‘Bolha’ da IA pode estourar? Trilhões em investimentos esbarram em baixo retorno


Jeff Bezos, fundador da Amazon, defende os investimentos maciços em IA na Tech Week 2025, que aconteceu em Turim, na Itália
MARCO BERTORELLO/AFP
Os investimentos astronômicos em inteligência artificial (IA) continuam: na semana passada, a gigante Nvidia anunciou que vai investir US$ 100 bilhões (R$ 534 bilhões) para ajudar a OpenAI, dona do ChatGPT, a construir data centers.
Os investimentos em IA dispararam em todo o mundo, e devem chegar a US$ 1,5 trilhão (R$ 8,01 trilhões) neste ano e passar de US$ 2 trilhões (R$ 10,68 trilhões) em 2026, quase 2% do PIB mundial, segundo a empresa americana Gartner.
🔎 Mas como são possíveis essas quantias astronômicas, se o retorno dos investimentos, pelo menos por enquanto, continua insignificante?
“Os investidores normalmente não dão US$ 2 bilhões a uma equipe de seis pessoas sem produto, e, no entanto, é isso que está acontecendo agora”, reconheceu Jeff Bezos, fundador da Amazon, na última sexta-feira (3), durante uma conferência de tecnologia na Itália.
“Essas bolhas industriais podem ser benéficas porque, quando a poeira baixa e restam os vencedores, a sociedade se beneficia dessas invenções”, disse Bezos.
O bilionário investiu na startup americana Perplexity, rival do ChatGPT.
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Embora o retorno desse investimento ainda seja baixo, “não há dúvida entre os investidores de que a IA é a tecnologia mais revolucionária”, comparável ao uso da eletricidade, disse Denis Barrier, diretor do fundo de investimento Cathay Innovation.
O Vale do Silício “está mais focado em aproveitar a oportunidade” do que em se preocupar com os riscos, acrescentou.
Data centers são a bola da vez
A tensão geopolítica impulsiona o frenesi envolvendo principalmente a construção de data centers, que consomem grande quantidade de energia.
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Entre 2013 e 2024, o investimento privado em IA atingiu US$ 470 bilhões (R$ 2,51 trilhões) nos Estados Unidos (quase um quarto apenas no último ano), seguido pela rival China, com US$ 119 bilhões (R$ 635,46 bilhões), segundo relatório da Universidade de Stanford.
Poucas empresas concentram a maior parte do mercado, com a OpenAI na liderança.
Em março de 2025, ela levantou aproximadamente US$ 40 bilhões (R$ 213,6 bilhões), o que elevou seu valor estimado para cerca de US$ 500 bilhões (R$ 2,67 trilhões), segundo analistas.
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‘Financiamento circular’
Dirigida por Sam Altman, a Open AI está no centro de uma explosão de investimentos em IA: ela supervisiona o projeto Stargate, que conseguiu US$ 400 bilhões (R$ 2,14 trilhões) dos US$ 500 bilhões (R$ 2,67 trilhões) previstos para 2029 para data centers no Texas.
Apoiado pela Casa Branca, o consórcio inclui o banco Softbank, e as gigantes de tecnologia Oracle, Microsoft e Nvidia, esta última alvo frequente de críticas por praticar o “financiamento circular”, ou seja, investir em startups que usam os fundos para comprar seus chips.
Alguns analistas consideram que esse comportamento infla uma bolha que pode estourar. O acordo com a OpenAI “provavelmente alimentará essas preocupações”, indicou Stacy Rasgon, da Bernstein Research.
Nos primeiros seis meses de 2025, a OpenAI gerou cerca de US$ 4,3 bilhões (R$ 22,96 bilhões) em receita, publicou nesta semana o veículo especializado The Information.
Diferentemente da Meta ou do Google, que possuem reservas substanciais, a OpenAI e concorrentes como Anthropic ou Mistral precisam ser criativas na busca de fundos para preencher essa lacuna.
Para os defensores dessa tecnologia, a explosão de receita da OpenAI é uma questão de tempo: seu assistente ChatGPT, lançado há menos de três anos, atende 700 milhões de pessoas, quase 9% da população mundial.
Data center da Meta em Indiana, nos Estados Unidos
Divulgação/Meta
Vai ser como a bolha da internet?
Alimentar o apetite digital da IA custará até US$ 500 bilhões (R$ 2,67 trilhões) ao ano em investimentos globais em data centers até 2030, o que vai exigir US$ 2 trilhões (R$ 10,68 trilhões) de receita anual para viabilizar os gastos, segundo a consultoria Bain & Company.
A empresa considera que, mesmo com estimativas otimistas, a indústria da IA enfrenta um déficit de US$ 800 bilhões (R$ 4,27 trilhões).
A OpenAI planeja gastar mais de US$ 100 bilhões (R$ 534 bilhões) até 2029, o que significa que ainda está longe de ser lucrativa.
No âmbito energético, a pegada digital global da IA poderia alcançar 200 gigawatts até 2030, o que equivale ao consumo anual de eletricidade no Brasil, a metade dos Estados Unidos.
Mas muitos analistas permanecem otimistas.
“Mesmo com a preocupação com uma possível bolha da IA, consideramos que o setor se encontra em seu momento 1996, o auge da internet. E, definitivamente, não em seu momento 1999, antes do estouro da bolha”, comentou o Dan Ives, da Wedbush Securities.
A longo prazo, “muito dinheiro vai desaparecer, e haverá muitos perdedores, assim como durante a bolha da internet, mas a web se manteve”, acrescentou Ives.
Bezos comparou o atual fluxo de investimentos em IA com outra bolha, a dos laboratórios de biotecnologia nos EUA, no ano 2000, impulsionada pelos avanços da pesquisa genética, mas cujo valor despencou em poucos meses.
No caso da IA, “os benefícios serão imensos”, garantiu o empresário. “Isso afetará todas as empresas do mundo, melhorando a qualidade de seu trabalho e sua produtividade”, disse o magnata.
“Estamos na era de ouro das viagens espaciais, da inteligência artificial, da robótica (…) Nunca houve um momento melhor para se entusiasmar com o futuro”, concluiu Bezos.
O lavador de pratos que criou a Nvidia, a empresa mais valiosa do mundo

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