magens e textos geraram polêmica em Sorocaba e fizeram prefeitura censurar livro na rede municipal
Marcel Scinocca/g1
Um tridente, uma cruz, uma ilustração do que seria o diabo e um pequeno texto provocativo. Esses foram os elementos que fizeram a Prefeitura de Sorocaba (SP) censurar e determinar a retirada da rede municipal de ensino, na quarta-feira (3), os exemplares do livro premiado ABC Doido, usado com aval do Ministério da Educação.
O documento, assinado por Clayton Cesar Marciel Lustosa, que é bispo evangélico e secretário de Educação da cidade, determina que os exemplares que estiverem nos acervos das instituições educacionais da rede municipal sejam separados e retirados do uso imediatamente. “Informamos que esta obra literária não deve ser utilizada em sala de aula e nem disponibilizada aos alunos”, diz o documento.
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O g1 teve acesso um exemplar do material de uma das unidades de ensino. O alvo da polêmica é uma obra escrita em 1999, com 112 páginas. A ideia da autora Angela Lago era ensinar o alfabeto de forma não convencional, no caso, de trás para frente. A editora Melhoramentos lamentou a decisão da prefeitura (veja mais detalhes abaixo).
As ilustrações e textos coloridos aparecem em páginas também multicoloridas. Ao longo da obra, há várias menções carinhosas como “anjinho, santo e benzinho”. Entretanto, o que chamou a atenção de pais de alunos da rede pública foi o conteúdo das páginas 28, 29, 30 e 31.
Imagens e textos geraram polêmica em Sorocaba e fizeram prefeitura censurar livro na rede municipal
Marcel Scinocca/g1
Na página 28, o texto diz o seguinte: “Minha cruz é você! Mas tem outra cruz no ABC…” Na página seguinte, ao retratar o alfabeto, a letra “s” é representada por um saci – um dos símbolos do folclore brasileiro. Já a letra “t” é representada por tridente – arma de três pontas, frequentemente associada ao diabo, mas que apresenta diferentes representações dependendo da cultura -, e a “v” por um vampiro.
Na página 30, ao falar da letra “t”, em meio a várias figuras, o texto diz o seguinte: “É um T de tridente, diabo? Ou é um cruz, capeta? Cruz não!”
A página seguinte apresenta a letra T, com a ilustração de uma pessoa, que foi interpretada como a imagem que lembra Jesus crucificado.
Bispo e secretário de Sorocaba manda retirar livro infantil da rede municipal
O que a prefeitura justificou
A Secretaria de Educação (Sedu) informou que, diante de questionamentos de pais de estudantes da rede municipal, “solicitou, de forma cautelar, o recolhimento dos exemplares do referido livro das unidades escolares. O levantamento da quantidade de obras já está em andamento”.
“Os exemplares foram recolhidos para análise da Comissão Permanente de Análise de Títulos de Livros Paradidáticos, instituída em 2021 e regulamentada pela Portaria SEDU/GS nº 02, responsável pela avaliação de obras paradidáticas adotadas na rede municipal.”
Os exemplares devem ser entregues no protocolo do Centro de Referência em Educação até 9 de setembro.
Editora lamentou determinação
Em nota, a Editora Melhoramentos, responsável pelo livro, diz lamentar a decisão sobre o pedido de retirada do material. Diz ainda que o título é considerado um clássico da literatura infantil brasileira e, desde então, tem sido amplamente adotado por instituições de ensino em todo o país como material de apoio em processos de alfabetização e incentivo à leitura.
“Em 2000, a obra foi reconhecida com o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Infantil e Juvenil, consolidando-se como uma referência no campo educacional e literário.”
“A autora Angela-Lago é uma das vozes mais reconhecidas da literatura infantil e juvenil brasileira. Sua produção, traduzida e premiada internacionalmente, é marcada pela originalidade, pelo diálogo com a cultura popular e pelo compromisso em colocar a criança como sujeito ativo da leitura.”
Recorrente
Durante a gestão do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), essa é a terceira vez que há retirada de livros da rede. Em 2021, mais de 1,5 mil livros paradidáticos com conteúdos considerados inadequados para crianças por uma comissão técnica da rede municipal de ensino foram substituídos pela Prefeitura de Sorocaba (SP). Os exemplares foram enviados pela obra “O Pequeno Príncipe”.
Em 2022, houve a retirada da rede municipal o livro “Deus me Livre!” por determinação do prefeito. De acordo com Manga, o material não era apropriado para crianças.
No caso do último, o caso aproveitou a polêmica para gerar engajamento em suas redes sociais, onde tem mais de sete milhões de seguidores. No post, Manga explicita que o conteúdo faz apologia ao diabo.
Imagens e textos geraram polêmica em Sorocaba e fizeram prefeitura censurar livro na rede municipal
Marcel Scinocca/g1
Imagens e textos geraram polêmica em Sorocaba e fizeram prefeitura censurar livro na rede municipal
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Prefeitura de Sorocaba recolhe livros que falam sobre educação sexual para crianças
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