Sesab emite orientação sobre possíveis casos de intoxicação com metanol na Bahia
Com a investigação de dois casos suspeitos de intoxicação por metanol na Bahia, o alerta para a situação aumentou no estado. Segundo a Secretaria de Saúde (Sesab), um homem de 56 anos morreu em Feira de Santana, quatro dias após dar entrada no hospital. O segundo caso suspeito de envenenamento pela substância foi confirmado pelo Ministério da Saúde e registrado em Salvador.
Ao longo dos anos, o estado já registrou casos da doença. Na década de 1990, pelo menos 51 pessoas morreram intoxicadas pela substância.
Os primeiros registros começaram em julho de 1990, na cidade de Santo Amaro, no Recôncavo baiano, onde 16 pessoas morreram e outras 20 foram internadas após ingerir o metanol. A substância tóxica estava misturada com a cachaça. Parte das vítimas intoxicadas que sobreviveram tiveram sequelas como cegueira e surdez.
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Já em 1999, a Sesab informou que, ao todo, 35 pessoas morreram devido à intoxicação por metanol. Uma mulher grávida de cinco meses estava entre as vítimas.
Ainda naquele ano, uma fábrica clandestina foi encontrada em Iguaí, no sudoeste do estado, onde eram produzidos 250 litros de cachaça por semana. A bebida era armazenada em tonéis de plástico usados para transportar metanol.
Bahia tem histórico de intoxicações por metanol na década de 90
Reprodução/TV Bahia
Bahia tem histórico de intoxicações por metanol na década de 90
Reprodução/TV Bahia
O metanol é tóxico porque, ao contrário do etanol, não consegue ser metabolizado pelo corpo humano. “A gente não identifica o sabor e o cheiro do metanol porque ele é tóxico. Então a gente não bebe e não cheira”, pontuou o professor e químico, Maurício Victor, em entrevista à TV Bahia.
“Quando ele entra no organismo, ele vai para o fígado, [lá] ele é oxidado para formaldeído e [este] é oxidado para ácido-fórmico. Independente do termo técnico, o ácido-fórmico quando vai para o organismo não é decomposto rapidamente e fica na corrente sanguínea”, explica o professor.
Por ser um ácido, a substância muda o Potencial Hidrogênico (PH) — escala que mede a acidez, neutralidade ou alcalinidade de soluções aquosas — do sangue. Essa alteração começa a danificar os tecidos, ou seja, onde o sangue contaminado passa pelo corpo começa a ser destruído.
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Ainda segundo o professor, uma dose fatal de metanol é de aproximadamente 1 ml por quilo. Em outras palavras, uma pessoa que pesa 70 kg pode morrer se ingerir 70 ml da substância. Para o especialista, as cervejas e vinhos não despertam o interesse de produtores clandestinos por questões comerciais.
“É diferente de um litro whisky, de vodca ou gim, que são bebidas muito mais caras. Aí [a pessoa] paga o metanol mais barato e vale a pena fazer essa falsificação”, analisa.
Primeiro caso suspeito de intoxicação por metanol na Bahia em 2025
Sesab investiga morte suspeita por metanol em Feira de Santana
A Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) e a Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana confirmaram, na manhã desta sexta-feira (3), o primeiro caso suspeito de intoxicação por metanol no estado.
Segundo informações da Sesab, o paciente é um homem de 56 anos, que deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Queimadinha, em Feira de Santana, na segunda-feira (29), e morreu na madrugada desta sexta.
A equipe de produção da TV Bahia apurou que a vítima era Marcos Evandro Santana da Costa. Familiares do homem contaram à TV Subaé, afiliada da emissora na região, que ele foi encontrado sozinho em casa, desacordado, com alteração no nível de consciência e palidez.
Parentes o levaram até a unidade de saúde e, no local, os médicos acionaram os protocolos para investigar se houve investigação por metanol após considerar o quadro de saúde do homem e o histórico dele de alcoolista crônico.
Em meio a isso, a Secretaria de Saúde do estado afirmou que amostras biológicas serão coletadas e encaminhadas para análise laboratorial. O resultado, que deve confirmar ou descartar a hipótese de intoxicação, deve ser divulgado em até sete dias.
Paciente que morreu com risco de intoxicação por metanol foi identificado como Marcos Evandro Santana da Costa
Reprodução/Redes Sociais
A intoxicação por metanol a partir do consumo de bebidas alcoólicas batizadas — como gin, vodca e whisky — já provocou casos de internação grave, perda de visão e até mortes no estado de São Paulo nas últimas semanas.
🔍 O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos, é altamente perigoso quando ingerido. Inicialmente, ataca o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas que comprometem a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo causar cegueira, coma e até morte. Também pode provocar insuficiência pulmonar e renal.
Bahia registra primeiro caso de suspeito de intoxicação por metanol
Reprodução/ TV Globo
Na quinta-feira (2), a Sesab emitiu orientação às unidades de saúde da rede privada e às portas de urgência e emergência da rede pública para que estejam atentas a possíveis situações clínicas compatíveis com intoxicação por metanol. A pasta ressaltou que quaisquer notificações sejam imediatamente comunicadas, possibilitando rápida investigação e adoção das medidas necessárias.
A secretaria informou que o caso será acompanhado pelas equipes de vigilância estaduais e municipais, em articulação com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA).
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Arte/g1
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