Levantamento da SME aponta regiões do Rio onde aulas foram suspensas por até 29 dias por causa de violência
A Secretaria de Educação do Rio denuncia que há escolas e creches da cidade onde criminosos estão proibindo a presença de câmeras.
Na semana passada, uma creche municipal em Vicente de Carvalho foi invadida por criminosos. Segundo testemunhas, três homens armados se esconderam em uma das salas, que estava cheia de bebês. Pelo menos quatro tiros atingiram a unidade.
A creche não tinha câmeras de segurança. E, segundo a Secretaria Municipal de Educação, essa é a realidade em muitas escolas da rede. Em áreas conflagradas, criminosos não permitem a instalação do equipamento.
“Já tivemos escolas ameaçadas. Em alguns casos, as câmeras foram retiradas por causa da instabilidade no território, por causa do crime que controla aquela área”, disse o secretário de Educação, Renan Ferreirinha.
O RJ2 de sexta-feira (27) mostrou que funcionários e crianças de escolas e creches da Zona Norte do Rio vivem sob ameaça constante de tiroteios e invasões de criminosos. Em meio a confrontos, unidades educacionais acabam servindo de refúgio para bandidos, expondo alunos e profissionais a riscos diários.
Um áudio gravado por uma funcionária de uma escola do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, mostra o desespero em meio a um intenso tiroteio nesta quarta-feira (11).
“Muito tiro, muito tiro… as crianças chorando muito… fecharam tudo, tá desesperador hoje”, diz a funcionária, que pediu para não ser identificada.
Imagens feitas dentro da unidade mostram crianças no chão, tentando se proteger dos disparos.
Aulas interrompidas por causa da violência
O RJ2 teve acesso a um levantamento da Secretaria Municipal de Educação que mostra que, até 31 de agosto de 2025, escolas da rede municipal ficaram dezenas de dias sem aulas por causa da violência armada.
As escolas que ficaram mais tempo sem aulas estão nas seguintes regiões:
Chapadão: 39 escolas, 29 dias de interrupção
Juramento: 5 escolas, 28 dias
Vila Kennedy: 17 escolas, 22 dias
Serrinha: 4 escolas, 22 dias
Morro do Trem (Vila Kosmos): 4 escolas, 21 dias
Segundo o Unicef, o impacto da violência armada na aprendizagem é persistente e cumulativo.
“Crianças e adolescentes que vivem em territórios sob controle armado têm uma perda equivalente a seis meses de estudo em comparação a outras regiões”, afirma Flavia Antunes, chefe do Unicef no Rio.
Protocolos de segurança
O monitoramento das regiões onde ficam as escolas começa às 4h da manhã, no Centro de Operações. De acordo com protocolos da Prefeitura a situação é classificada com as seguintes variações.
Verde: funcionamento normal
Amarelo: confronto próximo, mas sem suspensão de atividades externas
Laranja: mudanças nos horários de entrada e saída
Vermelho: crianças e funcionários precisam se deslocar para salas específicas e se deitar no chão
Mas há situações em que nem o protocolo funciona. Em uma escola no Engenho Novo, câmeras de segurança registraram o momento em que um criminoso armado invadiu o pátio e roubou a moto de um funcionário.
📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça
‘Ninguém imagina que vai ensinar aluno a se proteger de tiros’
Diretores e professores relatam uma rotina de medo. Uma diretora de uma escola em área controlada pelo tráfico, que pediu para não ser identificada, disse que a profissão se transformou.
“Ninguém imagina que vai ensinar o aluno a andar abaixado, se proteger na parede, mudar a posição da televisão para atender ao protocolo de segurança. É frustrante, mas ao mesmo tempo dá ânimo: a educação é necessária ali. É ali que a criança tem que estar. Todos os dias estamos lá, mesmo arrastando freezer ou abrindo barricada. E vamos continuar”, disse.
Estudantes do Rio têm a rotina prejudicada pela violência
Reprodução/RJ2
Escola atingido por tiro na Zona Norte do Rio
Reprodução/RJ2