Energia das ondas e ventos constroem futuro sustentável no litoral catarinense

O litoral catarinense pode se tornar uma das principais fronteiras da transição energética no Brasil. Um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), divulgado em 2024, aponta que o país possui um potencial eólico offshore estimado em 697 gigawatts, e que a região Sul, que inclui Santa Catarina e Rio Grande do Sul, está entre as três áreas mais promissoras para exploração dessa fonte renovável.
Devido a esse protagonismo, o avanço da energia eólica em alto-mar tem sido impulsionado no estado, principalmente através de pesquisas sobre o aproveitamento das ondas e correntes oceânicas. Santa Catarina é um território estratégico no cenário nacional da inovação azul, uma abordagem que integra inovação e sustentabilidade para maximizar o valor econômico dos recursos marinhos.
Condições ideais para parques offshore
De acordo com o professor Reinaldo Haas, físico e meteorologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o litoral do estado conta com um conjunto de fatores naturais e logísticos favoráveis à instalação de turbinas em alto-mar.
“Santa Catarina, assim como o Rio Grande do Sul, tem ventos muito fortes, muitos constantes, até fortes às vezes demais, e a profundidade do litoral é adequada para a maioria da geração offshore”, afirma o pesquisador.
Haas explica que estudos desenvolvidos por universidades e empresas mostram que a região é uma das mais adequadas do país para o aproveitamento energético dos ventos marítimos.
“Quando você leva em conta todos esses fatores, você vê que Santa Catarina é a melhor região do país. Você tem proximidade do mercado consumidor, portos capazes de apoiar a operação, ventos muito fortes e constantes, e um oceano vasto, que permite a instalação de estruturas para parques offshore”, destaca.
O pesquisador ressalta, porém, que parte das áreas indicadas para exploração estão em zonas de preservação ou sob estudo de criação de reservas, o que exige planejamento e equilíbrio ambiental. No entanto, o desafio é contornável, já que segundo ele, a geração eólica convive com regiões de preservação ambiental sem maiores problemas no mundo inteiro, inclusive aqui no Brasil.
Pesquisas avançam em Santa Catarina
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é uma das instituições que lideram os estudos sobre energia oceânica no país. O Laboratório de Engenharia e Ciências Oceânicas (LabECO) e o Laboratório de Dinâmica dos Oceanos (LabDino) estão à frente de projetos voltados à análise dos ventos, correntes e profundidades ideais para o desenvolvimento da geração de energia offshore.
O LabECO, criado em 2023, atua na formação de engenheiros e pesquisadores nas áreas de energias renováveis oceânicas, mudanças climáticas e captura de gases de efeito estufa. Já o LabDino trabalha com oceanografia física e aproveitamento energético, com destaque para o mapeamento do potencial eólico continental e offshore na região de Araranguá (SC).
Reinaldo Haas relata que os pesquisadores da UFSC participam de estudos desde 2011, em parceria com empresas como Engie e Atlantique, que resultaram em modelos de previsão de ventos e de tempo para a operação de parques eólicos no Sul do país. Segundo ele, desde 2011, a instituição já formou cerca de 40 profissionais especialistas neste mercado.
Planejamento e segurança ambiental
O Ministério de Minas e Energia (MME) e a EPE têm trabalhado em uma metodologia para seleção de áreas destinadas à geração eólica offshore. O objetivo é garantir uma ocupação ordenada do espaço marinho e identificar regiões com viabilidade técnica e ambiental.
A proposta busca promover o desenvolvimento da energia eólica offshore de forma planejada e sustentável, em sintonia com as demandas energéticas do país e com a proteção da biodiversidade marinha.
Pequenos negócios e economia azul
O avanço da energia eólica offshore também representa uma nova oportunidade econômica para Santa Catarina. As cadeias de suprimentos e de serviços associadas à energia oceânica, devem gerar novas demandas, desde manutenção e logística portuária até transporte, alimentação, hospedagem e fornecimento de componentes.
Segundo Patrícia Mattos, gestora estadual de Economia Azul do Sebrae/SC, o movimento cria espaço para o empreendedorismo local e a diversificação produtiva.
“As micro e pequenas empresas podem atuar como prestadoras de soluções tecnológicas, consultorias especializadas e pequenas montadoras, fortalecendo a cadeia de suprimentos e promovendo a diversificação econômica regional”, afirma.
Ela ressalta que o Sebrae/SC tem trabalhado para preparar os empreendedores para esse novo cenário. Por isso, atua para o fortalecimento do empreendedorismo local, com capacitação, conhecimento e apoio técnico.
“Pequenas empresas podem desenvolver soluções de eficiência, inovação e serviços de apoio à cadeia de energia renovável. Ao capacitar e conectar esses empreendedores, o Sebrae contribui para que Santa Catarina lidere a agenda de energia limpa e de desenvolvimento sustentável no Brasil”, finaliza.

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