Investigação aponta elo do PCC com 60 motéis de SP
Uma investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) com a Receita Federal revelou nesta semana que motéis e empresas hoteleiras eram usadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em nomes de laranjas para lavar dinheiro do crime organizado.
Entre 2020 e 2024, mais de 60 estabelecimentos deste ramo movimentaram mais de R$ 450 milhões.
O g1 explica nesta reportagem como funcionava o esquema descoberto pelo MP-SP.
Como funcionava o esquema?
Por que motéis?
Quais motéis foram identificados?
Além dos motéis, que outros ramos eram usados?
Como os investigadores chegaram até a rede?
Só os motéis estavam envolvidos?
Quem era apontado como chefe do esquema?
Como funcionava o esquema?
O esquema tinha várias camadas:
Superfaturamento de lucros: um dos motéis chegou a distribuir 64% da receita bruta declarada em lucros e dividendos, algo improvável em um negócio real.
Restaurantes acoplados: muitos motéis também tinham restaurantes com CNPJs próprios, usados para reforçar a lavagem. Um deles, por exemplo, declarou R$ 6,8 milhões em receitas em dois anos e distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros.
Compra de imóveis e bens de luxo: empresas ligadas aos motéis compraram terrenos, imóveis milionários, helicópteros, um iate e até uma Lamborghini Urus — bens incompatíveis com a atividade do setor.
Por que motéis?
Motéis são usados em esquema de lavagem de dinheiro do PCC.
Reprodução
Motéis movimentam grande volume de dinheiro em espécie, já que muitos clientes pagam em dinheiro para manter a discrição. Isso torna difícil distinguir o que é receita real e o que foi “injetado” de forma artificial.
Na prática, criminosos aproveitavam a característica do setor para fazer o dinheiro ilícito parecer faturamento legítimo.
Quais motéis foram identificados?
Alguns estabelecimentos já foram identificados e estão localizados em Ribeirão Pires, Itaquaquecetuba, Santo André e São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e em bairros da Zona Leste de São Paulo.
Confira a lista de estabelecimentos que já foram identificados:
Maramores Empreendimentos Hoteleiros
Motel Uma Noite em Paris
Motel Chamour
Motel Casual
Sunny Empreendimentos Hoteleiros
Mille Motel
Marine Empreendimentos Hoteleiros
Ceesar Park Empreedimentos Hoteleiros
Motel Vison
Motéis usados para lavar dinheiro do PCC movimentaram mais de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024
Reprodução
Além dos motéis, que outros ramos eram usados?
O PCC diversificou bastante as frentes de lavagem. Além dos motéis, havia:
Postos de combustíveis: cerca de 267 postos ainda ativos foram identificados, movimentando R$ 4,5 bilhões em quatro anos, mas pagando apenas 0,1% desse valor em tributos;
Franquias comerciais: pelo menos 98 estabelecimentos de uma mesma rede de franquias estavam ligados ao grupo;
Construção civil: empreendimentos imobiliários também foram usados para justificar patrimônio.
Como os investigadores chegaram até a rede?
A descoberta ocorreu quando a conta de iCloud de um operador do PCC revelou comprovantes digitais de transferências financeiras feitas por motéis para a fintech BK Bank, antiga Berlin Finance Meios de Pagamentos Eireli.
A fintech permitia que os valores depositados pelos clientes fossem misturados nas contas da instituição e enviados a terceiros sem deixar rastro contábil do remetente ou beneficiário real. Isto é, a empresa funcionava como “instituição de pagamento central” no esquema de lavagem.
Só os motéis estavam envolvidos?
O grupo também atuava em postos de combustíveis, franquias comerciais e até empreendimentos na construção civil. Juntos, esses negócios movimentaram cerca de R$ 1 bilhão entre 2020 e 2024, mas declararam apenas R$ 550 milhões em notas fiscais e recolheram ínfimos R$ 25 milhões em tributos.
Quem era apontado como chefe do esquema?
O empresário Flávio Silvério Siqueira, conhecido como “Flavinho”, suspeito de lavar dinheiro para o PCC há anos, especialmente por meio de postos de combustíveis adulterados.
Ele é apontado como chefe desse esquema complexo que usava uma rede de pelo menos 267 postos de combustíveis para movimentar cerca de R$ 4,5 bilhões entre 2020 e 2024.
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Arte/g1