
Capa do álbum ‘Hasos’, de Baco Exu do Blues
Obra de Brendon Reis
♫ OPINIÃO SOBRE ÁLBUM
Título: Hasos
Artista: Baco Exu do Blues
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♬ Quinto álbum de estúdio de Baco Exu do Blues, Hasos pode não atingir a coesão de Esú (2017) e Bluesman (2018), títulos referenciais da discografia do rapper baiano, mas mostra Diogo Álvaro Ferreira Moncorvo em evolução, ainda que errática, tentando virar o disco em meio a diversidade sonora e ao desalinho existencial que geraram Hasos.
“Eu sempre fui tratado como um galo de briga. Eu tive que estudar a arte da guerra. Eu conheço todos os guerreiros… Eu era um aniquilador, eu nasci pra isso. E agora que esses dias passaram, estou vazio. Eu não sou ninguém. Eu estou trabalhando na arte da humildade. Você acredita em mim?”, questiona Baco, na voz do ator Fabrício Boliveira, no interlúdio, Galo de briga, que abre o álbum Hasos.
À beira dos 30 anos, a serem festejados em 11 de janeiro, Baco Exu do Blues sempre expôs fragilidades e inquietações e, ao se mostrar vulnerável, contribuiu para demolir a crença (exportada pelo hip hop dos EUA) de que rappers são marrentos, à prova de balas e desilusões.
Em Hasos, álbum que já cativa de antemão pela capa criada com obra do artista plástico baiano Brendon Reis, o rapper se desnuda em quatro interlúdios e 14 músicas que totalizam 18 faixas formatadas com produção musical de Marcelo Delamare, Marcos Maurício, Dactes e JLZ.
Single lançado em 6 de novembro com a música Que eu sofra – tema tristonho e interiorizado, gravado por Baco com os vocais em falsete de Zeca Veloso – já sinalizara a tentativa do artista de mudar o disco.
De fato, a mistura de soul, jazz e música afro-baiana ouvida nas duas melhores músicas do álbum, Gladiadores de areia e Caravaggio com colar de Gandhy, já justificam a existência de Hasos. Contudo, ao investir no processo de autoconhecimento, Baco também peca por excesso, por uma falta de filtro, evidenciada em faixas como Romance latino, música em que o cantor se une ao rapper conterrâneo Teto.
Ainda assim, há em Hasos uma centelha da renovação que inexistia no último álbum de Baco, QVVJFA – Quantas vezes você já foi amado? (2022), disco de fôlego, mas de menor impacto no confronto com os dois primeiros álbuns do rapper.
No R&B Garçom da ausência, Baco curte a sofrência ao lado da cantora Mirella Costa. “Falta coragem para ficar sozinho”, reflete Baco no tom melancólico da faixa. Música de baixa energia, Fugindo do espelho justifica o texto enviado à mídia – e reproduzido por parte da imprensa musical – de que Hasos é álbum de caráter terapêutico em que Baco senta no divã na presença do ouvinte.
O interlúdio que dá nome ao álbum, Hasos, justifica o marketing ao exibir conversa entre analista e paciente. “Doutor, às vezes, a gente precisa ser pior do que o mal”, dispara Baco ao fim da conversa, em frase de efeito que reverbera na faixa Pior que o mal, gravada por Baco com Joyce Alane.
“Chore até passar / Mantenha o axé”, receita o rapper em Deu meia noite, faixa sombria embasada pelo baticum afro-brasileiro. Em Mar de guerra, faixa que traz a voz de Sued Niunes, Baco cita o antecessor conterrâneo Dorival Caymmi (1914 – 2008) – “É doce morrer no mar” – na busca pelo sol da Bahia natal. “Nem todo mar é calmo”, advertem os cantores na faixa de instrumental encorpado.
Não há calmaria em Hasos. Raiva da morte põe a fé e a finitude no divã em faixa iniciada com vozes e sons do sertão nordestino. Pequeno príncipe reitera a sensação de que Hasos é álbum criado com certa dispersão, ainda que amarrado pelo fio conceitual da vulnerabilidade.
Contudo, Assassinos de saudade devolve a beleza a Hasos ao promover interseção entre o rap e a MPB em gravação de crescente grandiosidade que junta Baco com a cantora Vanessa da Mata. Na sequência, Sertão sem flor evolui suave na cadência de xote em feat do rapper com o cantor pernambucano Yvyson.
No arremate de Hasos, álbum em rotação desde 18 de novembro em edição do selo 999 distribuída via Sony Music, Baco Exu do Blues se junta com Carol Biazin na gravação de Um pouco, selando a impressão de que o rapper de fato procurou se renovar, mas às vezes se perdeu no caos que rege o dispersivo álbum.
Baco Exu do Blues alinha 14 músicas e quatro interlúdios nas 18 faixas do quinto álbum do rapper, ‘Hasos’
Roncca / Divulgação