Exposição das obras feitas pelas crianças ocorreu galeria Nolegart
Manu Alves
Entre tintas, argila e sonhos coloridos, um grupo de crianças de Franca (SP) transformou a curiosidade em arte e o amor pela natureza em aprendizado. Na galeria Nolegart, onde geralmente se expõem obras de artistas adultos, o protagonismo foi delas: pequenos grandes criadores que deram forma, cor e alma aos biomas brasileiros.
A exposição “Ecos da Infância”, organizada pela Escola Luz Montessori, nasceu de um projeto sobre os seis biomas continentais do país. Foram meses de pesquisa, criação e descobertas que resultaram em 64 obras de arte, que tomam forma em pinturas, esculturas e maquetes.
Crianças da Escola Luz Montessori, em Franca (SP)
Clara Rosetto de Barros
No Dia do Educador Ambiental, celebrado nesta quarta-feira (15), o Terra da Gente traz essa história que mistura arte, amor pela natureza e educação , cuja exposição encantou mais de 300 visitantes.
O destaque, impossível de passar despercebido, foi um tuiuiú de 1,60 metro, moldado em uma técnica ecológica chamada cerâmica-formigueiro. “Foi incrível, o tuiuiú foi a grande estrela da exposição”, conta emocionada a artista Manu Alves, 36 anos, criadora da coletânea Manual dos Bichos, ao lado do marido e ilustrador Rafael Mayer.
Tuiuiú de 1,60 metro foi moldado em cerâmica-formigueiro
Manu Alves
Quando a sala de aula floresce
Para Clara Rosetto de Barros, 41 anos, professora e coordenadora do Ensino Fundamental I da escola, o projeto foi mais do que uma atividade escolar, foi uma jornada de encantamento.
“As crianças começaram em março a fazer as maquetes, primeiro os grupos se aprofundaram em suas pesquisas, depois fizeram um planejamento de como seriam, então começaram a executar a construção, sempre com o mínimo de ajuda das professoras”, relembra.
Maquetes dos biomas brasileiros feitas pelas crianças foram expostas
Manu Alves
As criações representaram animais e paisagens da Amazônia, do Cerrado, da Caatinga, do Pantanal, da Mata Atlântica e do Pampa. Cada detalhe nascia das mãos pequenas, que moldavam o biscuit e outros materiais com cuidado, fazendo animais e plantas brasileiros que antes só existiam nos livros.
“Foram 64 obras de arte e o aprendizado de mais de 160 animais do Brasil, além das características de cada um dos biomas. Foi uma alegria imensa em contar para todos os visitantes sobre como tudo isso é incrível!”, diz Clara.
Pintura da tartaruga-do-pantanal feita pelas crianças
Manu Alves
Um livro que virou semente
O projeto nasceu do encantamento dos alunos pelo livro “Manual dos Bichos”, escrito e ilustrado por Manu e Rafael. A obra, que reúne 27 espécies de animais – uma para cada estado e o Distrito Federal -, busca aproximar o público infantil da fauna brasileira.
Maquetes contam com esculturas de animais feitas em biscuit
Manu Alves
É muito difícil descrever o retorno que a gente teve, e está tendo com esse projeto do Manuel dos Bichos. “Ele começou com uma intenção e ver isso numa exposição nos traz a satisfação imensa de um projeto que, de fato, funcionou”, comemora Manu.
Segundo ela, a intenção de escrever o livro era mudar o referencial de crianças e adultos sobre a fauna, atuando para fixar na memória as espécies nativas daqui.
Zorrilho é espécie de Conepatus que habita o Sul do Brasil
Gabriel Leite/iNaturalist
“A gente pergunta para a maioria das pessoas e elas vão citar animais como girafa, elefante, tigre, panda, zebra – dificilmente vão citar o zorrilho (Conepatus chinga), o lagarto-rabo-de abacaxi (Hoplocercus spinosus), o colhereiro (Platalea ajaja). A gente não tem a dimensão da nossa própria diversidade. A biodiversidade do Brasil é a maior do planeta, mas é muito estranho que a grande maioria das pessoas tenham o referencial de fora”, afirma.
Pintura de lobo-guará feita pelas crianças
Manu Alves
Manu afirma que ver o livro sair das páginas e ganhar o mundo pelas mãos das crianças é como assistir a uma colheita depois de anos de cultivo. “Acho que falta muito no mercado editorial projetos como esse, porque ele cria laços, vínculos, afeto. A gente conseguiu colocar espécies pouco conhecidas lado a lado com araras, onças e tamanduás”.
“A gente está mudando a visão de quem somos como brasileiros. É importante a gente crescer com o nosso referencial para poder entender o que é conservação ambiental, o que devemos fazer, em quem devemos votar – crescermos de forma mais, entendendo a responsabilidade imensa que nós temos com a natureza”, ressalta a escritora.
Maquetes contém animais esculpidos em detalhes
Manu Alves
Aprendizado que ecoa
A exposição se encerrou, mas as sementes lançadas continuam a germinar. “Precisamos despertar não somente nas crianças, mas em todos nós, a consciência de que somos parte da natureza e que amá-la e preservá-la é nossa responsabilidade”, reflete Clara.
“Em nossa escola, promovemos muitas atividades que trazem o mundo real para perto das crianças, fazendo com que se encantem com as belezas de nossa natureza. Vivemos de verdade a educação ambiental, ela não é apenas um projeto, é parte de nossos dias. Plantar e colher, cuidar e brincar com animais, viver essa proximidade com a natureza, mesmo estando dentro da cidade, faz com que nossas crianças conheçam, amem e cuidem”.
Maquetes contam com esculturas de animais feitas em biscuit
Manu Alves
Para Manu, o que aconteceu em Franca foi só o começo. “Eu nunca vi um projeto nessa dimensão ir para uma galeria, ter apresentações musicais, ilustrações originais expostas… Foi superpotente. Seria maravilhoso se outras escolas aderissem à ideia e trabalhassem mais essa temática”, incentiva.
No ano que vem, o Manual dos Bichos ganhará uma nova edição, sobre o bioma Costeiro-Marinho. E quem sabe, junto com ele, novas crianças não se encantem com o som das ondas, o voo das gaivotas e o brilho dos peixes? Porque quando a infância encontra a natureza, o aprendizado não se encerra: ele ecoa para famílias inteiras.
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