Dois acidentes com trens na mesma semana reforçam alerta sobre riscos e imprudência nas linhas férreas


Na mesma semana, dois acidentes envolvendo trens chamaram a atenção no Brasil.
Reprodução/Fantástico
Na mesma semana, dois acidentes envolvendo trens chamaram a atenção no Brasil. Em Araraquara (SP), um caminhão atravessou a linha férrea e provocou o descarrilamento de 14 vagões. Em Vassouras (RJ), outro caminhão foi atingido ao tentar cruzar os trilhos e ficou destruído.
As imagens impressionam pela força das composições. Em Araraquara, a carga de milho ficou espalhada pelos trilhos. Em Vassouras, a cabine do veículo por pouco não foi atingida em cheio. Apesar da gravidade das cenas, ninguém morreu. Os dois ocupantes do caminhão no Rio tiveram apenas ferimentos leves.
Em Araraquara, a carga de milho ficou espalhada pelos trilhos.
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Colisões desse tipo não são raridade. Câmeras de segurança flagraram pedestres distraídos, ônibus estacionados sobre a linha e motoristas que acreditam que “vai dar tempo” de atravessar. Na maioria das vezes, não dá. O risco atinge não só quem tenta cruzar, mas também os maquinistas e toda a comunidade em volta da ferrovia.
O Fantástico acompanhou de perto a rotina desses profissionais em Minas Gerais. Adriano Figueiredo é maquinista há 21 anos. Ele conduz sozinho trens que podem ter até 1,5 km de extensão.
“Os computadores dão informação de relevo e sinalização, mas se eu passar mal, o alertor aciona os freios e o trem para”, contou.
A física, porém, não dá margem a erros. Um trem carregado pode pesar até 18 mil toneladas. Para parar, é preciso acionar o sistema de freios com pelo menos um quilômetro de antecedência.
“Depois que aplico a emergência, viro passageiro da situação. O trem percorre muitos metros. É impossível evitar alguns acidentes”, disse Adriano. Ele já esteve em duas colisões — uma delas com vítima fatal. “Mesmo sem culpa, o sentimento de tristeza fica por meses.”
Em Curitiba, o consultor de negócios Maurício Silveira sobreviveu a um choque parecido em julho deste ano. Ele estava dentro de um ônibus biarticulado que atravessou a linha férrea no momento da passagem do trem.
“Quando coloquei os dois pés na sanfona, o trem bateu e levou tudo que estava na minha frente. Fiquei pendurado com metade do corpo para fora. Foi um grande susto”, relatou.
O Fantástico acompanhou de perto a rotina desses profissionais em Minas Gerais.
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O que dizem as investigações
As investigações sobre os acidentes desta semana ainda estão em andamento. A concessionária Rumo, responsável pelo trecho em Araraquara, informou que o caminhão desrespeitou a preferência do trem e atravessou uma passagem em nível devidamente sinalizada.
Já a MRS, que administra a linha em Vassouras, lamentou o ocorrido e reforçou a importância de redobrar a atenção dos motoristas. A defesa dos ocupantes dos caminhões não foi localizada.
O Brasil tem cerca de 30 mil quilômetros de linhas férreas, por onde passam 20% da produção nacional de grãos, minérios e combustíveis. Levantamento da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) mostra que 75% dos acidentes são causados por interferência de terceiros — ou seja, imprudência de pedestres e motoristas.
“Cada vez que um trem para, há prejuízo para a concessionária e para o país. Mas o maior prejuízo é sempre para a sociedade, para as vidas em risco”, afirmou Davi Barreto, presidente da ANTF.
O diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Guilherme Theophilo, reforçou: “Mais de 70% dos acidentes têm origem em falhas de terceiros: pressa, distração, imprudência. O trem tem a preferência, mas nada é mais importante que a vida.”
Enquanto isso, os maquinistas seguem enfrentando sustos diários. “É comum ver pedestres arriscando até o último segundo. Já precisei acionar a emergência por causa de um atropelamento iminente. O risco é constante”, disse Adriano durante a viagem com a equipe do Fantástico.
A recomendação de especialistas e autoridades é simples: ao se aproximar de um trilho, três passos são fundamentais — pare, olhe e escute.
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