Os pais de uma adolescente de 12 anos com deficiência neuromuscular denunciaram, nesta semana, que a filha recebeu uma carta com frases ofensivas e discriminatória de uma colega de sala.
A menina estuda em uma escola particular da zona Sul de Ribeirão Preto (SP) há oito anos e esta foi a primeira vez que ela foi vítima de bullying, segundo a mãe, a fisioterapeuta Letícia Constâncio.
“Na carta, dizia que a colega tinha nojo dela e que não queria que ela se aproximasse. Tudo por causa da deficiência. Ela não quer mais voltar para a escola. Disse que não se sente segura, nem acolhida”.
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A família registrou um boletim de ocorrência pelo crime de praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência, conforme previsto no Estatuto da Pessoa com Deficiência. O g1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública e aguarda um posicionamento.
Segundo Letícia, a filha tem miopatia nemalínica, uma doença muscular rara que compromete os movimentos e a torna dependente de cadeira de rodas. O cognitivo é preservado, mas a adolescente depende de auxílio em tarefas diárias dentro da escola.
“Minha filha nasceu com uma doença muscular. Ela depende totalmente de ajuda física, precisa de alguém para levá-la ao banheiro, para comer, para tudo. Sempre tivemos que lutar para que ela fosse incluída, mas nada foi feito. A gente sempre tentou relevar, acreditando que a escola estava se preparando, mas nada mudou”.
Adolescente com deficiência neuromuscular sofreu bullying em escola particular de Ribeirão Preto, SP
Arquivo pessoal
Escola não compartilhou conteúdo da carta
O caso aconteceu na segunda-feira (6), quando a adolescente escreveu uma carta à colega perguntando por que ela não queria conversar ou se aproximar.
Como resposta, Letícia conta que a filha recebeu uma outra carta, onde a colega de sala teria afirmado sentir “nojo” e pedido que a adolescente ficasse longe. A família afirma que não teve acesso ao conteúdo da carta.
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Após o episódio, Letícia e o marido, o advogado Felipe de Carvalho Lucas, procuraram o polícia.
“Ela ficou muito abalada, chorou muito. A escola não nos procurou naquele momento, quem nos contou foi ela mesma. Quando fomos conversar com a direção, disseram que a colega tinha transtornos alimentares e que, por isso, havia dito que sentia nojo, mas não tomaram nenhuma medida concreta”, diz Letícia.
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O boletim de ocorrência foi registrado pelo pai da adolescente, na Delegacia de Proteção à Pessoa Idosa. O caso foi encaminhado ao 4º Distrito Policial de Ribeirão Preto.
O g1 entrou em contato com a escola, a Diretoria Regional de Ensino e o Conselho Tutelar, e aguarda um posicionamento.
Família cobra postura da escola
Segundo Letícia, a filha estuda no colégio há oito anos e sempre enfrentou obstáculos relacionados à inclusão.
Ela afirma que a instituição não possui profissional de apoio exclusivo e que já houve outros episódios de falta de acessibilidade.
“Em oito anos, a escola nunca se preparou de fato. Eles fazem parecer que estão nos fazendo um favor por aceitar uma criança com deficiência, mas inclusão é um direito garantido por lei”.
Após o episódio, a menina deixou de frequentar as aulas, e os pais iniciaram o processo de transferência para outra instituição.
“Não há condições de permanecer em um ambiente onde ela não se sente segura nem acolhida”, afirmou Letícia.
Ao g1, a fisioterapeuta contou que a família procurou a Diretoria Regional de Ensino e o órgão identificou que a escola não havia formalizado o cadastro da estudante como aluna com deficiência, conforme determina a legislação de ensino.
“Eu só quero que a lei seja cumprida. Não quero aparecer, não quero exposição. Só quero que a escola seja responsabilizada e que outras crianças não passem por isso”.
*Sob a supervisão de Flávia Santucci
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