
Biocurativo 3D pode beneficiar 5 milhões de pessoas que sofrem com feridas crônicas
Até 2027, o biocurativo 3D feito a partir de células-tronco, desenvolvido por duas pesquisadoras de Ribeirão Preto (SP), deve chegar a 5 milhões de pacientes refratários no Brasil.
🔎Pacientes refratários são aqueles que não respondem ao tratamento convencional de maneira adequada, mesmo com todas as opções disponíveis no mercado.
O produto já passou por todos os testes em laboratório e agora entra em uma nova fase: a de reunir documentação para apresentar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), segundo a bióloga Carolina Caliari, CEO da In Situ, empresa que desenvolveu o biocurativo.
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“Ele [o biocurativo] está em uma área da Anvisa, que entra no rol das terapias avançadas. E, por estar nessa classificação, tem de cumprir vários testes antes de chegar no paciente. São testes extremamente necessários para provar, principalmente, a segurança do produto”.
O Mensencure, que ganhou este nome porque é feito a partir de células mesenquimais (que são células-tronco retiradas do cordão umbilical), é capaz de agir em feridas crônicas, como em pacientes com diabetes, e queimaduras graves, principalmente.
“Na terapia celular, a gente usa nossas próprias células em nosso favor. É uma coisa que a célula já faz naturalmente, ela já tem essa habilidade de promover a cicatrização não só da pele, mas de outros tecidos. Então, a gente pega essa célula do cordão umbilical, traz para o laboratório, isola essa célula e utiliza na terapia”.
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Ao g1, o Ministério da Saúde informou que, segundo dados do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/SUS), em 2024 foram registrados 175.711 atendimentos a pacientes com feridas crônicas refratárias (infecção da pele, infecção prós-traumática, infeccão decorrente de cirurgia, absesso, úlcera).
O Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) contabilizou 70.738 procedimentos no mesmo período. Ainda segundo o Ministério da Saúde, o número de atendimentos não corresponde, necessariamente, ao número de pacientes, uma vez que uma mesma pessoa pode ser atendida mais de uma vez.
Para chegar até o produto, as células-tronco são ‘misturadas’ com hidrogel, e impressas em uma máquina 3D. O biocurativo tem formato transparente, bem parecido com uma lente de contato gelatinosa, e mede 80 centímetros quadrados, o tamanho médio de um celular.
Biocurativo 3D com células tronco desenvolvido em Ribeirão Preto (SP)
Murilo Corazza/g1
Para imprimir o biocurativo, são necessários 30 minutos. Como é um produto desenvolvido a partir de terapia celular, ele não estará disponível para compra em farmácias e a aplicação será exclusivamente em ambiente hospitalar.
“Nossa ideia é não fazer um produto personalizado, porque um produto personalizado aumenta muito o custo e a gente não conseguiria oferecer imediatamente para o paciente. Se o paciente precisa de mais de um, a gente aplica mais de um curativo. Se precisa de menos, tem a possibilidade de cortar aquele biocurativo”, explica Carolina.
O produto tem aplicação única, porque é absorvido pela pele. Ao g1, a bióloga Adriana Oliveira Manfiolli, CTO da In Situ, explicou que o tratamento é eficaz, por causa da ação das próprias células no organismo.
“Através do biocurativo, essa membrana é absorvida, é compatível com a pele, não tem problema nenhum. A célula penetra ali e faz a função dela. A ideia é que você não tenha troca desse curativo, que seja uma única aplicação”.
Biocurativo 3D com células tronco é de aplicação única, porque é absorvido pela pele
In Situ
O biocurativo chega também como uma alternativa a uma gama de produtos já existentes no mercado, mas que acabam não atendendo uma parcela específica da população.
“Tem géis, pomadas de aplicação tópicas, coberturas diversas. Quando a gente insere um pouco mais de tecnologia, tem matrizes de polímeros associadas ou não, agentes microbianos, terapias de pressão negativa, que são os curativos a vácuo, câmeras hiperbáricas. Só que, do outro lado, têm inúmeros pacientes refratários a essas terapias. Temos, só no Brasil, cinco milhões de pacientes que não são tratadas de maneira efetiva com tudo o que tem disponível no mercado. Eles já trataram com tudo e, infelizmente, estão com aquela ferida há semanas, meses e até anos. Nossa ideia é que o biocurativo resolva, de fato, o problema desses pacientes”.
Como funciona o biocurativo?
Como a base do Mensencure é a célula-tronco, o biocurativo age de maneira inteligente, não só cobrindo a ferida, mas tratando-a efetivamente, como conta Carolina.
“O biocurativo não visa só recobrir a ferida. Ele recobre, sim, com a membrana, mas a superfície da célula tem como se fossem ‘anteninhas’, que ficam captando sinais do local onde é colocada. Ela vai captar os sinais da ferida. Se a ferida estiver inflamada, ela libera fatores para resolver aquela inflamação. Se estiver dolorida, ela libera fatores que vão resolver a dor. Se não está mais inflamada e precisa só fechar, libera fatores que vão conversar com as células da pele ‘fecha essa ferida'”.
Biocurativo com células tronco é impresso em impressa 3D e fica pronto em 30 minutos
Murilo Corazza/g1
Outra vantagem do biocurativo é que a célula do cordão umbilical pode ser utilizada de uma pessoa para outra, sem ser rejeitada.
“A gente isola essa célula e armazena congelada aqui no laboratório. A gente tem um container de nitrogênio líquido, que é bem parecido com o botijão de cozinha, que tem bilhões de células congeladas. Aí, a gente descongela essa célula, imprime o curativo em 30 minutos e ele fica pronto para uso”, diz Carolina.
A ideia, segundo a CEO, é ter um estoque de biocurativos na empresa para que um paciente que chegue a um hospital consiga ser atendido.
“Um paciente grande queimado, por exemplo, precisa de tratamento imediato. Então, essa é a estratégia para conseguir atender imediatamente esse paciente”.
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🔎A, que são aqueles que não são tratados de maneira efetiva com todas as opções disponíveis no mercado.