Goiana participa de ação humanitária que realizou mais de 2 mil atendimentos
Bonito e transformador. É assim que a dentista Rachel Di Batista, de 44 anos, descreve o período em que realizou o trabalho humanitário no Campo de Refugiados de Dzaleka, no Malawi, país do sudeste da África. Ela foi a única goiana em um grupo de profissionais da saúde que realizou mais de 2 mil atendimentos médicos de diversas especialidades e mais de 70 cirurgias em setembro de 2025.
Rachel relatou ao g1 que o grupo é composto por voluntários do Brasil inteiro e que não conhecia nenhum dos profissionais que estiveram com ela no campo de refugiados. A ação é parte de um projeto da ONG Fraternidade Sem Fronteiras.
“Eu fui para doar e para servir. Achei que foi uma experiência muito transformadora ver a diferença que você faz na vida da pessoa. Acho que outras pessoas também iam gostar de fazer”, contou.
As viagens de Goiânia até chegar ao campo de refugiados no Malawi duraram mais de 15 horas, contabilizou Rachel . Ela saiu da capital goiana, passou por Joanesburgo, na África do Sul, e depois viajou para Lilongwe, capital do Malawi, onde pegou um transfer até o campo de refugiados.
Quando decidiu ir para o Malawi, Rachel já conhecia o trabalho e era madrinha dos projetos da ONG. Além disso, ela contou que já fazia trabalho voluntário, como realizar palestras de prevenção em regiões periféricas.
Entretanto, Rachel sempre teve o sonho de realizar um trabalho voluntário em lugares com maior vulnerabilidade social e econômica. “O que me motivou foi poder fazer a diferença na vida das pessoas, poder servir, ser útil”, afirmou.
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Arquivo pessoal de Rachel Di Batista
Voluntários custeiam atendimentos e cirurgias
Além dos custos da própria viagem, Rachel relatou que os voluntários também custeiam todo o material necessário para realizar os atendimentos e as cirurgias. “Nós somos todos voluntários. Cada um pagando seu custo, pagando a estadia, pagando as passagens, pagando tudo, no sentido de oferecer ajuda em um campo de refugiados”, explicou.
Os profissionais tiveram que enfrentar diversas dificuldades para atender os refugiados no país africano, segundo a dentista.
“O campo de refugiados não tem água, não tem esgoto, não tem energia. Mas o que choca são as pessoas vivendo nesse cenário trágico, a alegria delas, uma fé inabalável, a resiliência, a empatia, a coragem e a força”, declarou.
Dificuldades
A dentista relatou que exercer a profissão em um campo de refugiados oferece muitas limitações e dificuldades pela falta de estrutura típica de consultórios odontológicos. Para atender aos pacientes, a equipe montou um consultório adaptado.
“A gente trabalha em quatro cadeiras, uma pessoa coladinha com a outra. O paciente cospe em um balde, porque não tem tubulação”, descreveu. Os atendimentos eram, na maior parte, para solucionar dores de dente e doenças periodontais como gengivite e tártaro.
Refugiados
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Arquivo pessoal de Rachel Di Batista
A dentista contou que um dos atendimentos que mais a marcou no campo de refugiados foi uma extração de dente em uma paciente. Ela conta que, como profissional de saúde, às vezes fica chateada por tirar o dente da frente de um paciente para colocar implante. Quando acontece, o paciente costuma pedir para colocar uma máscara.
Entretanto, a paciente que atendeu no Malawi era uma das poucas que tinha celular e pediu para tirar uma foto ao terminar o procedimento. “Quando tirei a foto da paciente sorrindo, com um buraco na frente, com o celular dela. Depois, ela ajoelhou e falou assim: ‘Eu posso fazer uma oração para você? Obrigada por você ter tirado minha dor’, relatou.
Volta para o Brasil
Rachel declarou que realizar o trabalho voluntário no Malawi a transformou e que agora se sente mais motivada para trabalhar. Ela contou que, ao voltar, pensava que estaria tudo feito, mas agora pretende voltar para o campo de refugiados e poder ajudar mais.
“Quero incentivar outras pessoas a irem, meus colegas de profissão, outros médicos a irem em outras caravanas e levar o seu trabalho e se doar”, incentivou.
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Arquivo pessoal de Rachel Di Batista
Ação humanitária na África
Segundo a ONG Fraternidade Sem Fronteiras, Rachel estava entre os 33 profissionais de saúde que participaram da Caravana da Saúde, parte do projeto Nação Ubuntu, no Malawi. Entre os profissionais na caravana, havia médicos, dentistas, enfermeira e farmacêutico. Ainda segundo a ONG, o campo de refugiados abriga quase 60 mil pessoas refugiadas, sendo a maior parte composta por mulheres e crianças.
O projeto Nação Ubuntu é realizado no Malawi desde 2018, ao lado do campo de refugiados de Dzaleka. De acordo com a ONG, o trabalho visa acolher os refugiados de guerra, oferecendo oportunidades para mudar as histórias de vida de crianças, jovens e toda a população de refugiados em situação de extrema vulnerabilidade.
A ONG Fraternidade Sem Fronteira tem sede em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e atua em 77 polos de trabalho espalhados por nove países. A ONG oferece alimentação, serviços de saúde, formação profissionalizante, cultivo sustentável e construção de casas.
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