Emissário Submarino de Ipanema completa 50 anos: veja como funciona a estrutura, que ainda gera debate ambiental


Emissário Submarino de Ipanema completa 50 anos: veja como funciona a estrutura, que ainda gera debate ambiental
Quem está na Praia de Ipanema não vê nada no horizonte. Mas sob as ondas e a até 40 metros de profundidade está uma das obras mais importantes do Rio de Janeiro no último século: o Emissário Submarino de Ipanema, que completa 50 anos.
Foi a primeira obra do tipo no Brasil, como mostrou nesta quinta-feira (25) a quarta reportagem da série sobre a qualidade da água em cartões-postais do Rio.
A tubulação, com 2,4 metros de diâmetro, começou a ser construída em 1971, ainda no antigo Estado da Guanabara, e foi inaugurada após a fusão com o Rio de Janeiro, em 1975. São 4,3 km que levam milhões de litros de esgoto diariamente para o oceano.
O canteiro de obras marcou a paisagem da época. O píer montado para instalar a tubulação virou ponto de encontro de jovens e até ajudou a formar ondas perfeitas, segundo surfistas da geração.
A construção durou quatro anos e projetava atender até 1,6 milhão de pessoas. Hoje, recebe o esgoto de cerca de 700 mil moradores do Centro e da Zona Sul.
Imagem aérea mostra o emissário submarino de Ipanema
Reprodução/RJ2
Como funciona
No trajeto até o emissário, o esgoto passa por 27 estações de bombeamento, chamadas elevatórias. Elas fazem o gradeamento inicial, que deveria reter resíduos sólidos.
Na ponta final do emissário, 178 difusores espalham 6 mil litros de esgoto por segundo, facilitando a mistura e diluição no mar.
Segundo o professor Paulo Cesar Rosman, especialista em Engenharia Costeira da UFRJ, a balneabilidade das praias da Zona Sul é garantida graças ao emissário. Ele pede, porém, um sistema que garanta um peneiramento mais eficiente para os resíduos sólidos.
“O esgoto bruto, sem nenhum tratamento, é mais de 99,5% água. O que precisa ser removido é o meio por cento restante. Se houvesse um peneiramento mais moderno, até 0,25 milímetro, o lixo sólido seria praticamente eliminado.”
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Trecho final do emissário de Ipanema forma uma espécie de recife artificial
Reprodução/RJ2
Com o tempo, a estrutura também se transformou em recife artificial. Caio Salles, gerente de Comunicação do projeto Ilhas do Rio, explica:
“Ele vai aglomerando vida. Você encontra peixes, cardumes. De certa forma, agrega vida marinha ao longo do caminho.”
Pier das obras do emissário nos anos 70
Reprodução/RJ2
Debate sobre melhorias
Uma lei estadual de 1996 obriga que todo emissário faça ao menos o tratamento primário do esgoto para reduzir a carga orgânica antes do lançamento no mar. Mas, como o emissário de Ipanema é anterior a essa legislação, a concessionária Águas do Rio não é obrigada a realizar esse serviço.
Já no emissário da Barra, inaugurado em 2007, a regra se aplica. No mês passado, a concessionária Iguá, responsável pela estrutura, recebeu a maior multa já aplicada pela agência reguladora do setor: R$ 124 milhões, por estar despejando esgoto bruto no mar há dois anos, enquanto uma obra de modernização não é concluída.
Por isso, especialistas afirmam que o emissário de Ipanema ainda precisa de ajustes. Nas Ilhas Cagarras, área de preservação ambiental próxima à saída do emissário, pesquisadores encontram resíduos.
O professor de Biologia Marinha da UFRJ, Rodolfo Paranhos, alerta: “O gradeamento é grosseiro e deixa passar coisas como cotonete, lâmias de barbear, preservativo, absorvente, fraldas e isso é muito encontrado no litoral, entre as ilhas. E é uma pena”.
Sinval Andrade, diretor institucional da Águas do Rio, explica que medidas complementares poderão ser tomadas para tornar o sistema mais eficiente.
17:03:55:14 a medida que nós tomamos foi atuar na fonte. então, lá nas elevatórias, a cada elevatória, a gente vem tentando barrar que esses sólidos cheguem até o destino final. evidentemente, a gente pode estudar maneiras complementares de instalação de novos gradeamentos em outros pontos pra ir tornando esse sistema cada vez mais eficiente.
Além de equipamentos mais eficientes, a conscientização da população é vista como fundamental.
Paranhos reforça: “[A população precisa se conscientizar” que o vaso sanitário é só para urina e fezes. Se conseguíssemos reduzir o descarte de resíduos indevidos, já seria um grande avanço. É um esforço de toda a população. O que não fizermos agora será cobrado em 5, 10 anos, em forma de poluição”.
Lixo perto da saída do Emissário Marinho de Ipanema
Reprodução/RJ2
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