De charme a vogue: 14ª edição da Bienal de Dança valoriza a diversidade e mira se tornar ‘festival comunitário’


Baile Charme com Viaduto Madureira foi parte da programação da 14ª Bienal de Dança na Estação Cultura
Juliana Hilal
Passistas sambando ao lado da estátua de Bento Quirino, um baile charme envolvendo a família campineira na Estação Cultura e até mesmo uma competição de performers da comunidade LGBTQIAPN+ dentro do Sesc. Essa mistura brasileira está acontecendo em Campinas, na 14ª Bienal Sesc de Dança, que segue até 5 de outubro.
Na contramão do que se viveu no passado, em que a única forma de arte valorizada era a herdada da Europa, um dos objetivos do evento é ser um “festival comunitário”, que abarca a pluralidade e as “diversas danças contemporâneas existentes no Brasil”. É o que explica Maitê Soares, curadora da Bienal desde 2021.
Ao lado dela, Flip Couto atua pela primeira vez como curador convidado, trazendo a sua experiência das ruas e contribuindo para dar destaque à cena das ballrooms, com “muita moda, beleza e performatividade queer”.
“É uma Bienal que a gente tem uma presença de pessoas trans muito forte, além de pessoas LGBTs, mulheres lésbicas, homens gays, travestis, trans masculinos, pessoas não binárias. E isso é nítido, não só no palco, mas a gente está vendo nas equipes de produção, no educativo. A gente busca trazer essas pessoas, tanto profissionais quanto público”, explica o curador.
Charme carioca
Michel Jacob Pessoa cresceu pelos bailes charmes no Viaduto Madureira, celebrando a música e cultura negra, como foco em R&B e soul music. Seus pais se conheceram dançando os famosos passinhos sincronizados e, desde pequeno, Michel ajudava na preparação da festa.
Não à toa, também foi em um baile que conheceu a sua esposa. Há mais de 30 ano atuando na cena, ele é conhecido como DJ Michell e, apenas em 2025, esteve pela primeira vez na Bienal de Dança.
“E aí aquele movimento que começou lá em 1980 — e já estamos há 45 anos nessa luta — fazer parte desse circuito é um orgulho é um sinal de reconhecimento”, conta o DJ.
O ritmo integrou uma programação envolvendo aulas com Murilo Prado, apresentações artísticas e um público bem diverso, de diferentes origens e faixas etárias, na Estação Cultura no último domingo (28), para a alegria do DJ, cujo sonho é difundir cada vez mais a festa.
“Eu costumo dizer que é um ambiente familiar e acolhedor, um grande quilombo. Famílias são construídas. Amizades são construídas. O baile impacta diretamente na vida de muitos jovens, de muita gente que tem a sua vida transformada a partir do momento que pisa naquele lugar”, narra o artista.
Samba na rua
Performance da artista Carmen Luz traz passistas de Campinar para compor obra “Minas de Ouro” na Praça Bento Quirino
Marcello Ferreira
“Uma obra de arte pública”. É assim que a artista Carmen Luz define “Minas de Ouro”. O trabalho nasceu no Rio de Janeiro, mas em Campinas ganhou outros contornos com as passistas de escolas de samba da cidade.
Na performance, Carmen propõe tirar os estigmas e fetichismos sobre o corpo da mulher negra, recuperando a comparação popular entre “mulher” e “monumento”.
Para a curadora Maitê, este é um exemplo de como tornar o evento mais inclusivo e local.
Cultura ballroom
“O Grande Baile” será apresentado em São Paulo neste sábado
@nicfilmes
Apesar de estar presente como atividade paralela desde a edição passada, a cultura ballroom ganhou destaque na Bienal deste ano, não apenas em Campinas, mas também na programação paralela em São Paulo.
🔍Ballroom é uma cultura e movimento artístico, político e social, criado por pessoas LGBT+ negras e latinas nos Estados Unidos, especialmente nas décadas de 1960 e 1970, como resposta à exclusão social. Esse movimento se manifesta em festas chamadas “balls”, onde pessoas de “houses” (casas/famílias escolhidas) competem em diferentes categorias de moda, beleza e dança, como o voguing.
A programação contempla a instalação “Cosmologias Ballroom”; a oficina “Fervo em Foco: corpo, escuta e presença na fotografia dos bailes”, que ensina como a fotografia pode ser uma ferramenta de visibilidade para a comunidade; um encontro com a Legendary NYC Mother Jonovia Lanvin, produtora americana de cinema e televisão, transgênero, figura-chave nas comunidades house ballroom; e Grande Baile, apresentado pela Casa Odara.
Com duração de seis horas, o baile acontece no Sesc Campinas, neste sábado (4), a partir das 17h. Em uma mistura de funk com brilho carnavalesco, as performances serão avaliadas em categorias como figurino, runway (desfile), vogue performance, entre outras.
“Eu acho que é importante a gente olhar, quando a gente fala sobre diversidade, sobre a presença LGBT, sobre a ballroom, a gente está falando sobre a contemporaneidade, e o quanto esses corpos emergentes estão produzindo dança contemporânea nos dias de hoje”, ressalta o curador Flip Couto.
Serviço – 14ª Bienal Sesc de Dança
Data: de 25 de setembro a 5 de outubro
Ingressos: a partir de R$12 pelo site do Sesc
‘Em Cena’: Bienal da Dança ocorre no centro de Campinas na tarde deste sábado (27)
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