Justiça determina que SP transfira adolescente Lavínia Mendes com mielite transversa em estado gravíssimo
Arquivo Pessoal
A Justiça determinou, por meio de medida liminar, que a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo e a Secretaria Municipal da Saúde da capital providenciem a transferência imediata de uma adolescente que está internada no Hospital do Grajaú em estado gravíssimo.
Lavínia Mendes Domingues, de 17 anos, tem mielite transversa aguda e precisa de outra unidade hospitalar com recursos especializados em neurologia.
A decisão da juíza Patrícia Persicano Pires, da 16ª Vara da Fazenda Pública, é da quarta-feira (8). Até a última atualização desta reportagem, a família ainda aguardava o cumprimento da liminar e descreveu a situação como “desesperadora”.
“É desesperador ver minha filha desse jeito e não conseguir fazer nada. Tem que sair essa transferência para um hospital que tenha recursos para tratá-la, porque ela não pode ficar assim. É uma menina de 17 anos que tem uma vida toda pela frente. Aconteceu isso da noite para o dia. Ela está paralisada, não mexe os membros. Para ela é sofrimento, porque ela está vendo tudo o que está acontecendo”, afirma a mãe, Bruna Mendes Severo Nascimento.
“Eu como mãe fico firme na frente dela, mas quando eu saio do quarto eu desabo, choro, não consigo ver a minha filha sofrendo desse jeito. É difícil, muito difícil, ruim demais. Ela foi intubada de novo porque não está conseguindo respirar direito. Fizeram vários exames e querem descobrir a bactéria, só que até agora não tem recurso para descobrir. Um recurso mais detalhado para descobrir e para já dar a medicação certa”, ressaltou.
🔍Mielite transversa aguda é uma inflamação rara da medula espinhal que pode causar fraqueza ou paralisia nos braços e nas pernas, perda de sensibilidade e problemas de controle da bexiga e do intestino. A doença evolui rapidamente e, em casos graves, pode levar à tetraplegia e complicações respiratórias. É uma doença neurológica rara e grave, caracterizada pela inflamação de um segmento da medula espinhal.
Lavínia está internada desde 2 de outubro no Hospital do Grajaú, na Zona Sul, com diagnóstico de mielite transversa aguda com inflamação que atinge da vértebra C3 até a T1, região que controla os movimentos dos braços, do tronco e da parte superior do corpo.
Na decisão judicial consta que, segundo relatórios da médica Juliana Maria Fontes Costa, responsável pelo atendimento, a adolescente apresenta tetraplegia flácida, que é a paralisia dos quatro membros com músculos sem resistência, além de ausência de reflexo de tosse, dificuldade para engolir e desconforto respiratório. Há também a informação de que ela precisa de vigilância contínua e há risco de nova intubação orotraqueal, quando um tubo é colocado na traqueia para auxiliar a respiração.
Consta ainda que o tratamento iniciado com metilprednisolona endovenosa em altas doses (corticosteroide para reduzir a inflamação) não apresentou resposta significativa após cinco dias, caracterizando falha terapêutica precoce.
A equipe médica, então, recomendou intervenção de segunda linha, como plasmaférese, que é a remoção de substâncias nocivas do sangue, ou imunoglobulina intravenosa, medicamento que modula o sistema imunológico, além de suporte neurológico e reabilitação motora intensiva, recursos não disponíveis no Hospital do Grajaú.
Relatórios alertam também, segundo a decisão judicial, que a ausência de melhora aumenta o risco de sequelas permanentes e mortalidade indireta, especialmente por falência respiratória e infecções decorrentes da imobilidade prolongada.
A adolescente está recebendo imunoglobulina intravenosa, mas a defesa da família ressalta que este tratamento foi prescrito como algo auxiliar, enquanto não for possível realizar o plasmaférese.
“O hospital em que ela se encontra não tem o equipamento do plasmaférese, e precisa. Por isso que está toda essa situação de liminar para isso. A imunoglobulina é para que eles consigam já dar esse tratamento, mas é alternativo”, afirmou Juliana Fontes dos Santos, que acompanha o caso com a advogada Giselle Tapai.
“O hospital não tinha e compraram com orçamento deles esse medicamento de imunoglobulina. Foram compradas seis doses. É um caso muito complexo o caso dela. O tratamento de plasmaférese é muito complexo também, e ela precisa o quanto antes”, ressalta.
O que diz a liminar
A decisão liminar determina que as secretarias estadual e municipal da Saúde de São Paulo providenciem, no prazo máximo de seis horas, a transferência da adolescente para o Hospital das Clínicas ou outro hospital público com UTI adequada, suporte neurológico, recursos para plasmaférese ou imunoglobulina intravenosa e equipe multidisciplinar para reabilitação motora intensiva.
Caso não haja vagas em unidades públicas, a transferência deve ocorrer para um hospital privado, com custos integralmente custeados pelo Estado, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal.
A decisão estabelece também multa diária de R$ 10 mil por hora de atraso, limitada inicialmente a R$ 200 mil, e autoriza que a família encaminhe pessoalmente a determinação às autoridades, devido à urgência extrema.
O que diz a Secretaria Estadual da Saúde
“O Hospital Geral do Grajaú informa que a paciente L.M.D. está internada em leito de UTI, sendo acompanhada por equipe médica multiprofissional, recebendo tratamento com imunoglobulina, conforme seu estado de saúde requer.
O hospital ressalta que a paciente está inserida na regulação e será transferida para uma unidade de referência, respeitando seu quadro clínico atual. Os familiares estão cientes de todos os protocolos adotados.
Quando à decisão judicial, o Estado de São Paulo ainda não foi intimado”.
O que diz a Secretaria Municipal da Saúde
O g1 procurou a Secretaria Municipal da Saúde, já que a pasta foi citada na medida liminar, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Adolescente Lavínia Mendes foi diagnosticada com mielite transversa em estado gravíssimo
Arquivo Pessoal
Veja os vídeos que estão em alta no g1