Método inovador usa câmera termográfica para acompanhar reprodução de vacas zebuínas


Estudo pioneiro usa câmera termográfica para acompanhar vacas zebuínas em MG
Uma tecnologia já conhecida em outros setores começa a gerar resultados inéditos também em pesquisas voltadas à saúde de zebuínos leiteiros. Em Uberaba, a câmera termográfica, que é capaz de registrar o calor do corpo dos animais, está sendo utilizada para evidenciar características exclusivas do zebu e identificar alterações importantes no corpo da fêmea durante o ciclo reprodutivo.
O estudo foi publicado em 2020 no Journal of Thermal Biology (Jornal de Biologia Termal) e é considerado pioneiro pela escassez de informações sobre o tema aplicadas especificamente aos zebuínos.
O uso da tecnologia teve início em 2016, no Campo Experimental Getúlio Vargas, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). O modelo utilizado, FLIR T530, mapeia o corpo do animal e transforma essas informações em imagens coloridas que indicam variações de temperatura. As áreas mais quentes aparecem em tons de branco, vermelho e laranja; já as mais frias, em azul e verde. Assista a imagem acima.
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À frente do estudo, o pesquisador Rogério Vicentini explica que o método é uma forma não invasiva de obter informações relevantes sobre a saúde do gado.
“Assim como nós, humanos, que temos uma temperatura base, no caso 36 ºC, os animais também têm a sua. Os bovinos variam de 38 ºC a 39 ºC. A mudança nessa temperatura pode indicar que o organismo está reagindo a um problema de saúde ou alteração fisiológica. Se for uma inflamação, por exemplo, a gente sabe que existe uma mobilização do sistema imune para tentar eliminar essa infecção”, detalhou.
Estudo pioneiro sobre reprodução bovina
Com base nos dados obtidos pela câmera termográfica, Rogério observou variações de temperatura no corpo da vaca durante as fases do chamado “ciclo estral”, que prepara o organismo da fêmea para a reprodução.
“Percebemos que existe uma queda da temperatura corporal na fase do proestro e aumento na fase do estro, influenciados e moldados pelos hormônios reprodutivos, como o estrógeno e a progesterona. E isso provoca várias alterações no corpo da fêmea. Uma delas é um edema, que é um inchaço na região da vulva, que fica mais quente devido ao aumento do fluxo sanguíneo. Esse é um dos sinais biológicos de que ela está apta a reproduzir.”
🔎 O ciclo estral de uma vaca se repete, em média, a cada 21 dias e é dividido em quatro fases: proestro, estro, metaestro e diestro. No proestro, ocorre o desenvolvimento dos folículos ovarianos e o aumento dos níveis de estrogênio, preparando o corpo para a reprodução. No estro, a vaca entra no cio, aceita a monta e ovula próximo ao fim dessa fase, que é o momento mais fértil.
Acompanhar as alterações de temperatura ao longo do ciclo pode ajudar a identificar o momento ideal para a reprodução, acompanhar a gestação e até indicar riscos de aborto. Tudo de forma não invasiva, acelerando processos e garantindo o bem-estar do animal.
Na imagem é possível ver a diferença da temperatura da vaca e do bezerro pelas cores
Rogério Vicentini/Arquivo pessoal
Particularidades do zebu
A pesquisa também revelou que o zebu possui características próprias quando o assunto é variação de temperatura corporal. “O gado zebuíno representa cerca de 80% dos animais da pecuária nacional. A literatura relata variações de até 1 ºC em bovinos, mas a gente viu que no zebu não é assim. Eles apresentam uma magnitude menor e alterações diferentes do gado europeu, dos estudos conduzidos na Europa e em regiões tropicais, como os Estados Unidos.”
Segundo Rogério, as pesquisas continuam para estabelecer um padrão de normalidade, identificando o que significam alterações acima ou abaixo dessa faixa.
O trabalho na Epamig conta com apoio de órgãos estaduais e federais de fomento à pesquisa, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT).
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Uso da câmera termográfica em outros setores
Ao contrário das câmeras comuns, que captam apenas a luz visível, a termográfica “enxerga” o calor, mesmo no escuro ou através de fumaça e neblina. Ela detecta a radiação infravermelha emitida por objetos e transforma essas informações em imagens que representam diferentes temperaturas.
O equipamento tem ampla aplicação: na indústria, identifica pontos de superaquecimento em motores e máquinas; na construção civil, detecta infiltrações e falhas no isolamento térmico; no trabalho do Corpo de Bombeiros, ajuda a localizar pessoas em áreas de difícil acesso e a identificar focos de incêndio.
Para o futuro, os pesquisadores da Epamig pretendem aplicar a termografia infravermelha na avaliação de efeitos ambientais, especialmente climáticos, sobre a fisiologia e a reprodução animal. O objetivo é entender como fatores externos impactam o organismo, auxiliando em decisões mais assertivas, com foco na sustentabilidade da produção e no bem-estar dos animais.
“A principal vantagem dela é ser uma tecnologia não invasiva. Então, eu não preciso, necessariamente, conter ou estressar o animal para a captura de imagem. Além de fornecer dados muito úteis, a gente tem essa visão do bem-estar”, finalizou.
Câmera termográfica usada em pesquisa da Epamig
Rogério Vicentini/Divulgação
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