Trabalhadores por aplicativo crescem 170% em 10 anos
Aos 65 anos, a aposentada Elizabete Barreto encontrou nos aplicativos de transporte uma nova rotina em Ribeirão Preto (SP). Há oito anos no volante, ela usa o trabalho como motorista para manter a renda e, principalmente, não se isolar em casa.
“Se eu ficasse em casa, ia ficar em depressão. Como eu consegui encontrar o aplicativo e trabalhar, eu me sinto bem trabalhando”, contou.
Hoje, Elizabete já conquistou clientes fixos e se tornou parte do cotidiano da cidade. A história dela se soma à de milhões de brasileiros que hoje dependem dos aplicativos para gerar renda.
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Dados do Banco Central mostram que, entre 2015 e 2025, o número de trabalhadores por aplicativo de transporte e entrega no Brasil cresceu 170%. O total saltou de 770 mil para 2,1 milhões de pessoas.
Aos 65 anos, aposentada trabalha como motorista de aplicativo em Ribeirão Preto para evitar depressão: ‘Me sinto bem trabalhando’
Luciano Tolentino/EPTV
O economista Fabio Gomes, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-USP), explica que o avanço foi impulsionado pela pandemia, quando houve aumento da demanda por entregas, e que tende a se estabilizar nos próximos anos.
“Essas pessoas são consideradas empregadas, porque elas têm um trabalho regular. Então, isso tende a reduzir a taxa de desemprego no país. Elas conseguem renda, consomem e movimentam a economia, além de prestarem serviço que é o aumento do bem-estar daqueles que recebem os seus produtos em casa ou que usufruem do transporte. Então tem um benefício para sociedade e um benefício para essas pessoas”, disse.
Em cidades como Ribeirão Preto, os motoristas de aplicativo se tornaram presença constante nas ruas, atendendo desde passageiros que usam transporte diário até restaurantes e mercados que dependem das entregas.
Elizabete afirma que, embora o trabalho ajude a complementar a aposentadoria, há desafios.
“A gente trabalha e ganha o que o aplicativo paga para a gente. Férias e décimo terceiro todo mundo gostaria de ter, como um funcionário normal. Seria bem-vindo”, afirmou.
Aos 65 anos, aposentada trabalha como motorista de aplicativo em Ribeirão Preto para evitar depressão: ‘Me sinto bem trabalhando’
Luciano Tolentino/EPTV
Precarização e queda na renda
Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fairwork Brasil mostram que o fenômeno também trouxe precarização. A renda média dos motoristas, que era de R$ 3,1 mil entre 2012 e 2015, caiu para menos de R$ 2,4 mil em 2022.
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A pesquisa também indica aumento das jornadas: 27% dos motoristas trabalham entre 49 e 60 horas por semana, contra 21% em 2012. Já a contribuição previdenciária despencou de 47,8% em 2015 para 24,8% em 2022.
Para Gomes, a comparação com empregos formais ajuda a entender os riscos.
“Quem está por conta própria precisa se organizar para conseguir ter um tempo de descanso ao longo do ano, poupar para a aposentadoria e se organizar com os rendimentos que possui. Essa comparação não é direta, por que no caso o CLT existem alguns benefícios, algumas proteções que quem está por conta própria não tem.”
O levantamento do Banco Central aponta, ainda, que o transporte por aplicativo já entrou no cálculo da inflação oficial do país, o IPCA, e hoje representa 0,3% do índice.
Segundo o Banco Central, o número de motoristas e entregadores por aplicativo no Brasil cresceu 170% na última década, passando de 770 mil em 2015 para 2,1 milhões em 2025
Luciano Tolentino/EPTV
*Sob supervisão de Helio Carvalho
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