Das 1,69 milhão de vagas com carteira assinada criadas em 2024, 75% eram
Divulgação
beneficiários do Bolsa Família e outros 395 mil (23,4%) pertenciam ao CadÚnico, mas não recebiam o benefício – Foto: Roberta Aline/ MDS
Em 2025, o Brasil voltou a ocupar lugar de destaque no cenário internacional ao sair do Mapa da Fome da FAO/ONU, registrando menos de 2,5% de subalimentação entre 2022 e 2024. Esse marco não surgiu por acaso. Foi sustentado por políticas públicas robustas, entre elas o Bolsa Família, programa que se tornou sinônimo de proteção social e porta de entrada para a autonomia financeira de milhões de brasileiros.
Mais de 19,19 milhões de famílias em todo o país recebem hoje o benefício, que tem valor médio de R$ 671 e representa um investimento mensal de R$ 12,8 bilhões. Além do alcance, o diferencial está no foco: o programa prioriza crianças, gestantes e nutrizes, garantindo que a renda seja acompanhada de condicionalidades em saúde e educação.
Priscila Taveira, que contou por 10 anos do Bolsa Família, hoje trabalha na Casa da Cidadania de Careiro da Várzea (AM).
Vitor Vasconcelos/Secom
Se no início o Bolsa Família foi alvo de críticas como política “assistencialista”, os números recentes desmentem essa visão. Em 2024, 75,5% das vagas de emprego formal criadas no país foram preenchidas por beneficiários do programa. No primeiro semestre de 2025, o índice subiu: 80% das novas vagas ficaram com pessoas inscritas no CadÚnico, sendo 711.987 ocupadas por beneficiários diretos do Bolsa Família.
Esses dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que o programa não é um ponto final, mas sim um trampolim.
O movimento é expressivo: em 2024, 1,3 milhão de famílias saíram do Bolsa Família por aumento de renda. Em julho de 2025, outras 1 milhão de famílias deixaram o programa, sendo 536 mil após concluir os 24 meses da Regra de Proteção, mecanismo que garante metade do valor do benefício por até dois anos durante a transição para o mercado formal.
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, comemora: “Isso mostra que o Bolsa Família vai além da assistência imediata, sendo uma ferramenta de transformação social, que permite que milhões de famílias aumentem sua renda e conquistem uma vida mais digna e independente”.
Jaqueline Sousa, de 38 anos, moradora do Riacho Fundo, no Distrito Federal, é prova disso. Depois de anos contando com apoio do Bolsa Família, ela pediu o desligamento do programa porque, hoje, conta com renda do emprego conquistado na Fundação Oswaldo Cruz. A ex-beneficiária trabalha com carteira assinada organizando a participação de diversos setores da sociedade em eventos públicos. “Estou aqui hoje trabalhando com uma equipe maravilhosa, um trabalho excelente, que eu amo, que é trabalhar com os movimentos, com as pessoas em situações diversas do nosso país. Estou feliz por ter passado por esse processo e chegar até aqui. A tendência agora é trabalhar mais, me capacitar mais, estudar mais ainda, para a gente dar continuidade e servir como exemplo para os nossos filhos e para o nosso país”, diz Jaqueline.
Quem também celebra o apoio que recebeu por 10 anos do Bolsa Família é Priscila Taveira, de 21 anos, moradora de Careiro da Várzea (AM). Atualmente, ela trabalha na Casa da Cidadania, onde pessoas que, como ela, fazem carteira de identidade, registro no CadÚnico e inscrição no programa. “O Bolsa Família durante dez anos. Foi essencial em minha vida. A bolsa me ajudou até que eu conseguisse o emprego. Hoje trabalho na Casa da Cidadania com vários tipos de atendimento. É motivo de orgulho ter chegado aqui”, afirma.
Regra de proteção: segurança na transição
A chamada Regra de proteção é um dos pilares da nova fase do Bolsa Família. Criada para evitar que a família perca o benefício de forma abrupta, ela mantém 50% do valor por até 12 meses para novos ingressantes a partir de julho de 2025 (com renda per capita de até R$ 706). Quem entrou até junho mantém o prazo antigo de até 24 meses.
Esse mecanismo é considerado estratégico para consolidar a autonomia financeira das famílias, reduzindo o risco de retorno à pobreza. Caso a renda caia novamente, há ainda a possibilidade de retorno automático ao programa, sem necessidade de enfrentar a fila de espera.
Como funciona o Bolsa Família hoje?
O programa atende famílias com renda mensal per capita de até R$ 218, desde que inscritas no Cadastro Único (CadÚnico). A cesta de benefícios é formada por parcelas complementares, que variam de acordo com a composição familiar:
• Renda de Cidadania (BRC): R$ 142 por pessoa;
• Complementar (BCO): garante mínimo de R$ 600 por família;
• Primeira Infância (BPI): R$ 150 por criança de 0 a 6 anos;
• Variável Familiar (BVF): R$ 50 adicionais para gestantes, nutrizes e adolescentes de 7 a 18 anos.
Além da renda, há exigências que conectam o benefício ao futuro: frequência escolar mínima de 85% para crianças de seis a 15 anos e de 75% para jovens de 16 e 17 anos, além do acompanhamento nutricional e da vacinação.
Referência global
O Bolsa Família se consolidou como política de Estado. Reconhecido como um dos programas mais eficazes de transferência de renda do mundo, é estudado e replicado em fóruns internacionais como o G20 e a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Internamente, o impacto é visível: além de garantir comida na mesa, o programa pavimenta caminhos para estudo, trabalho e dignidade.