Café não é item essencial, mas faz parte da nossa cultura: como o grão é protagonista na história brasileira

Presente no dia a dia do brasileiro, o café também ajuda a entender a história de poder e influência do país, dentro e fora do nosso território. Ninguém morre se ficar sem café, mas a bebida ocupa um papel de destaque na vida de pessoas do mundo inteiro — e o Brasil tem papel central na difusão dessa cultura.
É o que explicou Milena Serafim, professora de administração pública da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, em entrevista do podcast O Assunto da quarta-feira (8). OUÇA NO PLAYER ACIMA A PARTIR DO MINUTO 10:21.
“[O café] não tem nenhum valor nutricional, mas faz parte da nossa rotina. Faz parte da cultura, e é aí que fica evidente esse aspecto cultural no Brasil e em outros países, como os EUA”, avalia Milena.
Em tempos de tarifaço imposto por Donald Trump, a bebida voltou a ser instrumento de política e diplomacia — por aqui, no Brasil, essa relevância já era vista desde o começo do século 19, quando o café foi o combustível da nossa economia e transformou o país.
“Quem tinha café mandava”, diz Milena, relembrando a chamada “política do café com leite”, na qual havia um rodízio de poder entre políticos de São Paulo (café) e de Minas Gerais (o leite, fruto da pecuária).
Hoje, o cenário é diferente. Mas a importância da bebida permanece. Segundo a BBC News Brasil, Trump disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que os americanos estão sentindo falta de produtos brasileiros — e citou diretamente o café, que entrou na lista de itens tarifados anunciada pelos Estados Unidos em julho deste ano. Trump e Lula conversaram por videoconferência na semana passada.
“Nosso famoso cafezinho está possibilitando uma nova rodada de conversas entre os dois países”, ressalta Milena. Para ela, o impacto no mercado americano fez com que o café voltasse a se tornar um instrumento de diplomacia.
“No atual contexto, a gente volta a sentar à mesa de negociações por causa do café”, afirma a professora da Unicamp.
“Sem sombra de dúvida, o café entrou no gosto do norte-americano. […] É até bem interessante, porque a gente observa nas séries, nos filmes, como o café faz parte. Você tomar aquela bebida, você portar aquela bebida faz parte da forma como o norte-americano, enfim, desempenha as suas funções, interage”, explica Milena.
“Então, tem até aquela figura, aquela imagem que sempre aparece, e é real mesmo: as pessoas saem de casa e a primeira coisa que fazem é passar numa cafeteria, seja a pé, seja de carro”, complementa.
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Na primeira metade do século 20, “o café, além de commodity, virou um símbolo cultural para projetar uma imagem de país moderno do Brasil”, disse Milena.
Segundo ela, o governo brasileiro da época criou uma narrativa em que o café estava ligado a um estilo de vida. E foi então que o Brasil aproveitou a chamada política de boa vizinhança adotada pelo presidente americano Franklin Roosevelt, iniciada em 1933, para criar essa narrativa e vender o café brasileiro em solo americano.

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