Do vanádio ao níquel: BA investe em pesquisa para alavancar mineração sustentável e inclusiva


Bahia se destaca com investimento em pesquisa para alavancar mineração sustentável
Líder no Nordeste e terceiro maior produtor mineral do Brasil. Essas são algumas das marcas que colocam a Bahia como destaque no setor da mineração no país e na América Latina.
💎 É na Bahia, por exemplo, onde existe a única produção de níquel sulfetado a céu aberto da América Latina. A estrutura fica na Mina Santa Rita, da Atlantic Nickel, em Itagibá, cidade a 370 quilômetros de Salvador.
O mineral é utilizado para fazer baterias elétricas, incrementar a produtividade de lavoura e diminuir a ocorrência de doenças como a ferrugem asiática, além de melhorar a sustentabilidade da atividade agrícola.
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Operações da mina Santa Rita, que fica na cidade de Itagibá, no sudoeste da Bahia
Divulgação/Atlantic Nickel
💎 Em Maracás, município no sudoeste da Bahia, funciona a única mina que produz vanádio na América Latina. A matéria-prima pode ser usada em indústrias de aços especiais nas áreas de óleo, gás, materiais cirúrgicos, turbinas eólicas e ferrovias de alta velocidade. Para especialistas, o elemento é necessário na transição mundial para um futuro de baixo carbono.
A mina da empresa canadense Largo Inc fez com que o Brasil — historicamente um importador do desse metal — figurasse entre os produtores do elemento. Atualmente, o depósito nacional responde por 8% da demanda mundial.
Operação de vanádio em Maracás, na Bahia
Largo Resources
💎 A Bahia também é responsável pela única produção de urânio do Brasil. As duas principais aplicações do mineral enriquecido são como combustível para usinas nucleares e em reatores nucleares que operam navios e submarinos.
Segundo as Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Caetité, também no sudoeste do estado, se encontram recursos minerais estimados em 87 mil toneladas de urânio. Nessa área já foram identificadas mais de 38 anomalias (áreas de grande concentração de urânio), por isso a região é denominada Província Uranífera.
Mina de urânio em Caetité, na Bahia
Reprodução/Fantástico
Investimento nas pesquisas
Os números que colocam a Bahia em posição de destaque no setor da mineração podem ser explicados a partir do investimento em pesquisas. Segundo a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), o estado é o que mais investe em pesquisa mineral no país e é líder nacional na produção de 18 substâncias minerais.
Em conversa com o g1, a geóloga Rejane Luciano, doutora em Geociências e Meio Ambiente da Universidade Federal da Bahia (Ufba), contou que o trabalho é desenvolvido por três órgãos:
a Universidade Federal da Bahia, com curso de geologia;
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, que pesquisa, desde sua origem, a geologia e os potenciais econômicos dos recursos minerais do estado;
Serviço Geológico do Brasil, que trabalha em parceria com a CBPM e com a Ufba.

“Esses três vêm fazendo, ao longo das últimas cinco décadas, esse levantamento básico da geologia, do que tem no estado, quais são os tipos de rocha, quais são os potenciais dessas rochas, o que é que a gente pode extrair dessas rochas.”, pontuou Rejane.
“Então, acho que é um conjunto de fatores que vem trazendo esse conhecimento para que nesses últimos anos a gente tenha conseguido de fato extrair o potencial econômico do Estado”.
O presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, Henrique Carballal, acredita que sem conhecimento geológico, não há mineração responsável, nem desenvolvimento sustentável.
“Pesquisa mineral é ciência, ciência é conhecimento e o conhecimento é a base de todo esse processo. Investir significa transformar o potencial do nosso subsolo em oportunidades concretas, emprego, renda e qualidade de vida para a população”.

Nos últimos anos, a CBPM tem se dedicado a pesquisas que não apenas revelam novas reservas, mas que também abrem caminhos para projetos fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico da Bahia.
➡️ Conforme Henrique Carballal, uma dessas pesquisas é Projeto Ferro Verde, desenvolvido em parceria com a Brazil Iron, que contribui de forma decisiva para a descarbonização da indústria siderúrgica brasileira.
➡️ “Temos também o Projeto Irecê, em parceria com a Galvani, que tornará a Bahia independente da produção de fertilizantes fosfatados e garantirá que o estado atenda até 30% da demanda das regiões Norte e Nordeste do país”, contou.
➡️ O presidente da CBPM ainda citou o projeto Brasil Transparente, desenvolvido em parceria com a Homerun Brasil, que pretende instalar na Bahia a primeira fábrica de vidro solar fora da China, utilizando a areia silicosa de Belmonte, no sul do estado, para a produção de painéis fotovoltaicos de alta performance.
Sustentabilidade e inclusão
Além das pesquisas, Rejane Luciano aponta a diversidade geológica como fator preponderante na produção mineradora baiana. Como ela ressalta, o estado tem rochas “que datam da formação dos primeiros continentes” até rochas que estão sendo formadas atualmente.
Em meio a isso, cresce a demanda por uma mineração considerada sustentável e inclusiva. “Desde a colonização até os dias de hoje, a mineração sempre foi vista como algo ruim em função mesmo da nossa história em relação à mineração, de que os portugueses vieram, extraíram e levaram tudo e a gente só ficava com os prejuízos dessa extração”.
No entanto, a doutora em Geociências e Meio Ambiente ponderou que é preciso pensar que os recursos minerais são a base para a vida. Por isso, é necessário esclarecer que há formas de fazer extração de recursos minimizando ao máximo os impactos que a atividade pode gerar.
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Veja abaixo algumas medidas que podem ajudar na mineração sustentável e inclusiva ⬇️
Quijilas trabalhando em Pindobaçu.
Divulgação/CMB
🌿 Minimizar os impactos a serem causados no meio ambiente
📚 Educar as pessoas das comunidades e da própria mina a provocar o mínimo impacto possível durante o trabalho
⛰️ Incentivar a manter e cuidar do meio ambiente (não promover caça e desmatamento ilegais, cuidar dos recursos naturais, evitar poluir rios, por exemplo)
👨🏽‍🎓 Promover especialização para a comunidade poder trabalhar nessas indústrias, aumentando a qualidade de vida
Vetor essencial na economia
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e do Sumário Mineral da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), a mineração baiana foi responsável por 4,75% do faturamento nacional registrado no primeiro trimestre deste ano, que foi de R$ 73,8 bi.
Entre janeiro e junho deste ano, o estado faturou R$ 6,8 bilhões. O número é 33,3% maior do que o mesmo período de 2024, quando o estado teve um faturamento de R$ 5,1 bilhões.
Ainda no primeiro semestre deste ano, a mineração baiana arrecadou US$ 754 milhões e importou US$ 36 milhões. O resultado foi a contratação de novos 367 empregos diretos.
Especialistas apontam que a construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) é uma “esperança” para impulsionar mais ainda os números.
“Um dos grandes gargalos da mineração do país hoje é infraestrutura. A gente não escolhe aonde o recurso mineral vai estar. Ele acontece onde a geologia permitiu. E geralmente eles ocorrem em lugares remotos, né? Cuja infraestrutura é um gargalo”, analisa a geóloga Rejane Luciano.
“Melhorar a infraestrutura para dar vazão para escoar esse bem é um dos pontos críticos”, recomenda.
Trecho 1 da Ferrovia Oeste-Leste
BRAMIN
A primeira etapa da obra foi suspensa com 75% do projeto concluído, em abril deste ano. Ao g1, a Bahia Mineração (Bamin), responsável pela construção, informou que o contrato das obras segue suspenso e que até o momento, o Grupo ERG, de quem é subsidiária, investiu mais de R$ 784 milhões na ferrovia, desde o início da concessão em 2021.
A Bamin acrescentou ainda que os serviços de manutenção estão mantidos e todas as obrigações socioambientais relacionadas ao Projeto Integrado Pedra de Ferro continuam sendo executadas. A empresa disse que a ERG permanece em busca de investidores que possam apoiar a implantação do projeto.
“Se a gente pensar na Fiol, a Ferrovia Oeste-Leste, ela atenderia não apenas a mineração, mas também a indústria agropecuária, as pequenas indústrias da região, os pequenos fornecedores do entorno e atenderia demandas das cidades vizinhas à Fiol, do transporte de carga e outras coisas”, estima a geóloga.
“Tirando essa carga das rodovias, a gente alivia esse fluxo nas rodovias, melhora a qualidade e transporta os minérios via ferrovia, cujo custo e as possibilidades de acidente são menores”.
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