
A mudança climática continua trazendo desafios crescentes para a agricultura brasileira. O aumento das temperaturas, alterações no regime de chuvas e a intensificação de eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e ondas de calor, afetam diretamente a produtividade agrícola e a segurança alimentar. Em 2025, compreender esses impactos e buscar soluções tornou-se ainda mais urgente para garantir a sustentabilidade da produção e a adaptação das lavouras a um cenário cada vez mais imprevisível.
Safra da Região Sul sob pressão climática em 2025
A safra na Região Sul do Brasil em 2025 apresenta um ambiente de estresse climático, caracterizado por secas e variações nas chuvas que têm impactado negativamente as lavouras. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, a falta de chuvas resultou em uma diminuição de 13,2% na colheita de soja, mesmo com um leve aumento na área cultivada. Simultaneamente, plantas como arroz, milho e feijão estão se recuperando: a colheita de arroz deve crescer aproximadamente 15,9% em comparação ao ciclo anterior.
As temperaturas têm estado acima do esperado, e a distribuição das chuvas tem sido bastante irregular, afetando desde o cultivo até o processo de enchimento dos grãos. No Paraná, a falta de umidade no solo, combinada com períodos de chuvas intensas, está dificultando o progresso de safras como a de milho da segunda colheita. apesar da previsão de uma produção recorde de grãos a nível nacional, a Região Sul está enfrentando perdas específicas e altos riscos, o que exige mudanças nos métodos de manejo, irrigação e nas previsões climáticas.
Período de secas severas em expansão
A seca severa continua se espalhando pelo país em 2025. Dados recentes do Cemaden indicam que mais de 50 terras já estão sob condição de seca extrema, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. O grande número de dias consecutivos sem chuva, que em 2024 já ultrapassava 120 em algumas localidades, voltou a se repetir em 2025, com impactos diretos sobre a pecuária extensiva e a terceira safra de milho e feijão.
Mapa Monitor de Secas
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O excesso de chuva em outras áreas também se revela prejudicial: lavouras inteiras foram perdidas em pontos do Sudeste devido ao encharcamento do solo. Esse cenário de extremos climáticos, secas prolongadas, enchentes e geadas fora de época, compromete a produtividade e força os agricultores a se adaptarem rapidamente.
A degradação do solo é outro fator preocupante. Áreas tradicionalmente férteis estão sendo abandonadas, enquanto novas regiões de cultivo exigem adaptações que encarecem a produção e reduzem a qualidade das sementes.
Agritempo
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Novo ambiente de adaptação
Pesquisas conduzidas pela Unicamp e Embrapa, em parceria com instituições internacionais, reforçam a necessidade de realocação de culturas para diferentes regiões do país. A mandioca, típica do Nordeste, e o café, símbolo do Sudeste, já encontram condições mais favoráveis no Sul, devido às mudanças climáticas.
No entanto, especialistas alertam que a transição não será rápida. As sementes precisam se adaptar às características químicas, físicas e biológicas do novo solo, processo que pode levar anos. Enquanto isso, a segurança alimentar depende da capacidade de produtores e pesquisadores de encontrar soluções ágeis e sustentáveis.
O produtor Renato Martini, do Rio Grande do Sul, reforça a importância do manejo:
Nosso trabalho prévio é manter o solo fértil, com análises frequentes. Quando o serviço é bem feito, mesmo com as mudanças climáticas, conseguimos manter a qualidade necessária para boas safras.
A Unicamp e a Embrapa, com o apoio da Embaixada Inglesa, fizeram o estudo Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira, publicado em 2008 e que prevê, para já antes do fim do século, a necessidade de realocação dos plantios de certas regiões do país devido à extrema degradação do solo. Não somente a terra, mas as sementes também terão que passar por alterações para que possam se adaptar ao novo ambiente. É o caso da mandioca, tradicionalmente criada no nordeste, e do café, um ícone da região sudeste: ambos encontrarão um ambiente mais favorável para cultivo no sul do País.
Contudo, a expectativa dos cientistas é em relação ao período necessário para que as sementes dessas plantas se adaptem às particularidades do solo em seus novos habitats. Profissionais da área advertem que essa fase de transição será influenciada por uma complexa interação de elementos, que inclui as características químicas, físicas e biológicas do solo de destino. A busca por respostas se torna crucial diante do desafio iminente de assegurar a segurança alimentar em um ambiente agrícola em constante mudança.
Cultivando o Futuro
Com o cuidado certo, o solo continua fértil. Mesmo passando por mudanças climáticas, é possível nivelar a qualidade da terra. “A questão climática nunca foi um problema, quando você faz o serviço bem feito, quando está preparado, e trabalha bem o solo, o processo todo, todas as etapas do processo bem feitas, o solo terá a qualidade necessária”, diz Renato sobre seus cuidados para fazer de seu solo, um local fértil e saudável.
O cenário climático de 2025 mostra que a agricultura brasileira seguirá enfrentando obstáculos significativos, mas também evidencia a resiliência dos produtores. Entre secas prolongadas, chuvas intensas e a necessidade de adaptar cultivos, cresce a consciência de que apenas com inovação, pesquisa e manejo adequado será possível garantir a segurança alimentar e a preservação ambiental nas próximas décadas.
Texto produzido por Maria Eduarda Klok, acadêmica do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, sob orientação da professora Julliane Brita, para a 23ª edição da Revista Verbo.