Claudette Soares faz 90 anos com a bossa disseminada na música brasileira


Claudette Soares faz 90 anos hoje, 31 de outubro de 2025, e festeja a data com show no Bona, em São Paulo (SP)
Reprodução Facebook Claudette Soares / Murilo Alvesso / Montagem g1
♫ ANÁLISE
♬ Se a moça da esquerda pudesse olhar hoje a senhora cantora da direita, na montagem de fotos que mostra acima Claudette Soares em duas fases distintas da vida, talvez esse olhar fosse de incredulidade.
Nascida em 31 de outubro de 1935, e não em 1937, como cravam erroneamente diversos veículos e fontes sobre música brasileira, a carioca Claudette Colbert Soares chega hoje aos 90 anos em atividade, fazendo show no Bona, casa de shows de São Paulo (SP), cidade onde reside há décadas, para festejar a data redonda.
Talvez, no fundo, nem a própria Claudette de 2025 acredite na longevidade alcançada e no fato de, com 90 anos, estar aprontando disco com músicas inéditas compostas por veteranos como Marcos Valle e Roberto Menescal em parcerias com jovens como Tim Bernardes e Joaquim.
Como hoje talvez ela também ache incrível que, na década de 1950, tenha sido coroada Princesinha do baião por ninguém menos do que Luiz Gonzaga (1912 – 1989), rei do gênero. É que o baião estava na moda e, em 1954, quando gravou os primeiros singles de 78 rotações, a cantora iniciante foi levada pela indústria do disco a enveredar por seara nordestina inusitada para uma jovem criada na efervescência musical de Copacabana, bairro carioca que viu nascer no escurinho das boates o samba-jazz derivado da bossa nova.
Quando a asa branca bateu asas, Claudette pôde migrar para o universo da bossa nova e encontrou a própria turma. Nos anos 1960, foi considerada uma das donas da bossa. Contudo, analisado em perspectiva, é injusto reduzir o canto acariciante de Claudette Soares a esse universo da bossa nova.
A menina sapeca que entrara em cena aos 10 anos de idade no programa de calouros Papel carbono, da Rádio Nacional, para imitar Emilinha Borba (1923 – 2005) no canto da rumba Escandalosa (Moacyr Silva e Djalma Esteves, 1947), também fez travessuras em flertes com a Tropicália, o sambalanço, a Pilantragem e o samba-rock em discografia diversificada e nunca reconhecida no Brasil na medida da importância que teve e ainda tem. Tanto que os sete álbuns gravados pela artista entre 1966 e 1971 pela gravadora Philips foram editados em CD em caixa lançada somente no Japão.
Além de Luiz Gonzaga, Claudette caiu nas graças de outro rei, Roberto Carlos, que lhe ofertou a tristonha canção De tanto amor, lançada pela artista em 1971 com sucesso retumbante. Ou seja, a bossa de Claudette Soares está disseminada pela música brasileira.
Do alto do 1,49 metro que sempre fez dela uma das “menores” cantoras do Brasil de todos os tempos, Claudette Soares celebra a vingança de estar viva com a voz sempre elogiada pela afinação e pelo bom domínio do ritmo.
Esquecida nos anos 1980 e 1990, década em que lançou somente um álbum (Vida real, de 1995), Claudette Soares somente voltou a ter discografia regular quando teve o caminho profissional cruzado com o do produtor Thiago Marques Luiz em meados dos anos 2000.
Desde então, a artista tem feito discos temáticos dedicados a gêneros musicais, como o samba-canção e o sambalanço, ou a compositores como Chico Buarque e Silvio César. Esses álbuns têm mantido a cantora em atividade nos palcos e nos estúdios, contribuindo para que, aos 90 anos, Claudette Soares conserve a chama daquela menina que, aos 10 anos, foi imitar Emilinha Borba no programa de calouros da Rádio Nacional.

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