TERMÔMETRO DA COP30 #DIA 10: cocares, rascunhos e a expectativa em torno do 1º pacote de Belém


Olá, aqui quem escreve é Roberto Peixoto, repórter de Meio Ambiente no g1. Este é o Termômetro da COP30, edição #DIA 10, um boletim com o essencial que você precisa saber sobre a 30ª Conferência do Clima da ONU.
Eu vou explicar para você, em 7 tópicos, como foi a terça-feira em Belém. Entre os destaques, eu conto que esta quarta-feira é de bastante expectativa em Belém pois a COP30 pode apresentar o seu primeiro pacote de decisões ainda hoje.
Vou falar também por que o Canadá levou o Fóssil do Dia de ontem. E ainda explico como o mapa do caminho para longe dos combustíveis fósseis vem ganhando uma importante tração política.
1 – Em alta X em baixa
EM ALTA: 📍 O pedido por um mapa do caminho para abandonar os combustíveis fósseis ganhou outra escala na terça. Cerca de 80 países, incluindo Colômbia, Quênia, França, Alemanha e Reino Unido, passaram a apoiar o roteiro global para deixar petróleo, carvão e gás para trás. O Reino Unido disse que o tema não pode mais ser empurrado para debaixo do tapete, e a Colômbia lembrou que a sociedade está cobrando essa mudança, mesmo com a resistência de países produtores. Com esse clima, um rascunho divulgado pela manhã ganhou peso. Segundo André Corrêa do Lago, várias delegações já trabalham em cima do texto. O resumo é simples: o mapa do caminho entrou no centro da COP. Resta saber se chega ao documento final.
“O que o texto reflete é algo que abre a porta entre os extremos. Sim, há países que esperam uma linguagem mais ambiciosa, mas, quando se negocia, é necessário buscar o meio termo e entender as “red lines” – os pontos que algumas Partes não ultrapassam de forma alguma”, afirmou o presidente da COP30.
EM BAIXA: 🌱 O TFFF tinha ganhado força depois das Cúpulas de Líderes e alcançado US$ 5,5 bilhões em aportes anunciados. Mas, desde então, nada de novas capitalizações. O clima agora é bem mais morno. A Alemanha chegou a dizer que poderia trazer um anúncio novo, mas acabou não apresentando nada. E diplomatas europeus admitem que o momento fiscal está difícil, principalmente por causa dos custos da guerra na Ucrânia, o que trava compromissos adicionais. Resultado: o fundo que vinha sendo tratado como um dos símbolos de ambição para florestas tropicais entrou em compasso de espera.
2 – Brisa de esperança: transição justa sai do abstrato
Em meio a tantos números, siglas e rascunhos, um dos textos que mais chamaram atenção nesta COP30 é o da transição justa. Pela primeira vez, o documento tá começando a desenhar, com um pouco mais de clareza, o que significa colocar pessoas e direitos no centro da ação climática.
O texto traz algo que há muito tempo aparecia mais nos discursos do que nos acordos: reconhecer que trabalhadores, comunidades e povos indígenas precisam participar das decisões que vão moldar o futuro das economias.
E isso inclui desde direitos básicos até mecanismos de proteção para quem pode ser diretamente afetado pelas mudanças no mercado de trabalho.
Esse avanço abre também espaço para uma peça-chave desta COP, o Mecanismo de Ação de Belém, que busca organizar essa transição de forma mais justa e previsível. A ideia é ajudar os países a planejar como cortar emissões sem repetir desigualdades históricas e sem empurrar custos para quem já vive em situação mais vulnerável.
#DIA 3: LEIA MAIS SOBRE O QUE É TRANSIÇÃO JUSTA NO TERMÔMETRO DA COP30
Mas nem tudo está resolvido. Países em desenvolvimento defendem que esse mecanismo seja robusto, com capacidade real de orientar políticas. Já parte dos países ricos ainda prefere ficar numa zona mais confortável, apoiando a ideia no discurso, mas sem assumir obrigações muito claras.
Movimentos da sociedade civil viram esse momento como um divisor de águas. Para eles, a transição justa só vai existir de verdade se virar compromisso formal, e não apenas intenção. E é isso que está em jogo nos próximos dias.
3 – Traduz aí, g1
O rascunho do acordo da COP21, a Cúpula do Clima de Paris.
Benoit Doppagne/Belga/AFP
O QUE SÃO OS RASCUNHOS DA COP? Esses textos são o coração das negociações da COP. São eles que mostram, no papel, o que os países já conseguem concordar e o que ainda está travado. E quem acompanha conferências do clima sabe bem: nada anda sem eles.
Esses textos começam a tomar forma na primeira semana, quando delegações de quase 200 países passam dias dizendo o que aceitam, o que rejeitam e o que precisam mudar. A presidência da COP coordena tudo, mas não escreve sozinha. Facilitadores são escolhidos para cada tema e vão juntando as posições que escutam nas salas de negociação.
As primeiras versões costumam vir cheias de colchetes, que são um jeito simples de marcar os trechos sem consenso. Quanto mais colchetes, mais longe está o acordo. Conforme os países vão cedendo, os colchetes começam a sumir.
Quando chega a segunda semana (como agora), entra a etapa política. Ministros e autoridades assumem a mesa e tentam resolver o que o nível técnico não conseguiu fechar. É a fase em que pequenos grupos se reúnem, parágrafo por parágrafo, para buscar um texto que todo mundo consiga aceitar.
Aí, quando o texto finalmente fica limpo, sem pontos pendentes, ele vira uma decisão provisória. Depois vai para a plenária final, onde é adotado oficialmente.
4 – Pergunta do dia: a COP30 pode ter acordo hoje?
A quarta-feira começa com uma dúvida que tem circulado desde o começo da semana: a COP30 pode, sim, ter um primeiro acordo ainda hoje. Não é certeza, mas o clima das negociações mudou bastante nas últimas 24 horas.
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O ponto central é o chamado Pacote de Belém nº 1. Ele reúne alguns dos temas mais sensíveis da conferência e ganhou seu primeiro rascunho logo na terça de manhã. Isso chamou atenção porque, normalmente, textos desse tipo só aparecem perto do fim da COP.
Delegações viram esse adiantamento como um sinal de organização e de que existe material suficiente para tentar fechar algo hoje.
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O que define se o acordo sai ou não é a capacidade de consenso em torno desse texto inicial. Grupos de países passaram a terça-feira inteira enviando ajustes, apontando trechos em que concordam e partes em que ainda há divergência.
A presidência também reforçou que esse pacote reúne assuntos que são interligados, por isso a ideia de aprovar tudo junto.
Outro elemento que pesa é o momento político da conferência. Ministros já estão em Belém e, quando isso acontece, a negociação sai da etapa técnica e entra na fase mais decisiva. Em COPs anteriores, esse é o ponto em que muitos impasses se resolvem.
A chegada do presidente Lula hoje também cria expectativa. Ele deve se reunir com diferentes grupos e isso pode ajudar a dar foco nessa reta final.
5 – Fóssil do Dia
Ativistas entregam o “Fóssil do Dia” ao Canadá e à União Europeia.
Climate Action Network
Quem levou o “Fóssil do Dia” desta terça-feira foi o Canadá. Segundo a Climate Action Network, o novo governo do primeiro-ministro Mark Carney está desmontando, em poucos meses, boa parte das políticas climáticas construídas na última década e tem se mantido ausente nos principais debates da COP30.
Os ativistas citam a agenda de novos projetos de combustíveis fósseis, incluindo a expansão de gás liquefeito (GNL), críticas a retrocessos em regras de licenciamento e à falta de respeito aos direitos de povos indígenas.
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O comunicado também cobra a ausência de um novo compromisso de financiamento climático pós-2026 e pouca ambição nas negociações sobre adaptação, mesmo com o país já sentindo impactos crescentes da crise climática.
Para a rede, o contraste com o passado pesa: o Canadá já foi citado como exemplo por ter leis para cumprir o Acordo de Paris, plano de transição econômica e papel de liderança em temas como perdas e danos.
Agora, dizem os ativistas, o país estaria “indo na direção contrária” e se afastando da imagem de liderança climática que construiu.
A Climate Action Network ainda deu uma “menção honrosa” negativa à União Europeia, acusando o bloco de evitar discutir compromisso claro com financiamento público para adaptação até 2030.
🦖 O “Fóssil do dia” é um “prêmio” simbólico e irônico, concedido uma vez por dia durante as conferências climáticas da ONU.
6 – Você precisa assistir
Cocares têm diferentes significados entre povos indígenas
Se no TERMÔMETRO DA COP30 de segunda a Paula Paiva Paulo, enviada especial do g1 a Belém, mostrou a força da Aldeia COP, hoje ela chama atenção para um detalhe que diz muito sobre quem está ali: os cocares.
Na UFPA, onde mais de 3 mil indígenas estão reunidos durante a COP30, a Paula ouviu lideranças explicarem como cada cocar tem um significado próprio.
Tem cocar “de guerra”, usado quando eles vão para reuniões onde precisam defender seu povo. Tem cocar que é porto seguro, uma forma de apresentar a cultura. E tem cocar que só líderes conseguem usar, literalmente.
“Quem não é líder sente dor de cabeça, o cocar pesa”, contou Eldo Shanenawa, jovem liderança do povo Shanenawa, do Acre.
Outro indígena também explicou algo importante: as penas usadas pelo seu povo (de arara, papagaio, tucano) vêm sempre de animais consumidos pela própria comunidade. Nada é tirado apenas por tirar. É parte de um ciclo, de respeito.
O vídeo da Paula mostra tudo isso de perto: a simbologia, o cuidado e o que esses adornos representam dentro e fora da COP. Vale muito assistir.
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7 – Além da imagem
Caixas no formato da Torre Eiffel montadas na Blue Zone em um protesto que destaca a fragilidade do Acordo de Paris, na COP30 em Belém.
REUTERS/Adriano Machado
MAIS DO QUE UMA FOTO: Na segunda, ativistas montaram uma Torre Eiffel com caixas para lembrar algo que está no centro das conversas desta COP: o Acordo de Paris está ficando cada vez mais pressionado.
O alerta é claro. As metas climáticas que os países apresentaram até agora não colocam o mundo no caminho de limitar o aquecimento a 1,5°C. E é por isso que decisões tomadas em Belém, especialmente sobre combustíveis fósseis, podem definir o futuro do pacto de 2015.
🌡️ENTENDA: Essa meta de 1,5°C foi estabelecida pela COP21 para evitar impactos extremos do clima, como secas, elevação do mar e colapso de geleiras. Estudos recentes, porém, mostram que o mundo pode já ter ultrapassado esse limiar.
Por que limitar o aquecimento a 1,5°C é a meta perseguida?
Amanhã, acompanhe mais um TERMÔMETRO DA COP30.
Até lá!
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