Celular de suspeito de contratar assassino de Marielle foi manuseado após ele ser morto, aponta PF


Aparelho que estava com Edmílson da Silva, conhecido como Macalé, foi acessado e teve contatos inseridos, segundo perícia. Ex-policial foi assassinado em 21 de novembro de 2021. O celular só foi enviado à perícia em 25 de julho de 2023, 1 ano e 8 meses após o crime. Macalé, sargento da PM que teria feito elo de Ronnie Lessa com mandante da morte de Marielle foi executado em 2021; VÍDEO
O celular de Edimilson da Silva, conhecido como Macalé, foi manuseado após sua morte, segundo relatório da Polícia Federal. Macalé é apontado como o responsável por intermediar a contratação de Ronnie Lessa para matar Marielle Franco.
A informação, obtida pelo g1, consta no processo que apura o assassinato da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, no Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com a PF, contatos foram inseridos no aparelho e ligações chegaram a ser feitas mesmo após o ex-policial militar ter sido assassinado, em 6 de novembro de 2021.
Lessa, assassino confesso da vereadora e do motorista Anderson Gomes, afirma que foi chamado para o “serviço” por Macalé, assim como Élcio de Queiroz, o motorista do carro usado no atentado.
Macalé foi surpreendido por atiradores enquanto caminhava com três gaiolas com passarinhos na Avenida Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, pouco depois do meio-dia.
O celular foi apreendido no mesmo dia, mas só foi encaminhado para perícia em 25 de julho de 2023 — 1 ano e 8 meses depois do crime — após pedido da Polícia Federal.
Segundo documentos obtidos pelo g1, a solicitação da perícia ocorreu um dia após a prisão do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, em 24 de julho de 2023.
Momento em que o ex-PM Edmílson da Silva, Macalé, é morto, de acordo com imagens de câmeras de segurança
Reprodução
Contatos inseridos após a morte
A perícia constatou ainda que o telefone chegou a ter outros dois chips inseridos, antes do chip analisado, o que pode indicar a troca de aparelhos por Macalé.
“Foram localizadas uma série de alterações nos dados presentes no celular, alguns realizados pelo próprio funcionamento do sistema operacional e outros pela utilização do aparelho pelo usuário”, explica a perícia da PF.
Quatro contatos foram criados no aparelho após a data/hora da morte de Macalé, de acordo com a câmera de segurança: Chuck, Marcelo Pres. TNLD, Sheila e Fábio Cabeça.
Às 13h01, do mesmo dia em que Macalé foi morto, o telefone realiza duas ligações para o tal Chuck. Depois envia uma mensagem de localização para o aparelho. A localização é próxima do lugar onde Macalé foi assassinado.
Apesar do contato ter sido adicionado após o horário de registro da morte de Macalé, o ex-PM e Chuck já haviam conversado anteriormente, de acordo com dados do próprio celular.
Outro contato criado, Marcelo Pres. TNLD ligou para o aparelho de Macalé às 13h16. A ligação não foi atendida. O registro foi apagado do celular.
Marcelo Pres. e Macalé integravam um grupo de troca de mensagens chamado de Tonelada e formado por integrantes de um grupo de motoqueiros.
Macalé era adepto do motociclismo. O ex-PM chegou a adquirir uma moto Halley Davidson avaliada em R$ 118,9 mil em 2020.
Macalé, ex-PM, junto com moto que comprou. Ele fazia parte de grupo de motociclistas
Reprodução
Às 13h16min31s do mesmo dia em que foi morto, um contato com o nome de Sheila foi adicionado. Na sequência houve uma série de tentativas de ligação de Sheila para o celular de Macalé. Os registros de ligações foram apagados do aparelho.
O contato Fábio Cabeça foi criado às 14h52 e foram identificados registros de ligações para Macalé. Não foram encontradas pela perícia conversas anteriores entre eles.
Os investigadores descobriram que Macalé trocava de número de telefone com frequência, e há indícios, segundo apuração do g1, de que o ex-policial utilizava outros aparelhos celulares. A mudança acontecia, em média, a cada seis meses.
A perícia conseguiu recuperar uma troca de mensagens entre Macalé e um contato. Macalé se identificava como John Macalister.
JOHN MACALISTER: “(…) falei pra ela que daqui a pouco eu vou dar o outro número pra ela, que esse número aqui minha esposa atende.
DEL: “(…) vou salvar seu número aqui, pô. Você troca de número pra caraca. Sabia nem que tu tava com meu número (…).”
JOHN MACALISTER: “Obrigado, DEL. Salva aí irmão, valeu. Troco mesmo, de seis em seis meses eu troco, sou foda. Não gosto de ficar com número muito tempo não. (…)”
Passado violento
Nas trocas de mensagens descobertas pela perícia da Polícia Federal, Macalé ou John Macalister, fala que “fez muito mal” à localidade dominada pelo Comando Vermelho.
No entendimento da PF, a frase não seria para se vangloriar da atuação como policial, mas sim pela atuação ligada à uma milícia e estar próximo de Ronnie Lessa.
JOHN MACALISTER: “Tá maluco, Adelson vai lá sempre, nessa porra. Adelson não liga né?! Também não trabalhava na rua né? Nunca foi de matar ninguém, vagabundo, porra. A gente matava mesmo, vagabundo pra caralho aê, conhecido.”
INTERLOCUTOR: “Bom dia Negão, engraçado rapaz, você. Não quer ir com … pra Angra dos Reis porque tá com medinho. Aí quer ir ali praqueles bandidos de Santa Cruz? Ali a quadrilha é cem vezes maior do que a de … os bandidos lá de … Angra dos Reis tem um medo desses caras de Santa Cruz que eles não podem nem sonhar que eles estão lá.”
JOHN MACALISTER: “Lá não tem perigo nenhum, lá os bandidos são diferentes, lá não tem perigo nenhum. Porra, vai lá pra Angra, vai lá pro Dê mano, lá pro Comando Vermelho. Você não tem problema nenhum, você nunca fez mal a ninguém, graças a Deus. Eu já fiz muito mal a eles. Em Santa Cruz tu nunca viu problema lá, tu nunca viu.
Chats de passarinhos
No perfil utilizado por Macalé e identificado como “John Macalister”, o assunto preferido era de passarinhos, compra e venda desses animais e a participação em campeonatos ou torneios.
Daí, viria, segundo a PF, a proximidade de Macalé com o deputado federal Chiquinho Brazão, que, de acordo com os investigadores, seria “passarinheiro” e ligado a esses grupos. O deputado chegou a homenagear os adeptos desses torneios na Câmara Federal.
De acordo com a Polícia Federal e com a delação de Ronnie Lessa, os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão fizeram contato com o matador confesso de Marielle através de Macalé.
A defesa de Chiquinho Brazão sempre negou qualquer ligação com grupos de passarinhos ou que conhecesse Macalé. A defesa também sempre afirmou que não houve esse encontro com Lessa e Macalé.
A defesa de Domingos Brazão também nega a existência deste encontro.
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Macalé
Reprodução/TV Globo

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