Família afirma ter provas de que suspeito de envolvimento na morte de ex-delegado estava na Zona Sul de SP no dia do crime


Ex-delegado dirigia carro da esposa quando foi executado, o dele estava sendo blindado
A família de Flávio Henrique Ferreira de Souza, de 24 anos, investigado por possível envolvimento na morte do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, afirma que ele é inocente e estava no Grajaú, na Zona Sul da capital, no dia do crime.
Conhecido pelo trabalho de combate à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Ruy foi executado com tiros de fuzil em Praia Grande, no litoral paulista, em 15 de setembro. Durante uma emboscada, o ex-delegado foi cercado por três carros com ao menos seis criminosos.
Segundo a Polícia Civil, digitais de Flávio foram encontradas em um Jeep Renegade utilizado no crime. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “as investigações prosseguem para esclarecer as circunstâncias do crime e responsabilizar todos os envolvidos”. A Justiça decretou a prisão temporária do jovem, que está foragido (leia mais abaixo).
A mãe de Flávio, que prefere não ser identificada por medo de represálias, contou ao g1 que o filho trabalha como entregador autônomo e não possui antecedentes criminais. O jovem mora com a mãe e três irmãos mais novos no Grajaú e tem uma filha de 4 anos.
No dia do crime, uma segunda-feira, ele estava de folga e, segundo familiares, passou o dia no bairro com os amigos e a namorada.
Câmera de segurança flagrou Flávio Henrique caminhando pela Rua Carlos Sgarbi Filho
Arquivo pessoal
Câmeras de segurança e gravações feitas pela irmã registraram o jovem, de blusa azul, circulando pela Rua Carlos Sgarbi Filho em dois momentos: às 16h, caminhando com amigos; e às 18h30, empurrando o carro de um deles após pane na bateria. Veja abaixo:
Família de Flávio Henrique, suspeito de envolvimento no homicídio do ex-delegado, filmou o jovem com os amigos no Grajaú no dia do crime.
Montagem/g1/Arquivo pessoal
Às 18h16, o ex-delegado foi alvo dos primeiros disparos de fuzil em Praia Grande — a mais de 70 quilômetros do Grajaú. O trajeto entre os locais leva cerca de uma hora e meia de carro.
“Meu filho é uma pessoa de boa índole. Ele trabalha, acorda às 6h, ajuda a sustentar a casa. Calmo, não tem vício nenhum. Nunca teve passagem nem quando era menor”, afirmou a mãe.
Ela também declarou que Flávio não alugou imóveis nem esteve na Baixada Santista em 2025.
No fim de semana anterior ao homicídio, o jovem permaneceu no Grajaú com a filha, segundo a ex-companheira. Ela relatou que ele é “pai presente, um menino de ouro e de coração gigante”, e mostrou ao g1 conversas no WhatsApp que indicam que Flávio teria buscado a filha no sábado (13), às 17h, e ficado com ela até a noite de domingo (14).
Investigação
A SSP reforça, em nota, que “o homem citado teve a prisão temporária solicitada pelo Departamento de Homicídios de Proteção à Pessoa (DHPP) por suspeita de envolvimento no crime” e que o pedido foi acatado pelo Poder Judiciário.
Ainda não está claro como o material genético de Flávio foi parar no Renegade, furtado em março deste ano em um estacionamento na Cidade Dutra, também na Zona Sul.
A advogada Fátima Taddeo, que representa o jovem, disse que ainda não teve acesso ao inquérito e que “em momento oportuno se manifestará sobre as acusações”.
O crime
Ruy Ferraz Fontes durante evento da cúpula da Segurança Pública de SP em 30/11/2018
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO
Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral de São Paulo e secretário de Administração de Praia Grande, foi executado enquanto dirigia um carro na cidade. A polícia ainda não sabe a motivação do crime, mas trabalha com duas hipóteses.
Uma das linhas de investigação é a de que o ex-delegado foi assassinado pelo PCC por seu histórico de combate à facção, que comanda o tráfico de drogas no estado e já o ameaçou de morte.
O ex-delegado tinha 64 anos e foi um dos responsáveis pela prisão de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, uma das principais lideranças da facção criminosa.
A outra hipótese é a de que Ruy possa ter sido vítima de uma emboscada e morto pelo PCC em razão do seu trabalho como secretário da Administração em Praia Grande.
Até a última atualização da reportagem, a polícia já havia identificado oito pessoas por participação no homicídio do ex-delegado, dos quais quatro foram presos. Veja a lista:
Felipe Avelino da Silva (foragido), conhecido no Primeiro Comando da Capital (PCC) como Mascherano, teve o DNA encontrado em um dos carros usados no crime;
Flávio Henrique Ferreira de Souza (foragido), de 24 anos, também teve o DNA encontrado em um dos carros;
Luis Antonio Rodrigues de Miranda (foragido) é procurado por suspeita de ter ordenado que uma mulher fosse buscar um dos fuzis usados no crime;
Willian Silva Marques (preso e sem foto), dono da casa em Praia Grande de onde teria saído um fuzil que pode ter sido usado no crime, se entregou à polícia no domingo (21);
Dahesly Oliveira Pires (presa) foi presa na quinta (18) por suspeita de ser a mulher que foi buscar o fuzil na Baixada Santista;
Luiz Henrique Santos Batista (preso), conhecido como Fofão, está envolvido, segundo a polícia, na logística da morte do ex-delegado. Ele teria dado carona para que um dos criminosos fugisse da cena do crime e foi preso nesta sexta (19);
Rafael Marcell Dias Simões (preso), conhecido como Jaguar, foi preso neste sábado (20) após se entregar à polícia em São Vicente, no litoral;
Umberto Alberto Gomes (foragido), de 38 anos, digitais dele foram encontradas numa segunda casa usada pelos criminosos em Mongaguá.
Além dos oito suspeitos acima que tiveram as prisões decretadas, o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) também investiga se Fernando Gonçalves dos Santos, conhecido “Azul” ou “Colorido”, teve algum envolvimento no caso.
Ele é apontado como um dos chefes do PCC na Baixada Santista.
Conheça as linhas de investigação do assassinato do ex-delegado geral Ruy Ferraz Fontes

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