
Salva-vidas ajuda 21 animais que estavam em área urbana do município de Panorama (SP)
Casos de animais silvestres em áreas urbanas são cada vez mais frequentes, principalmente por fatores climáticos, como queimadas ou vendavais. Na região de Presidente Prudente (SP), atuação de especialistas se tornam essenciais para conseguir fazer o resgate e reabilitação da fauna.
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Um dos casos mais recentes foi registrado em Rancharia (SP), no dia 20 de outubro, quando um filhote de felino silvestre foi resgatado pela Polícia Ambiental, em uma fazenda. Especialistas acreditam que seja um gato-maracajá (Leopardus wiedii) e, com aproximadamente 20 dias de vida, foi encontrado após as fortes chuvas que atingiram a região no fim de semana.
Após fortes chuvas, filhote de felino possivelmente em extinção é encontrado em fazenda de Rancharia
Polícia Ambiental/Divulgação
Em nove meses deste ano, o salva-vidas Paulo Lima já ajudou 21 animais que estavam em área urbana do município de Panorama (SP), dentre espécies de cobras, lagartos, porco-espinho, cuíca, bugio e outros. Entre eles, um tucano que estava com muito de óleo nas penas, impossibilitando o voo.
“Foi quando capturei o animal e dei um banho. O tucano foi devolvido à natureza sem dano algum ao animal. Esse fato ocorreu faz 3 meses atrás”, relembro.
A cidade possui uma área territorial de 356,050 km² e população estimada de 15.227 pessoas, segundo a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O tamanho da área verde pode influenciar o aumento de animais silvestres na área urbana.
Um tucano foi socorrido com muito de óleo nas penas, impossibilitando o voo, em Panorama (SP)
Paulo Lima/Reprodução
Os animais foram resgatados por Paulo Lima e devolvidos à natureza em segurança, mas o guarda-vidas alerta que outros animais podem aparecer, já que os casos recorrentes em áreas urbanas seriam por conta dos incêndios florestais.
“Como a cidade é rodeada de pequenas matas e com plantio de canas-de-açúcar, tem muitas ocorrências de animais”, explica.
Animais silvestres são resgatados em menos de uma semana em Panorama (SP)
Paulo Lima/Arquivo pessoal
Atendimento veterinário
Já em Presidente Prudente, a veterinária Adriana Souza de Oliveira, que atua no ambulatório destinado aos animais do Parque da Criança, explica que também são realizados, de forma eventual, atendimentos a animais de fora do município.
O objetivo, segundo ela, é “auxiliar o município e os órgãos ambientais até que tenham disponibilidade de destinar para um Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres”.
O zoológico no Parque da Criança abriga 24 mamíferos, 75 aves e 110 répteis com cuidados diários. Alguns deles são animais silvestres resgatados que não puderam voltar à natureza.
“Os recebimentos mais comuns são os de filhotes de animais silvestres, mas a região possui alta demanda de destinação de animais atropelados e animais apreendidos por posse ilegal, mas estes são destinados ao Cetras mais próximo devido à complexidade do atendimento e a frequente necessidade de cirurgias”, continua.
Animais que estão no Parque da Criança, em Presidente Prudente (SP)
Reprodução/Prefeitura
Reabilitação
Já nos casos em que há possibilidade de retorno à natureza, os trabalhos de reabilitação da equipe multidisciplinar, composta por veterinária, biólogo e zootecnista, envolvem uma série de etapas técnicas, conforme Adriana.
“O processo começa com a avaliação clínica e comportamental do animal, seguida do tratamento médico e cuidados necessários para a recuperação da saúde”.
Após essa fase, os animais passam por um período de adaptação, no qual são estimulados a expressar comportamentos naturais. “Como caça, fuga e interação com indivíduos da mesma espécie, sempre com o mínimo de interferência humana possível”.
Em outubro deste ano, o Parque da Criança abrigou um novo membro: o filhote de gavião-carijó. Ele foi vítima de um forte vendaval que atingiu a região no dia 22 de setembro, após ter caído do ninho na Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semea).
Filhote de gavião-carijó resgatado em Presidente Prudente (SP)
Reprodução/Prefeitura
Equipes da Semea começaram a cuidar do filhote para depois devolvê-lo à natureza, segundo a prefeitura. Até entrarem em contato com a equipe veterinária do Parque da Criança, para garantir mais segurança.
Os pais do gavião apareceram depois e o filhote recuperou forças e começou a crescer, já começando os primeiros voos.
Cuidados permanentes
Existem situações em que, mesmo após tratamento e estabilização clínica, os animais não apresentam condições de sobrevivência no ambiente natural, reforça a veterinária. “Isso ocorre principalmente quando há comprometimento físico permanente ou perda de comportamentos essenciais para a vida livre”.
Um exemplo é o caso do bugio fêmea que está na Cidade da Criança, resgatada ainda filhote pela Polícia Ambiental, em 2021, em Rosana (SP). Ela sofreu um choque elétrico, resultando na amputação de um dos membros, o que inviabiliza o retorno à natureza.
“Também temos aves com fraturas ou lesões irreversíveis nas asas, que impedem o voo, um comportamento fundamental para alimentação, defesa e deslocamento”.
Os bugios vivem no zoológico do Parque da Criança, em Presidente Prudente (SP)
Reprodução/Prefeitura
“Animais exóticos, isto é, que estão fora da área de ocorrência natural da espécie, também não podem ser reintroduzidos na natureza, como é o caso das tartarugas-mordedoras, que são originários da América do Norte”, destaca a veterinária.
Nesses casos, os animais passam a viver sob cuidados permanentes no zoológico, onde recebem acompanhamento veterinário e condições adequadas para garantir bem-estar e segurança.
“Filhotes resgatados podem retornar à natureza quando adultos, mas esse é um processo difícil e complexo, que exige planejamento e acompanhamento técnico especializado”, reforça a veterinária.
Evitar contato humano
Para garantir que o animal possa voltar à natureza, é necessário evitar o contato com pessoas. “No entanto, apesar de todos os esforços, com frequência os filhotes podem desenvolver um vínculo com os cuidadores, de modo que na vida adulta não reconhecem o ser humano como uma ameaça”, pontua Adriana.
No caso, vínculo pode impedir que o animal exerça os comportamentos naturais, pareie com outros da mesma espécie ou até que sejam incapazes de buscar alimento por conta própria, além do risco de serem capturados ou atropelados.
“Nessas situações, os animais precisam permanecer sob cuidados humanos, pois a chance de sobrevivência se fossem reintroduzidos é baixa”.
Animais que estão no Parque da Criança, em Presidente Prudente (SP)
Reprodução/Prefeitura
“Por essa razão é muito importante que a população ao se deparar com filhotes de animais silvestres em situação de risco acionem as autoridades ambientais, pois tentar criar o filhote sem os devidos conhecimentos técnicos pode impedir que o animal tenha uma vida digna”, completa a veterinária.
A Prefeitura de Presidente Prudente reforça que, em casos de animais silvestres feridos ou em situação de risco, é necessário acionar o Corpo de Bombeiros ou a Polícia Militar Ambiental, pelo número 190.
Além disso, a Cidade da Criança não recebe animais entregues diretamente por moradores, atuando apenas mediante solicitação dos órgãos competentes.
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