‘Ficha que demora a cair’, diz advogada que enfrentou violência doméstica por 20 anos e foi acolhida por colegas no RS


Espaço de acolhimento na OAB
Uma advogada que conhece bem as leis viveu quase 20 anos em silêncio, vítima de violência doméstica. Mesmo com medida protetiva vigente e longe do ex-companheiro, ela ainda não se sente segura.
O caso aconteceu em Porto Alegre e foi acolhido pela Sala Pérola, projeto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para defesa de vítimas de violência doméstica no estado.
A mulher, que prefere não se identificar, relata anos de ameaças e manipulações psicológicas.
“Ele disse para mim: ‘tenho vontade de rachar tua cabeça no meio’. Me levou para a beira da praia, e eu mandei uma mensagem para a minha mãe: ‘se eu não responder, é porque aconteceu alguma coisa'”, conta.
📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp
Ela descreve o ciclo de violência como difícil de romper: “Você acaba acreditando naquilo que o agressor te diz. Ele te seduz dizendo que não vai te machucar, que agora vai dar certo, que temos uma filha. E quando tu abre essa brecha, ele volta pior”.
Vítima de violência doméstica foi acolhida por ambiente especial na OAB/RS
Reprodução/RBS TV
Apoio dentro da OAB
Sem apoio da família ao denunciar, a advogada encontrou acolhimento dentro da própria OAB. Na Sala Pérola, na sede de Porto Alegre, ela recebeu escuta qualificada e suporte emocional.
“Eu estava com vergonha, com receio. Mas tive todo um acolhimento dos colegas. Tem um curso preparatório para fazer a oitiva da vítima. Depois, recebi suporte da OAB em geral”, relata.
O atendimento é feito por advogadas treinadas e também está disponível online, para profissionais de todo o Rio Grande do Sul.
Reconhecimento como vítima
Segundo Maiaja Franklin de Freitas, coordenadora da Sala Pérola e vice-presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB/RS, muitas advogadas demoram a reconhecer que estão em situação de violência.
“É uma ficha que demora a cair. Quando tu é advogada, tu nega: ‘isso não está acontecendo comigo’. Seja violência psicológica ou financeira, que são as mais comuns”, explicou.
Ela reforça que o projeto existe para ajudar colegas a romper o ciclo. “A Sala Pérola vem para dizer: ‘tu está com dificuldade, vamos identificar isso’. O sistema da OAB tem meios para te auxiliar.”
Sala de Acolhimento Pérola oferece atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica no RS
Reprodução/RBS TV
Superação
A advogada atendida pelo projeto acredita que, sem esse suporte, ainda estaria presa ao ciclo de violência.
“Várias vezes, eu acho que a solução dos meus problemas é retomar o casamento. Mas se tu não tiver um suporte desse, tu não consegue sair”, comenta.
Maiaja compara o processo à superação de uma tempestade: “No momento é horrível, é uma tormenta, mas vai passar. A violência doméstica sempre passa. Mas precisamos que os nossos direitos sejam garantidos efetivamente”, diz.
Sala de Acolhimento Pérola oferece atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica no RS
Reprodução/RBS TV
VÍDEOS: Tudo sobre o RS

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *