Victoria com o pai Anderson de Almeida
Arquivo Pessoal
Victoria Almeida tinha 11 anos quando perdeu o pai, Anderson Moreira de Almeida. Anos depois, ainda na adolescência, descobriu que ele havia cometido suicídio, o que trouxe uma nova onda de dor e um segundo luto, marcando profundamente sua vida.
Hoje, aos 28 anos, formada em Psicologia, ela acolhe pessoas que também perderam alguém por suicídio, mostrando que, apesar da dor, é possível reconstruir a caminhada.
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* Se você ou alguém que conhece estiver precisando de ajuda, procure o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 188. O atendimento é gratuito e funciona 24 horas.
A história dela na posvenção ao suicídio, conjunto de ações que oferecem suporte emocional e social a quem perde alguém dessa forma, mostra como o acolhimento e a informação podem transformar dor em cuidado e esperança. Entenda sobre o processo mais abaixo.
Neste mês do Setembro Amarelo, dedicado à prevenção do suicídio e à valorização da vida, campanhas em todo o país reforçam a importância de falar sobre o tema, de buscar ajuda e de oferecer apoio a quem enfrenta essa perda.
Irmãs em rede de apoio
Após a descoberta de que o pai cometeu suicídio, ela e a irmã mais velha precisaram encontrar apoio uma na outra. Entre confidências e choros, começaram a enfrentar juntas a morte dele sob aquela nova angulação. “Tudo o que eu usava para lidar com a dor deixou de fazer sentido”, lembrou Victoria.
Por medo do julgamento, contavam a todos que ele, que morreu com apenas 39 anos, havia tido um problema no coração.
Victoria e o pai Anderson
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Mesmo morando em cidades diferentes, as irmãs criaram seu próprio grupo de acolhimento. “Começamos a conversar, tirar dúvidas, chorar juntas e buscar apoio uma na outra”, lembrou ela.
Ainda conforme ela, o enfrentamento ao luto também incluiu religiosidade, outros grupos de apoio e música. Uma das canções que mais a marcou neste processo foi ‘Enquanto Houver Sol,’ dos Titãs, que a inspiraria para a criação de um grupo de apoio, o Nenhuma Ideia Vale Uma Vida (NIVV).
O interesse pela Psicologia e o nascimento do NIVV
A dor pela perda do pai levou Victoria a cursar Psicologia. Na faculdade, a juiz-forana teve contato com a terapia e se aprofundou em livros, artigos e congressos sobre o tema. Sentindo falta de espaços seguros e informações de qualidade, decidiu criar seu próprio grupo de acolhimento.
Jovem que perdeu o pai vira psicóloga em Juiz de Fora
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Em 2017, nasceu o Nenhuma Ideia Vale Uma Vida (NIVV), rede de apoio on-line que oferece informação e acolhimento a pessoas enlutadas por suicídio.
“No começo, eu nem mostrava meu rosto. Estava aprendendo e sendo ajudada ao mesmo tempo que tentava ajudar. Com o tempo, passei a levar mais a sério, participei de um documentário sobre o tema e abri grupos on-line. Hoje, o NIVV realiza encontros gratuitos todo mês”.
Victoria também fez do tema sua trajetória acadêmica, estudando a posvenção do suicídio.
“É uma área com pouca produção no Brasil. Meu TCC foi uma revisão sistemática sobre religiosidade e prevenção do suicídio. A gente sabe que espiritualidade pode ter efeito protetivo, mas ainda não sabemos como. Quero contribuir para essa área”, disse ela, que está no doutorado.
‘Ele vive dentro de mim’
Victoria fala do pai com ternura, guarda fotos e ouve as músicas que ele amava.
Existe uma ideia de que, para viver o luto, é preciso se desapegar da pessoa. Eu não acredito nisso. Busco manter viva a memória do meu pai. Meu namorado nunca o conheceu fisicamente, mas conhece as histórias. Ele vive dentro de mim e acho que teria orgulho de mim
Também carrega na pele a tatuagem de ponto e vírgula, que simboliza a esperança e a superação da depressão, ansiedade, tendências suicidas e outros problemas de saúde mental.
Victoria Almeida criou um grupo de apoio on-line que oferece acolhimento a pessoas enlutadas por suicídio
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Ela afirma que o luto por suicídio traz culpa, raiva, abandono e muitos “e se…”. Mas, segundo ela, é possível seguir.
“Meu lema é: o luto do suicídio vai mudar sua vida, mas isso não significa que essa nova versão será pior. Amor transforma a dor em propósito. Dá para viver e não apenas sobreviver”, diz.
Saiba mais sobre a posvenção
O que é posvenção?
Qualquer ato apropriado e de ajuda que aconteça após o suicídio com o objetivo de auxiliar os sobreviventes (pais, filhos, irmãos, familiares, amigos, colegas) a viver mais, com mais produtividade e menos estresse que eles viveriam se não houvesse esse auxílio.
São ações, atividades, intervenções, suporte e assistência. É uma ferramenta reconhecida mundialmente como um componente importante no cuidado da saúde mental dessas pessoas.
Os objetivos da posvenção são:
Trazer alívio dos efeitos relacionados com o sofrimento e a perda.
Prevenir o aparecimento de reações adversas e complicações do luto.
Minimizar o risco de comportamento suicida nos enlutados por suicídio.
Promover resistência e enfrentamento em sobreviventes.
A maioria dos sobreviventes não conta com nenhuma ajuda para lidar com o luto.
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