Donos de ‘achadinhos’ faturam até R$ 100 mil por mês com perfis anônimos
No Instagram, eles parecem perfis despretensiosos: nada de selfies, sem vida pessoal, apenas uma sequência infinita de vídeos curtos com produtos que você nem imaginava precisar.
Mas, por trás de contas com nomes como “achadinhos”, “armarinhos” e tantos outros, existe um negócio milionário💰.
Pessoas comuns — de donas de casa a pequenos empreendedores —, usam programas de afiliados de grandes marketplaces (plataformas que reúnem diversos vendedores em um só espaço) para transformar cliques em renda. E não é exagero: alguns chegam a faturar mais de R$ 100 mil por mês apenas recomendando produtos.
Mike Felipe é um exemplo. Sem mostrar o rosto e trabalhando de casa, começou com um perfil no Instagram e links da Shopee. Em menos de três anos, conquistou mais de 370 mil seguidores.
Nessas páginas, ele apresenta produtos e recebe uma comissão por cada venda realizada. Por mês, ele chega a faturar mais de R$ 100 mil, somando ganhos em plataformas como Shopee, Magalu, Mercado Livre, Amazon, Natura e Beleza na Web.
O negócio cresceu tanto que Mike abriu uma microempresa com cinco funcionários. Ainda assim, mantém uma postura discreta: não aparece nos vídeos, não faz transmissões ao vivo e não se identifica como influenciador.
“Nunca tive esse sonho de ser famoso. Sempre fui reservado”, diz.
Mike Fernandes fatura mais de R$ 100 mil anunciando produtos em seus perfis de achadinhos
Mike Fernandes/ Arquivo Pessoal
Como o anonimato não é negociável para Mike, ele contrata influenciadores por meio de plataformas especializadas para manter a produção de conteúdo. A marca que criou, Achados Ninjas, tornou-se referência.
Lourenço Menezes também deixou a carreira para se dedicar integralmente ao marketing de afiliados. Seus perfis de “achadinhos” seguem o mesmo padrão: nada de fotos pessoais, apenas produtos.
A única exceção ao anonimato são as lives dentro das plataformas de marketplace, que impulsionam ainda mais as vendas. Hoje, Lourenço comanda uma agência com mais de 350 afiliados e fatura dez vezes mais do que quando trabalhava como assessor político.
Já Larisse Oliveira, nascida na zona rural do Ceará, mudou de vida com vídeos sobre produtos infantis e de beleza. Seus conteúdos viralizaram, e ela passou a faturar até R$ 20 mil por mês.
Com o dinheiro do marketing de afiliados, já comprou uma casa, um carro e matriculou a filha na melhor escola da região.
Um afiliado fatura, em média, cerca de R$ 2,4 mil por mês, segundo o Sebrae. Mas o valor pode ser maior.
Os ganhos variam bastante conforme o perfil: há donas de casa, estudantes, aposentados, pequenos empreendedores e até influenciadores que apostam nesse modelo. O que todos têm em comum? A busca por uma renda extra com baixo investimento e risco mínimo.
O sucesso desse modelo de empreendedorismo é tão grande que tem atraído não apenas quem busca uma renda extra, mas também as próprias marcas.
Plataformas como Magazine Luiza e Shopee, por exemplo, estão investindo cada vez mais em programas de afiliados, já que o formato amplia o alcance das vendas e fortalece a presença digital das empresas sem elevar tanto os custos.
O ‘Influenciador Magalu’, por exemplo, já conta com mais de 5 milhões de CPFs cadastrados e não exige número mínimo de seguidores.
O programa da Shopee é ainda mais acessível: basta criar links e compartilhá-los. No marketplace chinês, os afiliados podem até se tornar gerentes de outros afiliados, recebendo comissões adicionais sobre as vendas geradas.
Os superafiliados vão além: criam agências de comunicação, administram diversos perfis com milhões de seguidores e canais de contato, contratam influenciadores para produzir vídeos e investem fortemente em estratégias de SEO e otimização de algoritmos.
Afinal, quanto mais pessoas visualizam os conteúdos dos “achadinhos”, maiores são as chances de conversão em vendas.
“Diferentemente de abrir uma loja física, o afiliado não precisa de estoque, não tem custos fixos altos e só ganha se vender. É um risco baixíssimo”, explica William Almeida, gestor de mercado digital do Sebrae.
Essas facilidades ajudam a explicar o crescimento acelerado desse tipo de empreendimento. Ainda assim, é preciso manter os pés no chão: estudar o mercado, testar estratégias e buscar aprimoramento contínuo são passos fundamentais para quem deseja se destacar. Além disso, outro fator importante é estar atento aos riscos que esse mercado oferece. (Veja mais abaixo)
Ao longo desta reportagem, você vai conhecer histórias de afiliados bem-sucedidos, entender como funcionam os programas e as comissões em diferentes marketplaces. Também vai descobrir os erros mais comuns de quem está começando — e receber dicas práticas para se destacar nesse universo.
Veja abaixo:
🛒 Como funciona o marketing de afiliados?
📜Como surgiu este modelo de negócio?
👤 Qual o perfil dos afiliados?
💡 Estratégias que funcionam
🚀 Como se destacar (e evitar as armadilhas)
⚠️ Cuidados e planejamento
1. Como funciona o marketing de afiliados?
“Cabe no bolso e funciona”. A frase do gestor de mercado digital do Sebrae resume o apelo do marketing de afiliados no Brasil.
Em contraste com modelos tradicionais de negócio, esse sistema permite começar com custo quase zero, sem estoque, sem aluguel e sem burocracia.
“Você pode começar hoje, com o celular na mão”, reforça Almeida.
O funcionamento é simples: o afiliado se cadastra em uma plataforma, escolhe produtos para divulgar e compartilha links personalizados. Se alguém comprar por meio desses links, ele recebe uma comissão.
No Magalu, os valores variam de 2% a 12%, dependendo da categoria — móveis, por exemplo, oferecem margens maiores. Já na Shopee, a comissão pode chegar a até 30%, somando o valor pago pela plataforma e uma comissão extra oferecida pelo vendedor.
Ambas as plataformas oferecem suporte completo. O Magalu cuida da entrega, pós-venda e pagamento ao afiliado, mesmo quando a venda é feita por um vendedor do marketplace. A Shopee, por sua vez, disponibiliza uma Central do Afiliado com conteúdos educativos, treinamentos e suporte técnico.
As comissões são liberadas conforme o desempenho do afiliado. Após a confirmação da compra feita pelo link de divulgação, o valor é processado e depositado em até sete dias, prazo necessário para validação da venda pelo marketplace.
Com a crescente procura, o marketing de afiliados se consolida como uma expressão da chamada “economia digital acessível”, já que exige baixo investimento inicial e dispensa custos com estoque, equipe ou estrutura física.
Em um cenário onde o tempo online é cada vez mais valioso, transformar esse tempo em renda tornou-se uma realidade palpável para milhões de brasileiros.
Além disso, o marketing de afiliados também tem atraído empresas de tecnologia e performance digital. A Lomadee, por exemplo, atua como uma ponte entre anunciantes e afiliados, oferecendo uma estrutura que permite centralizar a divulgação de produtos de múltiplas marcas.
“Temos afiliados de perfis diversos em especial de profissionais que buscam diversificar suas fontes de receita sem depender exclusivamente de grandes marketplaces”, explica Hugo Alvarenga, sócio e CEO da Lomadee.
2. Como surgiu este modelo de negócio?
O marketing de afiliados começou a ganhar forma nos anos 1990, quando a Amazon lançou o primeiro programa do tipo. O funcionamento era direto: pessoas interessadas se cadastravam e passavam a divulgar os produtos da loja em seus próprios sites ou blogs.
Essa estratégia ajudava a ampliar a presença da marca na internet, aproveitando canais externos para alcançar novos públicos.
No Brasil, esse modelo começou a se desenvolver no final da década de 1990, acompanhando a popularização da internet.
As primeiras plataformas nacionais surgiram nesse período, entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000. Exemplos como a Lomadee e o Buscapé marcaram os primeiros passos do setor no país.
A partir de 2010, o mercado de afiliados passou por uma expansão acelerada, impulsionada principalmente pelo crescimento das redes sociais. Com mais pessoas produzindo conteúdo digital, o número de afiliados aumentou e a estratégia se diversificou.
Em 2023, o setor movimentou cerca de R$ 12 bilhões em vendas no Brasil, consolidando-se como uma ferramenta relevante no comércio eletrônico.
Com o amadurecimento do modelo, surgiram novas formas de remuneração além da comissão por venda.
Hoje, é comum que afiliados recebam por cliques em links, downloads de materiais digitais ou inscrições em eventos, o que amplia as possibilidades de atuação e monetização dentro do ecossistema digital.
3. Qual o perfil dos afiliados?
O perfil dos afiliados brasileiros é diverso e revela uma nova geração de empreendedores digitais.
Lourenço Menezes também deixou a carreira para se dedicar integralmente ao marketing de afiliados.
Lourenço Menezes/ Arquivo Pessoal
Segundo dados do Magalu, mais de 5 milhões de CPFs estão cadastrados em seu programa, com predominância de mulheres entre 30 e 40 anos. Já a Shopee aponta que 90% dos seus 5 milhões de afiliados começaram sua jornada digital por meio da plataforma, e 40% pretendem transformar os ganhos em renda principal.
Esses números ganham vida nas histórias de pessoas como Lourenço, que trocou o emprego fixo por uma agência com 350 afiliados.
Ele começou com um grupo no Telegram e, após meses de estudo e erros, aprendeu a atrair o público de forma estratégica. Hoje, sua renda mensal ultrapassa R$ 60 mil, e ele lidera um hub de afiliados dentro da Shopee.
Larisse saiu da zona rural do Ceará e encontrou no marketing de afiliados uma forma de mudar radicalmente sua realidade. Com vídeos simples e autênticos, usando sua própria voz e sotaque, ela viralizou nas redes e passou a faturar até R$ 20 mil por mês.
Mike, de São José dos Campos, construiu uma marca sem mostrar o rosto. Com formação em publicidade, criou a página “Achados Ninjas” e hoje fatura mais de R$ 100 mil mensais, atuando em múltiplas plataformas.
Essas trajetórias mostram que o marketing de afiliados deixou de ser apenas uma alternativa de renda e se tornou uma porta de entrada para o empreendedorismo digital brasileiro.
4. Estratégias que funcionam
Não é preciso ser influenciador para ter sucesso como afiliado. William Almeida, do Sebrae, aponta três pilares fundamentais: vender o que se conhece, começar pequeno e testar sempre. Essa abordagem prática tem sido adotada por quem se destaca no mercado.
Mike aposta em SEO, vídeos curtos e uma ampla variedade de marketplaces. Seus vídeos são simples, focados no produto e viralizam sem que ele precise aparecer.
Larisse usa sua própria voz e uma linguagem pessoal que cria identificação com o público. Já Lourenço investe em grupos de WhatsApp e lives como diferencial — chegou a fazer até 12 horas de transmissão em um único dia, tornando-se referência.
As transmissões ao vivo fazem parte das estratégias de social commerce — modelo que une redes sociais e comércio eletrônico.
A ideia é transformar a compra em uma experiência interativa, em que o consumidor vê o produto, conversa com o apresentador, tira dúvidas em tempo real e acompanha demonstrações práticas.
Essa dinâmica aproxima o público do vendedor e aumenta a confiança na hora da compra, o que se reflete diretamente nas vendas.
Vale pontuar que o afiliado bem-sucedido não depende de viralizações pontuais, mas sim de uma rotina de testes, ajustes e aprendizado contínuo. Como resume Almeida: “O segredo é testar, ver o que dá retorno e ajustar.”
Larisse Oliveira mudou de vida com vídeos sobre produtos infantis e de beleza.
Larisse Oliveira
5. Como se destacar (e evitar as armadilhas)
O caminho do afiliado é promissor, mas exige estratégia e resiliência. Lourenço aprendeu isso na prática: forçar vendas não funciona.
“O afiliado precisa despertar o desejo do comprador, não forçar”, resume.
Entre os erros mais comuns estão a falta de foco, o excesso de links, a cópia de conteúdos sem personalização e a desistência precoce. Para evitar essas armadilhas, é preciso entender que o marketing de afiliados exige disciplina, constância e propósito.
Mesmo com histórias de sucesso que impressionam, a maioria dos afiliados começa devagar. “Passei três meses para fazer R$ 50 de comissão”, relembra Lourenço.
Foi só depois de estudar o mercado, ajustar a forma de divulgação e entender o comportamento do público que começou a faturar entre R$ 1.500 e R$ 3.000 por mês — o suficiente para deixar o emprego fixo e viver só disso.
Por isso, as plataformas têm investido pesado em capacitação. O Magalu mantém um canal no Youtube com dicas e tutoriais gratuitos, enquanto a Shopee afirma ter treinado mais de 30 mil pessoas e aposta em programas como o “Indique e Ganhe”, que bonificam afiliados por trazer novos participantes, além de campanhas com cupons promocionais que ajudam a aumentar as conversões.
Larisse, que aprendeu tudo sozinha, resume bem o espírito desse novo empreendedorismo digital:
“É impossível vencer alguém que não desiste. A minha história é marcada por superações pessoais e profissionais. O sucesso não vem da sorte, mas da perseverança”.
6. Cuidados e planejamento
O marketing de afiliados oferece flexibilidade e potencial de ganhos, mas também traz riscos que exigem atenção, alerta Fábio Pina, da FecomercioSP.
A renda é instável e depende de campanhas, sazonalidade e mudanças nos algoritmos. Sem salário fixo, férias ou benefícios, o afiliado fica vulnerável a bloqueios de contas, falhas na entrega e aumento nos custos de anúncios.
Soma-se a isso a concorrência intensa e a dependência de plataformas: a entrada fácil no mercado eleva o custo de aquisição (CAC), e concentrar vendas em um único fornecedor ou canal aumenta o risco de perdas.
Para reduzir vulnerabilidades, planejamento financeiro é indispensável. A FecomercioSP recomenda manter uma reserva pessoal equivalente a seis meses de despesas e um capital de giro capaz de sustentar o negócio por três a seis meses.
Como o setor é sensível à economia — juros altos, inflação e crises reduzem vendas e margens —, ter caixa de segurança e diversificar produtos e canais ajuda a preservar receita.
Além disso, com a competição cada vez maior, não basta divulgar links: é preciso investir em marca, conteúdo e relacionamento para conquistar clientes e gerar fidelização.
Separar as finanças pessoais das empresariais e acompanhar métricas como CAC e LTV (que deve ser pelo menos três vezes maior) são práticas essenciais.
Segundo Pina, o marketing de afiliados deve ser encarado como complemento de renda e aprendizado, não como substituição imediata do emprego formal.
Abaixo, confira dicas da FecomercioSP para começar com segurança:
Faça a transição por etapas: só migre integralmente quando houver tração e reservas comprovadas.
Construa ativos próprios: como marca, lista de contatos e comunidade, para reduzir dependência de plataformas.
Controle métricas com disciplina: CAC, LTV e margem devem ser acompanhados diariamente ou semanalmente.
Diversifique produtos e canais: e busque receita recorrente para reduzir riscos.
Formalize a atividade: e planeje previdência e saúde antes da mudança.
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