as vítimas?
Não foram divulgados os nomes dos pacientes atendidos nas cidades de Olinda, Cedro, Ipojuca e Lagoa do Ouro. Entre as possíveis vítimas por metanol, estão:
Celso da Silva, 43 anos, de Lajedo. Deu entrada no HMV em 2 de setembro e morreu no dia 9;
Marcelo dos Santos Calado, 32 anos, também de Lajedo. Foi internado em 4 de setembro, recebeu alta em 23 de setembro, mas perdeu a visão;
Ronaldo de Lima Melo, 30 anos, de João Alfredo. Foi internado em 26 de setembro no HMV e morreu em 30 de setembro;
Jonas da Silva Filho, de Lajedo, que morreu em 29 de agosto antes de ser levado ao HMV (caso sob apuração policial, mas não notificado pela SES).
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
Algum caso já foi descartado?
Sim. Na sexta-feira (3), a SES chegou a informar a notificação de um caso suspeito em Gravatá, no Agreste.
De acordo com a secretaria, um homem buscou atendimento, em Caruaru, com relato de dificuldade para enxergar após a ingestão de bebida alcoólica destilada. No mesmo dia, o caso foi anunciado como descartado pela SES.
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
Como os casos podem ter acontecido?
De acordo com o delegado de Lajedo, Cledinaldo Orico, há indícios de que três vítimas da cidade tenham consumido uísque comprado em um caminhão que passou por Belo Jardim, no Agreste do estado, para revenda.
“Não era um bar. Um deles adquiriu esses produtos com finalidade de revenda, mas, ao que indica, não tinha desconfiança da corrupção tóxica dessa bebida e também fez a ingestão. Três pessoas fizeram essa ingestão, duas delas faleceram e uma, graças a Deus, está viva, mas com a visão comprometida”, afirmou o delegado.
Segundo a Secretaria de Saúde, os demais pacientes relataram sintomas de intoxicação após ingestão de vodca, gin, cachaça e conhaque, em situações não detalhadas.
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
O que diz a Vigilância Sanitária?
Segundo a Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), a contaminação é mais comum nos destilados, mas qualquer bebida pode ser fraudada.
Em São Paulo, a principal linha de investigação é de que os casos de intoxicação por metanol têm como origem garrafas de bebidas destiladas higienizadas com a substância.
A Apevisa orientou consumidores a comprar bebidas apenas em locais licenciados, checar rótulos, lacres e registros do Ministério da Agricultura e desconfiar de preços muito abaixo do mercado.
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
Como é feita a investigação pericial?
Polícia realiza perícia em produtos e amostras biológicas suspeitas de contaminação
Segundo a Polícia Científica, as amostras são analisadas em um equipamento chamado cromatógrafo gasoso, que identifica a presença de metanol em bebidas ou outros fluidos (veja vídeo acima).
Em entrevista à TV Globo, o perito Rafael de Arruda explicou que a presença de metanol indica contaminação proposital, já que a substância não é utilizada para consumo humano em nenhuma circunstância.
De acordo com o médico legista Mauro Catunda, não existe característica específica nos corpos das vítimas que indiquem a morte por intoxicação com metanol. “Para confirmar, é preciso encontrar essa substância nas amostras de sangue”, disse.
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
O que as autoridades estão fazendo?
A Apevisa e a SES ampliaram a fiscalização em pontos de venda e distribuidores de bebidas, com coleta de amostras suspeitas, interdição preventiva de lotes e parcerias com Procon, Ministério Público e Ministério da Agricultura.
A polícia também requisitou exames periciais em bebidas e corpos, além de prontuários médicos das vítimas, e comunicou autoridades de outros estados, como São Paulo, para verificar se há ligações entre os casos.
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
Quais são os riscos do metanol?
O metanol é um produto de uso exclusivo industrial e não deve estar presente em bebidas alcoólicas. Altamente tóxico, pode provocar cegueira, falência de órgãos e morte mesmo em pequenas quantidades. Por não alterar cor, cheiro ou sabor das bebidas, é impossível identificá-lo sem análise laboratorial.
Ao ser metabolizado, o metanol se transforma em ácido fórmico, substância altamente tóxica, que causa danos especialmente às vias oculares, podendo provocar cegueira.
Em pequenas quantidades, já é capaz de levar à falência múltipla dos órgãos. O acúmulo do ácido fórmico provoca a acidose metabólica severa e a lesão direta de órgãos, como rins e o nervo óptico, podendo levar à cegueira e à morte.
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
O que falta saber?
Ainda não há confirmação laboratorial oficial de que as mortes e sintomas registrados em Pernambuco tenham sido causados por metanol.
A Polícia Científica segue com os exames em andamento. A origem das bebidas suspeitas, apontadas como uísques adquiridos em um caminhão em Belo Jardim, também está sob apuração.
⬆️ Voltar ao início desta reportagem.
Metanol em bebidas: só teste de laboratório pode detectar
VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias