Prefeito eleito de Santa Quitéria é preso antes de tomar posse
A interferência do crime organizado nas eleições municipais de Santa Quitéria, no interior do Ceará, envolveu o fornecimento de drogas para comprar votos. As ações eram realizadas por representantes do Comando Vermelho em favor do prefeito José Braga Barroso (PSB), conhecido como Braguinha. O preso por se associar à facção (veja detalhes abaixo).
As investigações apontam que eleitores foram ameaçados pela facção criminosa a não votar no candidato opositor, Tomás Figueiredo (MDB).
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Dentre as ações cometidas durante as eleições de 2024, um dos traficantes da facção ordenou publicações nas redes sociais para “conseguir o apoio dos viciados em drogas”, informando que drogas seriam usados para comprar os votos destas pessoas. As informações constam em documento ao qual o g1 teve acesso.
Conforme as investigações, o traficante conhecido como Rikelme e outros criminosos, conhecidos como ‘Da30’ e Tyson, concordaram em fazer a compra de votos com drogas nos três dias anteriores ao dia das eleições.
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Rikelme é apontado como o braço-direito de ‘Paulinho Maluco’, descrito como líder do Comando Vermelho no sertão central do Ceará, com uma vasta ficha de antecedentes criminais por tráfico de drogas e homicídios.
“Paulinho Maluco” é um dos nomes atribuídos ao traficante Anastácio Paiva Pereira, conhecido como Doze ou Paizão, que estava escondido na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.
As ações a favor de Braguinha teriam sido autorizadas por Anastácio, que chegou a enviar Rikelme para coordenar a operação no município.
Chapa do prefeito cassada
Prefeito Braguinha (à esquerda, de paletó azul) e vice Gardel na cerimônia de diplomação
Reprodução
Braguinha era prefeito de Santa Quitéria desde 2021 e foi reeleito em 2024. No entanto, ele acabou preso antes de tomar posse para o segundo mandato.
O Ministério Público Eleitoral (MPE) havia pedido a cassação dos suspeitos no fim do ano passado após investigação sobre a interferência do crime organizado nas eleições municipais.
De acordo com a acusação, Braguinha e seu vice praticaram ou se beneficiaram do abuso de poder político e econômico, comprometendo a legitimidade do pleito. Relatórios da Polícia Civil do Ceará indicam que eleitores foram coagidos por uma facção criminosa a não votar no candidato opositor, Tomás Figueiredo (MDB).
No dia 1º de julho, o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) cassou o mandato do prefeito Braguinha e do seu vice-prefeito, Francisco Gardel Mesquita Ribeiro.
A Justiça Eleitoral agendou para o dia 26 de outubro a realização de eleições suplementares no município de Santa Quitéria.
Ameaças durante a disputa
Apoiadores de Tomás Figueiredo, candidato à Prefeitura de Santa Quitéria em 2024, eram ameaçados pelo Comando Vermelho; objetivo era que o candidato apoiado pela facção, Braguinha, fosse o vencedor da disputa
Reprodução
Membros do Comando Vermelho também ameaçavam cabos eleitorais que trabalhavam na campanha de Tomás Figueiredo, que disputou a prefeitura de Santa Quitéria contra Braguinha em 2024.
As ameaças eram enviadas por mensagens de WhatsApp e por pichações nos muros das casas dos apoiadores de Figueiredo.
Algumas das pichações continham as frases:
“Se apoia o Tomás, vai entrar no problema”,
“Fora Tomás. Bala no 15”
“Quem apoiar o Tomás vai entrar no problema com C.V. e a tropa do Paulinho Maluco”
“Quem apoiar o Tomás vai entrar na bala”
“Quem apoiar o 15 vai morrer”
O número 15 faz referência ao código de Tomás Figueiredo na urna eletrônica, filiado ao MDB.
Comando Vermelho ameaçava quem apoiava o candidato Tomás Figueiredo, rival de Braguinha nas eleições 2024 de Santa Quitéria
Reprodução
Em outros casos, as intimidações contra os apoiadores de Tomás foram ainda mais violentas, com disparos de armas de fogo contra as residências dessas pessoas, conforme documento ao qual o g1 teve acesso.
Conforme denúncia apresentada pelo Ministério Público do Estado do Ceará, os faccionados ordenavam também que casas com símbolos de apoio ao candidato do MDB fossem pichadas, e o grupo criminoso chegou a enviar ameaças anônimas ao Cartório Eleitoral do município.
A chapa de Braguinha e Gardel foi eleita no primeiro turno das eleições de 2024 com 11.292 votos, o que corresponde a 41,1% dos votos válidos do município. O candidato opositor, Tomás Figueiredo, teve 8.106 votos, correspondente a 29,44% dos votos válidos.
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