A Terra agora tem duas luas? Entenda o que é o 2025 PN7


O que é um asteroide?
A Terra ganhou um novo companheiro de viagem.
Um pequeno corpo celeste, discreto e difícil de observar, que vem acompanhando o nosso planeta há cerca de 60 anos e que também, segundo os cálculos dos astrônomos, deve continuar por aqui até pelo menos 2083.
Batizado de 2025 PN7, o objeto foi detectado por telescópios no Havaí e chamou a atenção por um detalhe curioso: ele se move quase (e isso é algo importante) exatamente no mesmo ritmo da Terra, como se os dois estivessem lado a lado, circulando o Sol.
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De longe, parece até que o corpo orbita o planeta, o que levou muita gente a achar que a Terra teria ganhado uma segunda lua.
🌜ENTENDA: Uma lua, ou satélite natural, é um corpo celeste que se forma de maneira natural e gira em torno de um planeta. O exemplo mais famoso é a Lua que orbita a Terra. Mas, para ser tido como lua, um objeto precisa apenas estar em órbita ao redor de um planeta de forma estável (e não ser artificial).
Na prática, porém, o que acontece é que o 2025 PN7 não gira ao redor da Terra, e sim do Sol, mas em um caminho tão parecido com o nosso que cria essa ilusão de estar “preso” ao planeta.
Esse tipo de movimento é raro e já foi visto em poucos outros casos: até agora, apenas sete objetos com esse comportamento foram confirmados pelos cientistas.
“O 2025 PN7 é um asteroide pequeno, classificado como um dos chamados ‘asteroides próximos da Terra, categoria que já soma mais de 30 mil objetos conhecidos”, explica ao g1 Fernando Virgilio Roig, pesquisador e diretor substituto do Observatório Nacional (ON),
“Ele é considerado um “quase satélite” ou, de forma mais popular, uma “quase lua” porque não é uma lua de verdade: para isso, precisaria orbitar a Terra. No caso desse corpo, o movimento é em torno do Sol, embora sua trajetória acompanhe de perto a do nosso planeta”, acrescenta Roig.
Apesar disso, essa descoberta da “quase-lua” viralizou na internet nos últimos dias, em publicações nas redes que diziam que a até a NASA havia confirmado oficialmente uma “nova lua da Terra”. Mas isso não é verdade.
Até então, a agência espacial norte-americana não se pronunciou sobre o 2025 PN7.
A Nasa suspendeu suas comunicações desde 1º de outubro, por causa da paralisação temporária do governo dos Estados Unidos.
O g1 enviou inclusive um e-mail à assessoria de imprensa da agência e recebeu uma resposta automática informando que a NASA está fechada devido ao “shutdown” e que o canal de comunicação com a imprensa “não está sendo monitorado”.
Eclipse parcial da Lua é visto em Santa Catarina.
Allan Pedro/Arquivo Pessoal
O que se sabe então sobre o 2025 PN7
O novo visitante foi identificado pelo telescópio Pan-STARRS, instalado no alto do vulcão Haleakalā, no Havaí, um dos principais observatórios dedicados à busca de objetos próximos à Terra.
A análise mostrou que o corpo mede entre 20 e 40 metros de diâmetro, pequeno para padrões astronômicos, mas suficiente para ser rastreado.
Ele pertence a um grupo apelidado tecnicamente e Arjunas, formado por asteroides que têm órbitas muito semelhantes à da Terra: praticamente circulares, com uma leve inclinação e o mesmo tempo de rotação ao redor do Sol (cerca de um ano).
Devido a essa coincidência, esses objetos podem ser “capturados” temporariamente pelo campo gravitacional do nosso planeta, entrando em uma espécie de parceria orbital, uma relação estável, mas passageira.
Simulações mostram inclusive que o 2025 PN7 está nessa configuração há seis décadas.
Em alguns momentos, ele chega a cerca de 4 milhões de quilômetros da Terra, o equivalente a dez vezes a distância entre a Terra e a Lua; em outros, se afasta até quase 18 milhões de quilômetros.
Esse movimento de aproximação e afastamento acontece por causa da gravidade, que faz o corpo ora “seguir” a Terra, ora parecer ser deixado para trás.
É como se os dois estivessem correndo na mesma pista, mas em faixas diferentes: às vezes lado a lado, às vezes com o planeta ligeiramente à frente.
Por isso, na prática, o 2025 PN7 não está preso à Terra, como acontece com a Lua, e sim andando em sintonia com ela.
Os astrônomos chamam esse tipo de relação de “ressonância”, quando dois corpos completam a volta ao redor do Sol no mesmo tempo, criando a impressão de que um acompanha o outro.
“Em algum momento, ele vai sair dessa condição, porque esses asteroides quase satélites não são permanentes”, explica Roig.
“O que se calcula é que ele continuará na região dos objetos próximos da Terra, mas fora dessa configuração. Talvez, depois de milhares de anos, ele volte a se tornar um quase satélite temporário, mas isso é muito difícil de prever”, acrescenta.
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Simulação mostra a órbita do asteroide 2025 PN7, o novo “quase-satélite” da Terra, em comparação com os planetas internos do Sistema Solar.
NASA JPL – Horizons
Por que essa descoberta é importante
Asteroides com esse tipo de trajetória são valiosos para a ciência porque podem ser monitorados por longos períodos.
Enquanto a maioria dos objetos próximos à Terra passa rapidamente e desaparece, esses “companheiros temporários” retornam ao mesmo ponto de observação todos os anos, o que permite estudos detalhados de composição, origem e dinâmica orbital.
A descoberta também ajuda a entender melhor a interação gravitacional entre a Terra e os chamados NEOs (Near-Earth Objects, ou objetos próximos da Terra), categoria que engloba asteroides cuja órbita cruza ou chega perto da nossa.
Eles são classificados da seguinte forma, de acordo com o comportamento médio de suas órbitas:
Amors: não cruzam a órbita da Terra – ficam a todo tempo além do ponto mais distante da Terra.
Apollos: são mais distantes do Sol que a Terra, mas chegam mais perto do sol que o ponto mais distante da órbita da Terra. O 7335 (1989 JA) é um Apollo.
Atiras: são internos à órbita da Terra. Ou seja, não a cruzam.
Atens: são uma espécie de oposto do Apollos, pois ficam mais perto do Sol que a Terra, mas chegam na “região” da orbita da Terra (o ponto mais distante da orbita deles é mais distante do Sol que o mais próximo da Terra).
A Nasa estuda a fundo a órbita desses corpos para justamente prever aproximações e probabilidades de impacto.
Em 2022, a agência concluiu inclusive com sucesso a missão DART, que desviou a trajetória de um asteroide a cerca de 11 milhões de quilômetros da Terra, pela primeira vez na história.
Ainda segundo a agência espacial americana, diariamente, cerca de cem toneladas de “material interplanetário” caem na superfície da Terra, mas a maioria desses objetos são minúsculas partículas de poeira que são liberadas por cometas (geralmente, os cometas são feitos de gelo e poeira, diferentemente dos asteroides, que são rochosos).
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