Mais de 2 milhões de famílias saíram da insegurança alimentar em 2024
Mesmo com melhora no acesso a alimentos entre 2023 e 2024, o Amazonas ainda está entre os estados com mais famílias em situação de insegurança alimentar no país. Segundo dados divulgados na sexta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 38,9% dos domicílios amazonenses enfrentam algum grau de restrição alimentar, o que coloca o estado em terceiro lugar no ranking nacional, atrás apenas do Pará (44,6%) e de Roraima (43,6%).
O levantamento faz parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua sobre Segurança Alimentar, realizada em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. O estudo avalia a capacidade das famílias de acessar alimentos em quantidade e qualidade suficientes.
Entre os casos mais graves — quando a fome é uma experiência concreta no domicílio —, o Amazonas aparece com 7,2% das famílias afetadas, também uma das maiores proporções do país. O índice é superado apenas por Amapá (9,3%).
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A insegurança alimentar é mais comum nas áreas rurais (31,3%) do que nas urbanas (23,2%). Nos domicílios rurais, o nível grave atinge 4,6% das famílias, contra 3% nas cidades.
Segundo a pesquisadora Maria Lúcia Vieira, do IBGE, a vulnerabilidade nas áreas rurais está ligada à renda menor e à composição das famílias.
“Esses dados vão um pouco contra a nossa intuição de que na área rural as pessoas plantam seus alimentos, portanto a insegurança alimentar ali seria menor. Entretanto, parte dos domicílios rurais tem rendimento per capita menor e maior presença de crianças, de tal forma que, mesmo com cultivo agrícola, esse pode ser restrito e não variado, não garantindo nem quantidade e nem qualidade”, explicou.
Proporção é maior no Norte e Nordeste
As regiões com mais domicílios em insegurança alimentar são o Norte (37,7%) e o Nordeste (34,8%), sendo que o nível mais grave chegou a 6,3% e 4,8%, respectivamente. Nas outras regiões, os índices foram menores: 20,5% no Centro-Oeste, 19,6% no Sudeste e 13,5% no Sul.
No Norte, a proporção de domicílios em situação grave foi quase quatro vezes maior que no Sul, que tem a menor taxa (1,7%).
Em números absolutos, o Nordeste tem mais domicílios afetados (7,2 milhões), seguido pelo Sudeste (6,6 milhões), Norte (2,2 milhões), Sul (1,6 milhão) e Centro-Oeste (1,3 milhão).
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O que é insegurança alimentar
A pesquisa do IBGE utiliza a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), que classifica os domicílios em quatro categorias, de acordo com a falta ou acesso pleno e regular de seus moradores a alimentos de qualidade nutricional. São elas: segurança alimentar, insegurança alimentar leve, insegurança alimentar moderada e insegurança alimentar grave.
A pesquisa classifica a insegurança alimentar em três níveis:
Leve: quando há preocupação ou incerteza sobre o acesso a alimentos, com redução da qualidade das refeições;
Moderada: quando há redução da quantidade de alimentos entre adultos;
Grave: quando a falta de alimentos também atinge crianças e adolescentes, e a fome é vivida no domicílio.
A segurança alimentar é classificada como o direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.
Cenário nacional
Apesar dos índices ainda altos no Norte, o levantamento mostra uma melhora nacional em 2024. Todos os níveis de insegurança alimentar caíram em relação a 2023:
Leve: de 18,2% para 16,4%;
Moderada: de 5,3% para 4,5%;
Grave: de 4,1% para 3,2%.
Segundo o IBGE, essa redução representa 2,5 milhões de famílias que deixaram de passar por restrição severa de alimentos.
Amazonas tem terceira maior taxa de insegurança alimentar do país, aponta IBGE
Roberto Dziura Junior/AEN