Conversa ocorreu por telefone, pouco antes de o Ministério da Fazenda voltar atrás na medida. Sabe-se agora que a decisão do governo de recuar em parte do aumento do IOF teve participação direta do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Naquela noite, ele foi alertado em um telefonema pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sobre os impactos do aumento do IOF, especialmente no que se refere ao controle de capitais.
Segundo relatos de interlocutores do presidente Lula, Galípolo demonstrou preocupação com a medida e relatou que havia recebido muitas ligações de agentes do mercado, que àquela altura já vivia um ambiente de convulsão.
Galípolo chegou a dizer que foi surpreendido, porque jamais havia sido aventada a possibilidade de aumentar o IOF para remessas de capitais de fundos para o exterior.
O Presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, durante reunião com o presidente da Fiesp, Josué Gomes
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Segundo esses relatos, depois disso, o próprio Lula passou a consultar seus ministros mais próximos sobre as consequências da medida.
Na entrevista coletiva concedida pela equipe econômica na tarde de quinta-feira, havia sido sinalizado pelo secretário Dario Durigan que o BC estava ciente das medidas.
Horas depois, o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desmentiu a fala em uma postagem na rede social.
Na sexta, foi a vez de Galípolo vir a público e explicitar sua discordância em relação ao aumento do IOF.
O fato havia sido debatido internamente em dezembro de 2024, mas, naquela ocasião, o próprio Galípolo havia manifestado posição contrária à medida.
A reversão de parte do aumento do IOF ajudou a tranquilizar o mercado na sexta-feira. Avaliações que chegaram ao Palácio do Planalto indicavam que o dólar poderia ter uma forte alta na manhã de sexta. Tanto é que o ministro Sidônio Palmeira, da Secom, orientou Haddad a anunciar o recuo ainda na noite de quinta.
Segundo interlocutores do presidente ouvidos pelo blog, a equipe econômica evitou dar detalhes do aumento do IOF temendo vazamentos.
Ao jornal O Globo, o ministro Fernando Haddad disse que o IOF “foi debatido na mesa do presidente, que convoca os ministros que considera pertinentes”.