Casa Abrigo acolhe mulheres ameaçadas de morte e seus filhos em Presidente Prudente; saiba como pedir ajuda


Casa Abrigo acolhe mulheres e promove oficinas em Presidente Prudente (SP)
Casa Abrigo Regional
A Casa Abrigo, em Presidente Prudente (SP), oferece acolhimento a mulheres vítimas de violência doméstica que estejam sob ameaça de morte. Neste mês, em que o governo federal e frentes sociais promovem a campanha “Agosto Lilás”, voltada à conscientização e ao enfrentamento da violência contra mulheres, o g1 aborda nesta reportagem especial o funcionamento da Casa Abrigo no Oeste Paulista, uma importante ferramenta de apoio na luta contra a violência.
📱 Participe do Canal do g1 Presidente Prudente e Região no WhatsApp
Conforme dados levantados pelo g1 junto à coordenação da Casa Abrigo de Presidente Prudente, entre janeiro e julho deste ano, houve uma queda de 30% no número de mulheres que procuraram o serviço de acolhimento, em comparação com o mesmo período de 2024. Confira os números abaixo:
De janeiro a julho de 2024
Mulheres atendidas: 10
Dependentes: 25
De janeiro a julho de 2025
Mulheres atendidas: 7
Dependentes: 11
Segundo a coordenadora da Casa Abrigo de Presidente Prudente, Maria Helena Veiga Silvestre, a redução na busca pelo atendimento pode ser reflexo da falta de conhecimento do serviço, mas também pode envolver outros fatores.
“É um fato que não temos como afirmar o porquê, mas várias situações podem ocasionar o não acolhimento. Pode ser por falta de conhecimento do serviço, pode ser pela não aceitação da mulher, e nesse caso ela permanece na casa ou vai para casa de parentes”, pontuou Maria Helena ao g1.
Casa Abrigo acolhe mulheres e promove oficinas em Presidente Prudente (SP)
Casa Abrigo Regional
O que é a Casa Abrigo?
A Casa Abrigo está localizada em Presidente Prudente, em um endereço sigiloso, e tem como objetivo a proteção emergencial de vítimas e seus dependentes, ou seja, filhos de até 17 anos e filhas. O serviço oferece alimentação e moradia por até seis meses.
Podem ser acolhidas pelo local vítimas com risco de vida e seus dependentes, moradoras de:
Álvares Machado (SP)
Martinópolis (SP)
Narandiba (SP)
Presidente Bernardes (SP)
Presidente Prudente
Rancharia (SP)
Regente Feijó (SP)
Taciba (SP)
Além do acolhimento, a casa também disponibiliza atendimentos que visam a promover a autonomia e a reinserção social das vítimas, e promove orientação sobre direitos e apoio para a reconstrução da autonomia financeira.
“Funciona 24 horas por dia como moradia transitória até que seja viabilizado o retorno da mulher, que pode ser para o local de origem ou outro que lhe garanta segurança. O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) é o órgão que recebe a mulher, faz a escuta e aplica um formulário que indica a gravidade do caso. Sendo identificada situação de risco iminente de morte, será ofertado acolhimento na Casa Abrigo. Ela poderá ficar acolhida quanto tempo for necessário, sendo entre três e seis meses”, explicou a coordenadora.
“É um local de proteção, acolhida e desenvolvimento de oficinas, que buscam o fortalecimento da mulher para que ela reconheça os processos de violências e busque alternativas para romper com a violência”, acrescentou Maria Helena.
“Os filhos são acolhidos e recebem todos os cuidados necessários, incluindo saúde e educação. Também participam das oficinas temáticas apropriadas para a idade, onde são apresentadas também as questões da violência doméstica contra mulheres e outras”, detalhou.
Casa Abrigo acolhe mulheres e promove oficinas em Presidente Prudente (SP)
Casa Abrigo Regional
A Casa Abrigo conta com uma equipe multidisciplinar de mulheres, formada por:
Coordenadora
Psicólogas
Assistentes sociais
Educadoras sociais
Auxiliar administrativo
Auxiliar de serviços gerais
Cozinheiras
O Consórcio Intermunicipal do Oeste Paulista (Ciop) é responsável pela gestão financeira e pela fiscalização do serviço. A casa soma 20 vagas no total, divididas para oito mulheres e seus dependentes.
Filhos homens com mais de 18 anos não podem ser acolhidos na casa, a não ser em situações específicas em que a pessoa possua alguma deficiência ou transtorno que necessite de cuidados da mãe.
Casa Abrigo acolhe mulheres e promove oficinas em Presidente Prudente (SP)
Casa Abrigo Regional
Como ter acesso à Casa Abrigo?
O primeiro passo para ser acolhida pela casa é procurar ajuda em um dos serviços da rede de atendimento.
Confira alguns deles:
Serviços de Segurança Pública
Delegacia de Defesa da Mulher (DDM)
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM)
Polícia Militar
Polícia Civil
Polícia Federal
Serviços de Saúde
Hospitais gerais
Unidade Básica de Saúde (UBS), Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e Estratégia de Saúde da Família (ESF)
Serviços de Assistência Social
Centros de Referência de Assistência Social (Cras)
Creas
Outros Serviços
Ministério Público
Defensoria Pública
Conselho Tutelar
Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas), em Presidente Prudente (SP)
Nathalia Salvato/g1
Após a mulher buscar ajuda, os serviços de assistência social entram em contato com a Casa Abrigo por meio de um número de celular sigiloso.
A mulher é acompanhada a um ponto de encontro com a equipe da casa, onde ela recebe detalhes sobre o regimento interno, incluindo direitos e responsabilidades perante as regras de segurança, e ela escolhe se quer ficar.
Não é necessário fazer um Boletim de Ocorrência para acessar a Casa Abrigo.
Casa Abrigo acolhe mulheres e promove oficinas em Presidente Prudente (SP)
Casa Abrigo Regional
Quanto tempo pode permanecer?
Não há limite mínimo de dias, mas o tempo de acolhimento ofertado é de três meses, que podem ser prorrogados por mais três, de acordo com a necessidade da vítima.
“Durante esse período, é realizada uma avaliação para entender as necessidades de permanência por mais tempo. Mais do que seis meses nunca houve necessidade de acolhimento”, compartilhou a coordenadora da Casa Abrigo de Presidente Prudente.
No dia 6 deste mês, o serviço de acolhimento de Presidente Prudente completou quatro anos de atuação no Oeste Paulista.
“Avaliar o serviço Casa Abrigo e o que ela representa para a nossa região é poder dizer que foi um avanço na proteção das mulheres em situação de violência no momento da implantação, e que é um equipamento que deve ser muito divulgado, pois ele pode salvar vidas”, acredita Maria Helena.
“As mulheres que já passaram pela casa tiveram a oportunidade de entender os tipos de violência que estavam vivendo e puderam buscar novas oportunidades. Para quem precisa de ajuda, o importante é procurar os serviços de referência, esse pode ser o primeiro passo para uma vida livre de agressões. A Casa Abrigo é um equipamento que traz segurança e empoderamento às mulheres”, frisou.
Casa Abrigo acolhe mulheres e promove oficinas em Presidente Prudente (SP)
Casa Abrigo Regional
Cenário feminicida
A pesquisadora e pós-doutoranda na Universidade Estadual Paulista (Unesp), doutora Carolina Russo Simon, que estuda o cenário da violência contra mulher na região de Presidente Prudente desde 2021, mencionou ao g1 que o serviço prestado pela Casa Abrigo na cidade é de extremo comprometimento com a vida das mulheres.
“Eu acho que a casa presta o serviço que ela tem que prestar. É um serviço muito bom, especializado, com pessoas especializadas e muito comprometido. A Casa Abrigo tem um serviço de extremo comprometimento com a vida das mulheres, no sentido de não só tirá-las do momento da violência, mas de empoderar essas mulheres. Então, eu acho ótimo, eu acho um serviço necessário”, expressou a doutora no assunto.
De acordo com ela, o cenário feminicida somente potencializa uma construção histórica do Oeste Paulista, do Brasil e do mundo.
“Esse cenário feminicida que nós estamos vivendo na região, no Brasil e no mundo é reflexo da pandemia de feminicídios que tem na nossa região marcas muito fortes do conservadorismo, que impõe à mulher o silenciamento, que impõe à mulher o papel de gênero, do cuidado não remunerado, da não participação política. Esse cenário feminicida é expresso, por exemplo, quando nós só temos uma mulher na Câmara de Vereadores. Quando nós olhamos para a nossa história de [Presidente] Prudente e vemos que nós nunca tivemos uma prefeita, por exemplo. Então, esse cenário feminicida nos últimos anos só consolida uma construção histórica da nossa região, mas também do Brasil e do mundo”, pontuou Carolina.
Falha na rede de enfrentamento
A pesquisadora acredita que o processo de acolhimento até a chegada à Casa Abrigo ainda tem falhas que precisam ser solucionadas.
“Eu vejo como principal desafio para a Casa Abrigo a falta de uma casa de passagem como serviço de apoio na rede de enfrentamento. Hoje nós não temos uma casa de passagem, nós só temos o Sapru [Serviço de Acolhimento Provisório de Rua], então, isso dificulta o acolhimento de mulheres fora do horário comercial, isso dificulta a permanência de mulheres na denúncia e o encaminhamento para a Casa Abrigo. Hoje, a nossa rede não ter uma casa de passagem dificulta bastante o funcionamento da Casa Abrigo”, avaliou a pós-doutoranda.
Segundo ela, falta uma casa de passagem que seja especializada, não somente um serviço para pessoas em situação de rua em geral.
“A mulher é encaminhada para o Sapru até o horário de funcionamento da assistência e, ao ir para o Sapru, com filhos, a mulher se assusta e não aceita mais o acolhimento. Isso é comum. É uma falha na rede de enfrentamento por ausência de equipamento especializado”, acrescentou.
“Outro ponto que eu acho importante sobre essa política, enquanto um ponto negativo, é o silenciamento frente ao próprio serviço”, expressou ela.
Carolina acredita que a segurança e o sigilo do equipamento devem ser preservados, mas o anonimato é um fator que impede o acesso à proteção.
“Quando a gente fala que a Casa Abrigo é sigilosa, mas não pode ser anônima, é exatamente para que as mulheres saibam que existe esse tipo de equipamento. Quando a gente trata a Casa Abrigo com sigilo absoluto, para além do endereço, mas não comentando sobre a existência desse equipamento, as mulheres não sabem que existe uma rota de fuga para sair da tentativa de feminicídio. Então, essa máxima, Casa Abrigo e o sigilo não é anonimato, ela vem dessa perspectiva de que temos que divulgar o serviço, ampliar o serviço para poder chegar ao máximo possível de pessoas de cidade e região a tomada de consciência de que esse serviço existe e que é possível o encaminhamento para ele”, defendeu a pós-doutoranda.
Casa Abrigo acolhe mulheres e promove oficinas em Presidente Prudente (SP)
Casa Abrigo Regional
Cartilha informativa
Motivada a fazer a Casa Abrigo cada vez mais conhecida, para que cada vez mais mulheres consigam romper relacionamentos violentos, a pesquisadora desenvolveu uma cartilha neste ano. O documento concentra informações claras sobre o que é o serviço de acolhimento e como ele funciona. Clique aqui para acessar a cartilha.
“A cartilha saiu em 2025 com essa perspectiva de a gente romper o anonimato frente a esse equipamento e promover maior discussão e conhecimento sobre a existência do equipamento no município, mas, principalmente, qual é o fluxo para entrar. A Casa Abrigo é hoje um serviço regional de referência, não só para [Presidente] Prudente, mas para todo o Brasil. A partir da luta da Casa Abrigo de Presidente Prudente, que viabilizou essas 20 vagas para oito municípios, foi possível viabilizar outras lutas de Casa Abrigo na região, como exemplo emblemático de Dracena [SP], que sofreu sanção judicial, inclusive, para que fosse instaurada uma Casa Abrigo municipal, e também o caso recente de Osvaldo Cruz [SP], com mais uma Casa Abrigo. Então, aos poucos, nós vemos que a luta feminista engajada pela vida das mulheres tem surtido efeito na nossa região, estamos alcançando equipamentos que antes não existiam, e [eu desejo] que cada vez mais possamos, então, garantir a legislação, garantir serviços que valorizem e acolham a vida das mulheres”, argumentou.
‘É muito pouco’
Carolina encerrou dizendo ao g1 que, apesar do trabalho essencial desenvolvido pela Casa Abrigo em Presidente Prudente, “ainda é preciso fazer muito mais” para que mulheres consigam sair de situações de violência.
“Por fim, a última informação que eu acho relevante, e que não pode faltar nessa perspectiva histórica de construção e permanência da Casa Abrigo, é que municípios como Presidente Epitácio [SP], que anteriormente financiaram a Casa Abrigo, no início, e saíram do consórcio, e saíram por quê? Com certeza, não foi porque a violência parou de existir nesses municípios, não é mesmo? Hoje, a vaga que [Presidente] Epitácio ocupava está sob jurisdição de Álvares Machado [SP], a partir do consorciamento do Ciop, mas nós sabemos que ainda é muito pouco, que ainda precisamos fazer muito mais, que é preciso uma tomada de consciência coletiva para que as pessoas não só saibam que existe o equipamento, mas que criem o hábito de denunciar e de procurar ajuda, ajuda do Estado, ajuda de todas, para conseguir sair dessas situações de violência”, concluiu a pesquisadora ao g1.
Mapa com as três Casas Abrigo da região de Presidente Prudente (SP)
Carolina Russo Simon
VÍDEOS: Tudo sobre a região de Presidente Prudente
Veja mais notícias em g1 Presidente Prudente e Região.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *